A passagem ilustra um dos mais característicos recursos estilísticos da epopeia homérica, o símile. Podemos titular informalmente o trecho como A marcha dos aqueus
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A tradução, ainda inédita, é de Maria Celeste Consolin Dezotti, que a apresentou durante uma aula de graduação e gentilmente autorizou sua reprodução nesta página.
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Como fogo destruidor abrasa imensa floresta
em cume de montanha, e de longe brilha o clarão,
assim dos que marchavam, do bronze divinal
um brilho todo radiante, através do éter, ao céu chegava.
Como dos pássaros alados tribos numerosas
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de gansos, grous ou cisnes de longos pescoços
em pradaria do Àsio, às margens do Caistro,
aqui e ali voam, ufanos de suas asas,
pousando frente a frente, com agudos gritos, e a pradaria ressoa,
assim numerosas tribos, dos navios e das barracas
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pela planície do Escamandro se esparramavam; então o chão, sob
os pés deles e de seus cavalos, estrondeava terrivelmente.
Então detiveram-se no prado florido do Escamandro
inúmeros, quantas folhas e flores nascem na estação.
Como de moscas em enxame tribos numerosas
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elas que em redil de ovelha esvoaçam
em estação primaveril, quando o leite as vasilhas inunda,
tantos aqueus, de cabeças cabeludas, face a troianos
na planície se instalaram, ardentes por destruir.
E como dos vastos rebanhos de cabras os homens cabreiros
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facilmente separaram as suas, ainda que se misturem no pasto,
assim a eles os chefes punham em ordem aqui e ali,
para ir a combate, entre eles o superior Agamêmnon
semelhante, pelo olhar e cabeça, a Zeus que se alegra com o raio,
a Ares, pela cintura, e, pelo peito, a Poseidon.