A hidra de Lerna
Λερναίην, ἣν θρέψε θεὰ λευκώλενος Ἥρη
ἄπλητον κοτέουσα βίῃ Ἡρακληείῃ.
καὶ τὴν μὲν Διὸς υἱὸς ἐνήρατο νηλέι χαλκῷ
Ἀμφιτρυωνιάδης σὺν ἀρηιφίλῳ Ἰολάῳ
Ηρακλέης βουλῇσιν Ἀθηναίης ἀγελείης.
O segundo dos 12 trabalhos realizados por Héracles sob as ordens de Euristeu foi acabar com a
hidra de Lerna (gr.
Sumário
A hidra era uma serpente aquática gigantesca e venenosa que aterrorizava a região de Lerna, Argólida, situada 10 km ao sul de Argos, perto da costa, na altura da parte norte do Golfo da Argólida. Essa área rica em fontes era pantanosa e, até o século XIX, possuía também um lago de água salgada.
A serpente era parte de uma família igualmente monstruosa: filha de Equidna e Tífon, tinha por irmãos Cérbero, o cão que
guardava a entrada do hades; Ortro, o cão do gigante Gérion; e a
Nas fontes iconográficas mais antigas, a hidra já contava com várias cabeças, mas a quantidade variava de acordo com a imaginação de autores e artistas; Alceu, por exemplo, conta que eram nove; Simônides, cinquenta; Eurípides, mil... Inicialmente, o perigo representado pela serpente decorria apenas do tamanho e das múltiplas cabeças; novos perigos foram acrescentados progressivamente, como o mortífero veneno de sua picada (Estesícoro), a capacidade regenerativa das cabeças cortadas (Louvre CA598, Eurípides), a imortalidade de uma delas ([Apolodoro]) e o hálito venenoso ([Higino]). Em geral, duas cabeças nasciam no lugar de cada cabeça cortada.
Em Lerna, junto à fonte Amímone, Héracles atacou a hidra com o auxílio de Iolau, filho de seu
Héracles teria derrotado a hidra com a espada, a clava e até mesmo com flechas, enquanto Iolau recorreu a uma
Héracles embebeu a ponta de suas flechas na bile (ou sangue) do monstro morto,
Arcaicas e clássicas: Hesíodo, Teogonia
Posteriores: Paléfato 38; [Eratóstenes], Catasterismos 11; Diodoro Sículo 4.11.5; Ovídio, Metamorfoses
Documentos iconográficos (seleção): Londres 1898,1118.1 e 1929,0513.1; Filadélfia
Variantes
Em algumas imagens, e.g. na arca de Cípselo e em Louvre CA598, Atena está presente durante a luta, mas a
Teogonia hesiódica (318) menciona apenas seus “desígnios” (ou “planos”). Valério Flaco
Segundo Platão, Héracles pediu a ajuda de Iolau por causa do caranguejo. Ptolomeu Quenos (apud Fócio, Biblioteca 190) informou que, segundo Aristonico de Tarento, a cabeça do meio era de ouro.
Hydra, a maior das 88 constelações conhecidas, vista quase totalmente no hemisfério sul, foi associada pelo escoliasta de Arato, Fenômenos 443 à hidra de Lerna, mas essa constelação tem, na verdade, origem babilônica.
[Apolodoro] conta que Euristeu
Influências e recepção
Este segundo trabalho, assim como o primeiro, tem nítidos antecedentes orientais: o deus sumeriano Ninurta, associado a Nippur e
Lagash, matou a muš-sag-imin, ‘serpente de sete cabeças’, em uma de suas aventuras, contada em um épico do final do
III milênio
No Período Greco-romano, eram celebrados em Lerna mistérios associados a Dioniso e a Deméter. O lago era considerado uma das
entradas do mundo dos mortos e a hidra, um dos guardiões da entrada do Tártaro. O odor fétido do Anigros, rio da Élida, era atribuído ao
veneno da hidra porque alguns centauros teriam lavado ali ferimentos causados pelas flechas de
Já na Antiguidade o mito era racionalizado em termos dos esforços da população local em tornar habitáveis e aráveis as terras
pantanosas de Lerna, o que provavelmente ocorreu desde a Idade do Bronze. Sérvio imaginou que as cabeças da hidra eram múltiplas nascentes
que irrompiam e inundavam a região, posteriormente controladas através de incêndios bem dirigidos. Paléfato, por outro lado, imaginou que
Héracles era um comandante militar enviado por Euristeu para conquistar uma poderosa fortaleza de Lerna intitulada
Representações artísticas do início do século
Nos últimos séculos, as obras artísticas mais notáveis são as de Antonio del Pollaiuolo (pintura, c. 1475); Giulio Romano (gravura, 1535);
Lucas Cranach (pintura,
Na literatura antiga, a hidra de Lerna é mencionada em tragédias de Sófocles (Traquínias), Eurípides
(Héracles, Íon) e Sêneca (Medeia, Hércules em
Fúria, Hércules no Eta); nos diálogos Fédon e Eutidemo, de Platão; e na Eneida de Virgílio, para citar apenas as
ocorrências mais importantes. Platão cita um provérbio, “nem Héracles pode lutar contra dois”, referência à ajuda que Iolau prestou ao herói. O
monstro certamente inspirou o dragão de sete cabeças e dez chifres mencionado no bíblico Apocalipse de [João], em
Durante a Idade Média ocidental, a hidra podia ser encontrada em
A hidra foi mencionada por Erasmo de Rotterdam (1525, Carta); Edmund Spenser (1590, Rainha das
fadas
As múltiplas cabeças da hidra
De 1965 em diante, diversas histórias em quadrinhos da Marvel Comics mostram uma organização terrorista fictícia, a Hydra, cujo mote é “se uma
cabeça é cortada, duas outras tomarão seu lugar”, o que evoca a resiliência da organização. E, em nossa língua, a expressão
“bicho-de-sete-cabeças”, coisa complicada e difícil,
Em vários filmes, desenhos animados e jogos para computador com temas mitológicos ou fantásticos, monstros com várias cabeças aparecem como poderosos inimigos enfrentados pelos personagens. Em 2009, a CineTel Films produziu um filme para TV a cabo (Hydra, dirigido por Andrew Prendergast) no qual o monstro enfrentado por Héracles volta a aterrorizar uma das ilhas do Mediterrâneo após um terremoto.
A forma latina Hydra identifica, finalmente, um gênero de pequenos animais invertebrados de água doce, quase sempre sésseis, com corpo
em forma de tubo e
Bibliografia
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