Deméter e Perséfone

Δημήτηρ καὶ Περσεφόνη Deméter e Perséfone em Roma: Ceres e Prosérpina
Δημήτηρ' ἠύκομον, σεμνὴν θεάν, ἄρχομ' ἀείδειν,
αὐτὴν καὶ κούρην, περικαλλέα Περσεφόνειαν.
χαῖρε, θεά, καὶ τήνδε σάου πόλιν: ἄρχε δ' ἀοιδῆς.

Deméter de belos cabelos, augusta deusa, começo a cantar,
a ela e a filha, a muito bela Perséfone.
Salve, deusa! Conserva esta cidade e dirige meu canto.

Deusa da agricultura, representa os frutos obtidos com o cultivo da terra, de forma geral, e notadamente o trigo. Sua filha Perséfone personifica a vegetação, particularmente as plantas cultivadas.

A deusa olímpica Deméter (gr. Δημήτηρ) não deve ser confundida com Gaia, que representa a terra como princípio cosmogônico.

miniaturaA senhora dos grãos

Ligada diretamente à fertilidade da terra cultivada, Deméter é uma antiquíssima deusa-mãe cuja origem deve remontar, no mínimo, ao Neolítico. Não há menção a Deméter nas tabuinhas micênicas, mas é possível que alguns pinturas murais se refiram a ela e há, também, uma inscrição minoica em linear A, ainda não decifrada, a mencione. Em Homero, ela já aparece diretamente associada ao trigo (Il. 13.322).

Para os gregos, ela era filha dos titãs Crono e Reia, nascida logo depois de Héstia, e portanto irmã de Zeus, Hera, Posídon e Hades.

Mitos

Deméter teve uma filha com Zeus, Perséfone (gr. Περσεφόνη), à qual era particularmente afeiçoada. Perseguida também por Posídon, a deusa tentou escapar, assumindo a forma de égua, mas o deus se transformou em cavalo e uniu-se a ela com essa forma. Algum tempo depois, Deméter deu à luz um cavalo rapidíssimo, Aríon, que ficou famoso durante a luta dos Sete Contra Tebas. Consta que ela teria se unido também a Iásion, um dos filhos de Zeus, em cima de um ‘campo três vezes lavrado’ (Hes. Th. 971) e gerado Pluto (gr. Πλοῦτος), deus da riqueza agrária.

Deméter está associada principalmente à história do rapto de Perséfone. Ela era uma bela e despreocupada jovem — os gregos também se referiam a ela como Κόρη, ‘a donzela, a mocinha’ — e certo dia Hades se apaixonou pela jovem. Com a conivência de Zeus, raptou-a enquanto ela brincava com as ninfas e levou-a para seu reino subterrâneo.

Alertada por um grito da filha, Deméter começou a procurá-la por todo o mundo, com um archote aceso em cada mão. Após vários dias de busca encontrou Hécate, que ouvira Perséfone gritar mas não vira quem a levara; Hélio, porém, que tudo vê, revelou a identidade do raptor...

Enfurecida, Deméter recusou-se a voltar ao Olimpo sem a filha querida e a exercer suas funções divinas. Assumiu o aspecto de uma velha e se pôs a serviço de Céleo, rei de Elêusis, que a encarregou de cuidar do jovem Triptólemo, seu filho. Em meio à sua tristeza, quebrada momentaneamente pelas servas Baubó[1] e Iambé[2], Deméter se afeiçoou ao menino e tentou torná-lo imortal, colocando-o periodicamente no fogo. Surpreendida porém em uma das sessões de imortalização pela assustada Metanira, mãe do menino, a deusa não pôde completar o processo. Revelou-se então aos assustados reis e confiou a Triptólemo a tarefa de espalhar pelo mundo a cultura do trigo.

Enquanto isso, a terra tornou-se estéril e assim permanecia, pois sem a intervenção de Deméter nada do que era plantado crescia. Perturbada a ordem natural, Zeus teve que intervir junto a Hades para libertar Perséfone e aplacar a mãe enfurecida. Perséfone, entretanto, já desfrutara da hospitalidade de Hades e comera uma romã — o que a associava permanentemente ao reino subterrâneo — e os deuses envolvidos tiveram de negociar.

Perséfone tornou-se esposa de Hades, e rainha dos mortos; Deméter reassumiu suas tarefas divinas; e, a cada primavera, Perséfone deixava o Hades e se reunia com a mãe, no Olimpo, para que nessa época a terra cultivada desse seus frutos.

Desde a Antiguidade esse mito era visto como uma alegoria: Perséfone era o grão semeado, colocado embaixo da terra para se desenvolver e despontar durante a primavera sob a forma de novos frutos...

Iconografia e culto

Deméter era representada geralmente com archotes ou uma espiga de trigo, às vezes acompanhada de uma serpente; seu mito se liga tão estreitamente ao de Perséfone que as duas são muitas vezes representadas juntas. Em muitos lugares mãe e filha eram chamadas simplesmente de “as duas deusas”.

A deusa era largamente cultuada, especialmente na Arcádia, na Sicília e em Cnidos. Estava associada também aos Mistérios de Elêusis, célebre culto de mistérios de origem pré-helênica. Em toda a Grécia as Tesmofórias, festival aberto exclusivamente às mulheres, era celebrado no outono em sua homenagem.