Um dos mais importantes gêneros literários legados pela Grécia Antiga; infelizmente, poucas tragédias chegaram até nossos dias.
Ésquilo, Sófocles e Eurípides
No formato estabelecido durante o século -V, a tragédia (gr. τραγῳδία,
lat. tragœdia) era alternadamente declamada e cantada em versos por atores em espaço especializado, o teatro (gr. θέατρον, lit. ‘lugar onde se vê’), em dias específicos de alguns festivais religiosos da pólis. Havia acompanhamento musical durante as partes cantadas.
As condições religiosas, sociais e políticas que permitiram a emergência
do gênero trágico podem ser situadas na segunda metade do século -VI: a
tragédia parece ter se desenvolvido a partir dos cantos corais apresentados nas festas
religiosas em honra de Dioniso e atingiu o apogeu em Atenas entre -480 e
-400, mais ou menos.
Do século -IV em diante, a tragédia entrou em declínio e só iria
recuperar parte de seu antigo esplendor dois milênios depois. As obras de
Shakespeare (1564/1616), de Racine (1639/1699) e de outros
autores são, no entanto, formas evoluídas da antiga tragédia grega.
Em sua forma mais pura, o gênero trágico subsiste na obra dos três grandes poetas atenienses, Ésquilo (-525/-456),
Sófocles (-496/-405) e Eurípides (-485/-406). Da maioria dos
outros poetas trágicos sabemos pouco mais do que o nome, o título e/ou enredo de algumas tragédias. Com poucas exceções, o enredo de todas as tragédias conhecidas se fundamenta nos grandes ciclos lendários da mitologia grega.
Das oitenta tragédias compostas por Ésquilo restam-nos, desgraçadamente,
apenas sete; das cento e vinte de Sófocles, temos igualmente apenas sete; dentre as
oitenta e tantas obras dramáticas de Eurípides, somente dezessete tragédias e um drama satírico
sobreviveram.
Dispomos também de numerosos fragmentos de obras perdidas dos três poetas e de outros tragediógrafos, tradicionalmente apelidados de “trágicos menores”.
Graças ao meticuloso trabalho de
dedicados eruditos, foi possível reconstituir parcialmente o enredo de muitas
tragédias e dramas satíricos, mas é como ler breve e incompleta nota de jornal sobre
uma representação trágica, sem nunca vê-la...
encenação moderna da tragédia
Édipo Rei de Sófocles
Por volta de 1600, os humanistas da Renascença tentaram recriar a tragédia clássica, em contraposição
aos madrigais e cantos polifônicos medievais. Não foram bem sucedidos, dada sua errônea percepção
de que os atores greco-romanos cantavam todas as suas falas, mas os esforços resultaram
no desenvolvimento da ópera[1], um gênero artístico “novo”.
Muitas tragédias gregas têm sido encenadas em palcos teatrais desde a Renascença e,
em especial, da segunda metade do século XIX em diante. Em Siracusa
e na Grécia atual, por exemplo, diversas tragédias antigas são produzidas e representadas todos os anos, com relativa fidelidade.
No Brasil, a encenação do Édipo Rei de Sófocles em 1967, sob a
direção de Flávio Rangel (1934-1988) e com os atores Paulo Autran (1922-2007) e
Cleide Yáconis (1923-2013), é um dos grandes marcos da dramaturgia nacional.