Homero / Ilíada
οὐλομένην, ἣ μυρί' Ἀχαιοῖς ἄλγε' ἔθηκε,
πολλὰς δ' ἰφθίμους ψυχὰς Ἄϊδι προΐαψεν
ἡρώων, αὐτοὺς δὲ ἑλώρια τεῦχε κύνεσσιν
οἰωνοῖσί τε πᾶσι, Διὸς δ' ἐτελείετο βουλή,
ἐξ οὗ δὴ τὰ πρῶτα διαστήτην ἐρίσαντε
Ἀτρεΐδης τε ἄναξ ἀνδρῶν καὶ δῖος Ἀχιλλεύς.
Canta, ó deusa, a cólera de Aquiles, filho de Peleu,
funesta, que inumeráveis dores aos Aqueus causou
e muitas valorosas almas de heróis ao Hades
lançou, e a eles tornou presa de cães
e de todas as aves de rapina; cumpriu-se o desígnio de Zeus,
o qual desde o princípio separou em discórdia
o filho de Atreu, senhor de guerreiros, e o divino Aquiles.

A Ilíada (gr.
Acredita-se que a Ilíada tenha sido originalmente uma composição oral,
memorizada e recitada em ocasiões especiais, composta entre
O poema era uma das obras mais apreciadas da Antiguidade, constantemente citada por filósofos e outros eruditos, e exerceu enorme influência tanto na literatura romana quanto na cultura ocidental como um todo.
Argumento básico
O assunto do poema, retirado das lendas do Ciclo Troiano, cobre apenas
alguns dias do décimo ano da Guerra de Troia. O tema principal é a cólera do herói
Aquiles que, afrontado por Agamêmnon, filho de Atreu, o comandante do exército grego,
Observe-se, na invocação inicial do poema reproduzida na epígrafe, o enorme poder de síntese do poeta da Ilíada que, em apenas sete linhas, fez a invocação regulamentar às musas e, de quebra, apresentou o argumento básico do poema. Ou seja, resumiu mais de 15.000 versos em sete.
Dialeto e linguagem
Dado o caráter oral da composição e da transmissão do poema em vários locais dos antigos territórios gregos, a linguagem da Ilíada se tornou uma grande mistura de dialetos antigos, chamada convencionalmente de linguagem homérica. Essa linguagem naturalmente nunca foi utilizada por nenhuma comunidade grega e tem apenas expressão literária.
Os dialetos são o ático, o jônico e o árcado-cipriota; não há sinal de palavras ou expressões do dialeto dórico.
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Cenário e personagens
A ação transcorre na sitiada cidadela de Troia e arredores, e no acampamento dos gregos, que fica bem próximo, entre a cidadela e as naus ancoradas. Algumas cenas se passam no Olimpo, morada dos deuses, e nas montanhas próximas de Troia.
A quantidade de personagens da epopeia é enorme; uma estimativa conservadora chegaria a duas ou três centenas, pelo menos, entre deuses, heróis, mulheres e participantes incidentais, muitos sem nome.
Os deuses têm importante participação em todos os episódios do poema e interagiam frequentemente com os personagens humanos; alguns chegaram ao ponto de lutar em diversas batalhas. Do lado dos gregos, estavam Atena, Hefesto, Hera e Posídon; do lado dos troianos, Afrodite, Apolo, Ártemis e Ares. Zeus trabalhou, em diferentes momentos, a favor dos gregos ou dos troianos.
A lista a seguir contempla apenas os heróis e personagens humanos mais relevantes.
Os gregos
o maior
o menor
Os troianos
Estrutura do poema
A Ilíada tem um total de 15.693 versos hexâmetros e se divide artificialmente
em 24 Livros ou Cantos de tamanho desigual, identificados pela tradição
manuscrita com as letras maiúsculas do alfabeto grego (
Poderíamos separar o poema em numerosos episódios, mais ou menos autônomos,
sempre narrados por Homero, embora muitas vezes ele dê voz aos personagens para que
contem suas histórias. Eis uma visão panorâmica da sequência de episódios, de acordo
com o agrupamento dos versos divididos em livros
:
A Ilíada é marcada, do livro II até o livro XVII, pela ausência de Aquiles e,
depois disso, por sua avassaladora participação nas batalhas. Alguns comentadores
antigos, por causa disso, costumavam dizer que o poema era mais uma história sobre a
Cólera de Aquiles
do que uma Ilíada
, uma história de Ílion.
Resumo: livros I-IV
Os primeiros quatro livros da Ilíada se caracterizam por um
restabelecimento
ou recordação das causas da guerra, tanto no plano divino como no
plano humano. Os eventos se passam, de certa forma, como se a guerra não tivesse
começado há nove anos.
Após a invocação à musa e a enunciação do argumento do poema
Enquanto isso, no Olimpo, Tétis suplica em prol do filho e obtém de Zeus uma solene
promessa
Os dois exércitos se posicionam frente a frente; Páris, ao ver Menelau,
Agamêmnon passa novamente as tropas em revista e instiga os outros heróis à luta
Resumo: livros V-XIV
Veja, por enquanto, uma pequena lista dos episódios mais notáveis desses livros.
- As proezas de Diomedes (V-VI)
- O encontro de Diomedes e Glauco (VI)
- O adeus de Heitor e Andrômaca (VI)
- O duelo de Heitor e Ájax (VII)
- A embaixada a Aquiles (IX)
- A Doloneia (X)
- A batalha junto à muralha (XII)
- O engano de Zeus (XIV)
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Resumo: livros XV-XXIV
Veja, por enquanto, uma pequena lista dos episódios mais notáveis desses livros:
- Os troianos atacam o acampamento grego (XV-XVI)
- Proezas e morte de Pátroclo (XVI-XVII)
- A nova armadura de Aquiles (XVIII)
- A batalha dos deuses (XX)
- A luta entre Aquiles e o rio (XXI)
- Os jogos fúnebres em honra de Pátroclo (XXIII)
- O resgate do cadáver de Heitor (XXIV)
[ em andamento... ]
Passagens selecionadas
Manuscritos e edições
A Ilíada, ao lado da Bíblia, possui uma das mais extensas tradições manuscritas e papirológicas conhecidas. Ela remonta possivelmente ao Período Helenístico, porém os mais antigos papiros com passagens do poema datam do século II, aproximadamente.
Eis uma pequena lista dos manuscritos mais importantes: Venetus A (Marcianus
gr. 454 = 882, sæc. X) e Marcianus gr. 453 (sæc. XI), da Biblioteca de São Marcos em Veneza;
Laurentianus gr. xxxii,3 (sæc. XI) e xxxii,15 (sæc.
A editio princeps é a de Demetrius Chalcondyles, Florença (1488), em dois volumes;
A edição de Genebra de 1566 (de Henri Estienne)
tornou-se a
(Aubreton,
1968).
As modernas edições da Ilíada são numerosas; as mais importantes são a de
Dindorf (1826 e 1855), a de Pierron
Traduções
A Ilíada é uma das obras gregas mais traduzidas para o português. As traduções mais antigas são as de José Maria da Costa e Silva (1811 e 1830), João Félix Pereira (1891) e Manuel Odorico Mendes (1874); as mais recentes, as de Carlos Alberto Nunes (1962), Eusébio Dias Palmeira (1999), Haroldo de Campos (2002) e Frederico Lourenço (2005).
Há também grande quantidade de traduções de episódios e de livros isolados em coletâneas, periódicos e livros didáticos portugueses e brasileiros, sem contar dissertações de mestrado e teses de doutorado.