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Os doze trabalhos de Héracles

Esta parte do Portal é dedicada ao mais fervoroso fã dessas grandes aventuras de Héracles: meu neto Vicente.

Compelido pelo Oráculo de Delfos a servir seu primo Euristeu, rei de Micenas, Héracles efetuou 12 extraordinárias e perigosas façanhas determinadas por ele.

Sumário

Desde a Odisseia (11.620-6), sabemos que Héracles realizou muitas e “árduas tarefas” a mando de seu primo Euristeu. Na Teogonia (950-5), Hesíodo especifica que Héracles realizou “lamentosas façanhas”, “grandes trabalhos” que lhe valheram, posteriormente, a imortalidade.

Talvez Pisandro tenha contado todos os feitos do herói em sua Heracleia[1], mas o conceito de um grupo fechado de “12 trabalhos” (gr. δωδέκαθλος) parece tradição mais recente, provavelmente datada das primeiras décadas do século -V.

A vinculação desse grupo de façanhas a Euristeu, por outro lado, decorre de tradições bem mais antigas. A Ilíada e a Odisseia revelam que a subordinação do herói a ele, um homem “muito inferior”[2], foi consequência do engano cometido por Hera contra Zeus por ocasião do nascimento de Héracles.

miniatura Héracles e Euristeu

Os mitógrafos não explicam, porém, a razão específica de Héracles ter realizado uma dúzia de perigosas tarefas para Euristeu. Eurípides menciona que Hera pode ter instigado um compromisso entre Euristeu e Héracles que possibilitaria a volta do herói e seus familiares a Argos, mas também aventa a possibilidade de se tratar de simples afronta ou crueldade[3]. A conhecida história da penalidade imposta a Héracles pelo Oráculo de Delfos depois da morte da esposa e dos filhos foi contada por [Apolodoro] muitos séculos depois da Ilíada, mas pode certamente refletir tradições anteriores sobre a necessidade de Héracles cumprir as perigosas ordens de Euristeu[4]. Paniassis menciona a ida de Héracles ao Oráculo de Delfos, mas não dá nenhum detalhe sobre a finalidade da visita, pelo menos no curto fragmento que chegou até nós”.[5]

Tanto Diodoro Sículo quanto [Apolodoro] mencionam que o Oráculo informou Héracles que a realização dos “trabalhos” era um caminho para sua apoteose, i.e., um meio de ganhar a imortalidade. Note-se que a palavra grega

Ilíada ; Odisseia ; Hesíodo, Teogonia ; Paniassis F 2; hino Homérico 15.4-5; Eurípides, Héracles 17-21 e Heráclidas 953.; [Apolodoro] 2.4.12-2.5.1;

O estabelecimento do cânone

As façanhas de Héracles eram, com alguma frequência, mencionadas em agrupamentos de composição e tamanho variados. Na Ilíada (14.250-6), por exemplo, uma aventura em Troia e outra na ilha de Cós são mencionadas em sequência; no tesouro dos atenienses em Delfos, erguido c. -510/-480, as métopas representam as seguintes aventuras: o leão de Nemeia, a corça do Monte Cerineia, os bois de Gérion, as lutas contra os centauros e contra Cicno.

A mais antiga referência a um grupo de doze façanhas de Héracles é o conjunto de 12 métopas esculpidas em mármore no templo de Zeus em Olímpia, construído entre -472 e -456. Seis métopas estavam no lado oeste (O) do ..., e as outras seis no lado leste (L). Cf. Fig. 0288-97:

O / Leão O / Hidra O / Aves O / Touro O / Corça O / Amazonas L / Javali L / Éguas L / Gérion L / Hespérides L / Cérbero L / Augias

Os 12 trabalhos

  1. O leão de Nemeia
  2. A hidra de Lerna
  3. A corça cerineia
  4. O javali do Erimanto
  5. Os estábulos de Augias
  6. As aves do Lago Estínfale
  7. O touro de Creta
  8. As éguas de Diomedes
  9. O cinto de Hipólita
  10. Os bois de Gérion
  11. Os pomos das Hespérides
  12. Cérbero, o cão de Hades

Há outras explicações para a submissão de Héracles a Euristeu, mas de um modo geral a penitência imposta pelo Oráculo de Delfos é uma das mais aceitas.

Trabalhos e aventuras paralelas

No Portal, é seguida a sequência estabelecida pelo Pseudo-Apolodoro (v. infra), mas há evidências de que nas épocas Arcaica e Clássica não era bem assim. Eurípides, por exemplo, que escreveu vários séculos antes dele, coloca a aventura da corça cerineia logo antes das éguas de Diomedes (Héracles, 375-88).

Os seis primeiros “trabalhos” ou façanhas foram realizados na própria Grécia, mais especificamente no Peloponeso; os seis últimos levaram o herói ao “estrangeiro” e alguns deles a lugares muito distantes e puramente míticos.

A sequência dos trabalhos varia um pouco, de acordo com a fonte; aqui, foi adotada a ordem dada pelo Pseudo-Apolodoro (2.4-7), considerada atualmente a ordem canônica.

Durante os trabalhos o herói foi perseguido pelo ódio da deusa Hera, que procurava sistematicamente levá-lo à perdição, mas contou com o constante apoio da deusa Atena, sua meio-irmã, poderosa e igualmente incansável defensora. Iolau, filho de seu meio-irmão Íficles, ajudou-o em alguns de seus trabalhos.

E poucos dentre os trabalhos foram cumpridos na sequência, pois o herói teve diversas aventuras entre uma façanha e outra, os trabalhos paralelos (gr. πάρεργα).

No Portal, essas façanhas palalelas de Héracles são contadas nas sinopses apropriadas.

A mais antiga menção aos “trabalhos” de Héracles está na Ilíada (Il. 8.362-9). Entre os mitógrafos há controvérsias quanto ao número de trabalhos; em geral, segue-se a única fonte que relata sistematicamente todos os trabalhos, em número de doze: a Biblioteca do Pseudo-Apolodoro (2.4.12-5.12). Menções aos trabalhos de Héracles como um grupo (nem sempre completo, quase sempre com façanhas não consideradas um dos doze trabalhos): Eurípides, [Higino], Sêneca, Agamêmnon 829-62; Primeiro Mitógrafo do Vaticano, Tzetzes Antologia Palatina 16.92 e 99999, Quinto de Esmira 6.223 mais ou menos

Variantes

Influências e recepção

A mais antiga representação dos 12 trabalhos “canônicos” de Héracles, em conjunto, foram as métopas do templo de Zeus em Olímpia (-470/-457). Nos templos arcaicos da Magna Graecia, no Parthenon de Atenas e no Tesouro dos Atenienses em Delfos também havia representações de diversos trabalhos.

Passagens selecionadas

Os trabalhos estavam entre os temas mais utilizados pelos artistas gregos, especialmente entre os decoradores dos vasos de figuras negras. A deusa Atena era frequentemente representada junto a Héracles, encorajando-o ou ajudando-o; Iolau também era mostrado com alguma frequência. Nos vasos de figuras vermelhas, a presença do herói e de suas façanhas diminuiu consideravelmente.

Héracles tornou-se uma figura popular no fim da Idade Média e no início do Renascimento; seus 12 trabalhos inspiraram diversas obras, como o romance em prosa poética Le Fatiche d'Ercole, de Pietro Bassi (1475), o texto em prosa de Don Enrique de Villena, Los Doze Trabajos de Hercules (Zamora, 1483 e 1499), o romance anônino Les Prouesses et vaillances du preux Hercule (Paris, 1500), logo traduzido para o inglês, o poema Dodeci Travagli di Ercole, de J. Perillos (1544) e uma coleção de adágios e alegorias de Fernandez de Heredia, Trabajos y afanes de Hercules (Madrid, 1682).

Alguns episódios dos "12 trabalhos" inspiraram, isoladamente, algumas obras literárias; veja as sinopses referentes a cada trabalho.

Bibliografia

Gibbons 1975, 35-74; Felten 1990; Gantz 1993, 383-4; Stafford 2012, 30-33; Fowler 2013, 274-6; March 2021.

Bromer nota 8 do Gantz