Os pomos de ouro das Hespérides

ἑνδέκατον ἐπέταξεν ἆθλον παρ´ Ἑσπερίδων χρύσεα μῆλα κομίζειν.

<Euristeu> impôs como décimo-primeiro trabalho trazer as maçãs de ouro das Hespérides.

O décimo primeiro trabalho de Héracles foi, provavelmente, o mais demorado e complicado deles.

miniatura Héracles no jardim das hespérides

Para levar a Euristeu os pomos de ouro das Hespérides, o herói teve que realizar numerosas façanhas paralelas: a derrota de Cicno, o convencimento de Nereu ou Tritão, a derrota de Anteu e de Busíris, a travessia na taça de Hélio (de novo?), a sustentação do céu.

Hera recebera de Gaia lindas maçãs (ou pomos) de ouro como presente de casamento e mandou plantá-las em seu jardim, no extremo Ocidente. As belíssimas hespérides e um feio e imortal dragão de cem cabeças (ou uma serpente, conforme a versão) guardavam as preciosas árvores.

Héracles foi incumbido de trazer a Euristeu algumas dessas maravilhosas maçãs de ouro e o herói precisou, antes de mais nada, descobrir a localização do jardim de Hera. Isso lhe deu mais trabalho do que o 11º trabalho em si: precisou ir para o norte da Grécia, depois para a Líbia, para o Egito, para a Arábia e para a Ásia Menor — e teve aventuras em cada um desses lugares.

Rumo ao norte, primeiro enfrentou e matou Cicno, filho de Ares (seu sobrinho, portanto), e a seguir teve que enfrentar o próprio Ares, seu irmão, que acorrera para vingar o filho [Ilum. 0470]. Héracles conseguiu ferir Ares, obrigando o deus a retirar-se para o Olimpo.

O herói encontrou as ninfas do rio Erídano (norte da Grécia), filhas de Zeus e Têmis, mas elas disseram que somente Nereu conhecia a localização do Jardim. Levaram-no a ele e Héracles precisou convencer o antigo deus do mar a dar a informação que necessitava [Ilum. 1369]. Algumas versões relatam que Héracles teve que lutar com ele [Ilum. 1371] ou precisou, antes, enfrentar Tritão [Ilum. 0823].

Dirigiu-se à Líbia, onde acabou com o gigantesco Anteu, filho de Posídon e Gaia, que desafiava e vencia todos os estrangeiros porque recebia, ao tocar o solo, a força da terra [Ilum. 0708]. Em algumas versões, Héracles estava com um pouco de pressa: simplesmente manteve Anteu suspenso acima do solo e o asfixiou.

Passou também pelo Egito e liquidou o rei Busíris, outro filho de Posídon, que costumava sacrificar os estrangeiros aos deuses para evitar a seca em seu reino [Ilum. 1244]. Detalhe interessante: como Busíris[1] era neto de , ilustre ancestral de Héracles, os dois eram parentes...

Por alguma razão que escapou aos mitógrafos, Héracles precisou atravessar o Oceano para chegar ao Cáucaso, e para isso convenceu o deus Hélio a lhe emprestar a taça que ele utilizava para cruzar o Oceano durante a noite, para começar a travessia do céu logo pela manhã [Ilum. 1174].

No Cáucaso, Héracles matou com uma flecha a águia que devorava diariamente o fígado de Prometeu e libertou-o das correntes que o prendiam. Agradecido, Prometeu sugeriu que, ao invés de buscar pessoalmente as maçãs, deveria pedir a seu irmão Atlas que o fizesse.

Neste ponto há grande divergência entre os mitógrafos. Uma versão da lenda conta que Héracles encontrou o Jardim no extremo Ocidente e fez o dragão adormecer (ou matou a serpente), e as hespérides deram-lhe as maçãs de ouro [Ilum. 0435]. Outra versão, igualmente muito contada, relata que Héracles conseguiu as maçãs com a ajuda de Atlas, conforme os conselhos que recebera de Prometeu. E enquanto Atlas estava no Jardim colhendo maçãs, Héracles teria ficado em seu lugar, sustentando o céu... [Ilum. 0214]

Héracles finalmente regressou a Micenas, mostrou as maçãs de ouro a Euristeu e entregou-as a Atena, pois eram propriedade de Hera. Atena encarregou-se de recolocá-las no Jardim das Hespérides.

Pseudo-Apolodoro (2.5.11). Em andamento...

Variantes

 

Influências

O encontro de Héracles e Busíris inspirou discursos de Polícrates e Isócrates, um drama satírico de Eurípides e comédias de Epicarmo, Cratino, Antífanes, Efipo e Mnesímaco. Temos apenas o discurso de Isócrates na íntegra; das outras obras restam apenas fragmentos. Diversos vasos de figuras negras [Ilum. 1244] e de figuras vermelhas [Ilum. 1245] retratam o episódio.