Eurípides
As tragédias do poeta ateniense Eurípides (Brasil) — ou Eurípedes (Portugal) — são as que mais se aproximam do gosto moderno.
Sumário
Eurípides é o terceiro e mais jovem dos três grandes expoentes da tragédia ática.
O poeta não foi muito apreciado pelos seus contemporâneos, mas a posteridade lhe fez justiça. Graças às numerosas cópias efetuadas desde a Antiguidade, um número maior de suas obras chegou até nós: enquanto temos apenas sete tragédias completas de Ésquilo e sete de Sófocles, de Eurípides temos dezessete tragédias e um drama satírico. Das demais restam somente fragmentos e alguns comentários de outros autores da Antiguidade.
Durante o século
Biografia
Se desconsiderarmos inúmeras lendas e anedotas,
O pai se chamava Mnesárquides, sua família era abastada e
viveu a maior parte de sua vida em Atenas. Nasceu por volta de
Sua primeira tragédia, Pelíades, foi apresentada mais ou menos em
Consta que também compôs elegias e poemas líricos, dos quais restam apenas fragmentos insignificantes.
Duas ou três Vidas anônimas,
conservadas em vários mmss.; Vida de Eurípides, de Sátiro (P.Oxy 1176);
Suda s.v.
Obras sobreviventes
Dezessete tragédias completas chegaram até nós, dentre as quais somente oito têm data certa; das outras, temos somente conjeturas mais ou menos prováveis. Dispomos de fragmentos significativos de diversas outras tragédias, que permitiram ao menos a reconstituição parcial de muitas delas, notadamente do Erecteu, do Télefo, do Faetonte e da Hípsile.
Apenas um drama satírico, O Ciclope, sobreviveu; sua data é incerta, provavelmente
Temos também dois trechos musicais, um da tragédia Orestes e outro da
Ifigênia em Áulis. Como os poetas eram responsáveis também pela música
apresentada durante as tragédias, naturalmente podemos imaginar que a melodia desses fragmentos
foi criada por Eurípides; é mais provável, no entanto, que essas músicas sejam
criações tardias, preparadas por ocasião de uma das numerosas reapresentações de dramas euripidianos do
século
No Portal, há sinopses de todos os dramas completos e dos dramas fragmentários mais importantes. A lista contém as datas prováveis da primeira representação, na ordem seguida pelas edições padrão:
- Alceste
(-438) - Medeia
(-431) - Heraclidas
(c. -430) - Hipólito
(-428) - Andrômaca
(c. -425) - Hécuba
(c. -424) - Suplicantes
(c. -424/-420) - Electra
(c. -422/-416) - Héracles
(c. -415) - Troianas
(-415) - Ifigênia em Táuris
(c. -414) - Íon
(c. -413) - Helena
(-412) - Fenícias
(-411/-407) - Orestes
(-408) - Bacantes
(-405) - Ifigênia em Áulis
(-405) - Fragmentos trágicos
- O Ciclope
(-408) - Fragmentos satíricos
- Orestes / música
- Ifigênia em Áulis / música
A autoria da tragédia Reso, preservada nos manuscritos euripidianos juntamente com as demais obras, é
contestada desde a Antiguidade. Embora tradicionalmente atribuída a Eurípides,
Características gerais da obra
O valor de Eurípides foi reconhecido por Aristóteles, que dizia ser ele
Em suas tragédias os mitos já conhecidos eram sempre apresentados sob aspectos novos e instigantes. Seus enredos, em geral pessimistas, eram bem mais complexos que os de Ésquilo e os de Sófocles: intensos conflitos humanos, suspense, referência a assuntos contemporâneos, elementos de retórica e, nas peças mais tardias, até mesmo algum humor.
Os personagens de Eurípides se comportavam como seres humanos normais em conflito, apesar da estatura heroica, e habitualmente os deuses interviam somente no prólogo (e.g. Hipólito) ou no final, como deuses ex machina (e.g. Orestes e Ifigênia em Táuris), para solucionar impasses e situações problemáticas do enredo.
Os prólogos de Eurípides tinham sempre natureza didática e habitualmente se prestavam a situar a plateia na história a ser apresentada. Diálogos vívidos, linguagem coloquial, discussões que frequentemente envolviam técnicas sofísticas, cantos corais curtos e de grande beleza lírica são outras características marcantes de sua obra.
Manuscritos e papiros
Os manuscritos euripidianos podem ser reunidos em dois grupos ou famílias. A primeira família contém uma seleção de
nove tragédias ricas em escólios[7], reunida entre os séculos II e VI: Hécuba,
Orestes, Fenícias, Hipólito, Medeia, Alceste, Andrômaca,
Troianas e Bacantes. A segunda família remonta possivelmente a um protótipo do século VI e contém, além
dos dramas da primeira família, dez dramas em ordem mais ou menos

primeira família
Os principais mmss. da primeira família são o Marcianus 471 (Biblioteca de São Marcos, Veneza, sæc. XII), o Parisinus 2713 (Biblioteca Nacional, Paris, sæc. XII), o Parisinus 2712 (idem, sæc. XIII) e o Vaticanus 909 (Biblioteca do Vaticano, sæc. XIII). O Laurentianus gr. 31.10 (Biblioteca Laurenciana, Florença, c. 1175) é importante para algumas tragédias.
A segunda família é representada notadamente pelo Laurentianus pl.
Os mmss. são frequentemente mencionados através de siglas padronizadas:
Diversos fragmentos de papiros antigos, descobertos notadamente no Egito, também contribuíram para a edição de diversas obras euripidianas. Três deles, em particular, trazem os fragmentos musicais sobreviventes (ver Trechos musicais supra).
Edições e traduções
A editio princeps de Medeia, Hipólito, Alceste e Andrômaca é a de Lorenzo di
Alopa, preparada por Janus Lascaris
Em 1541, todas as tragédias (menos a Electra), foram traduzidas para o latim por Rudolf Collin (Collinus) e publicadas por Robert Winter em Basileia; uma tradução latina de Electra saiu em 1546. As versões latinas foram, em certa medida, ponto de partida para as traduções de Eurípides em línguas modernas. A primeira edição com texto grego lado a lado com outra língua (o latim) é a de Caspar Stiblinus (Basileia, 1562).
Temos três boas edições modernas de todas as obras de Eurípides: a de James Diggle (
Todas as tragédias completas de Eurípides e o drama satírico Ciclope foram já traduzidos para o português de
forma isolada. O professor Jaa Torrano, da USP, preparou a tradução de todos os dramas completos, em três volumes,
publicados em edição digital (ebook) em
Algumas tragédias e dramas satíricos fragmentários também foram traduzidos e publicados recentemente; a professora Maria de Fátima Silva, da Universidade de Coimbra, publicou em 2023 o primeiro volume da coletânea de dramas fragmentários conhecidos.