Eurípides / Hécuba
Uma das mais impactantes tragédias
Sumário
A datação da Hécuba (gr.
Nada sabemos da premiação obtida e dos outros dramas apresentados pelo poeta no concurso dramático.
Hécuba, assim como Troianas, se passa logo depois do final da Guerra de Troia e coloca diante da
audiência alguns dos aspectos mais negativos das guerras. É, também, uma tragédia de vingança dos fracos contra os
mais poderosos, a mais antiga das “tragédias de
De acordo com Collard, “uma tragédia de lealdades” poderia servir de subtítulo a
Personagens do drama

O Coro é constituído de mulheres troianas escravizadas pelos gregos.
Polidoro é o fantasma do falecido filho de Hécuba,
Personagens mudos: escrava, soldados gregos e duas crianças, filhos de Polimestor.
Argumento
O enredo se baseia em episódio do Ciclo troiano, situado logo após a destruição de Troia pelos gregos. Ele envolve, simultaneamente, os mitos de Aquiles, de Hécuba e de dois de seus filhos, Polixena e Polidoro.

Logo após a derrota dos troianos, os navios gregos chegam à Trácia. No acampamento, o fantasma de Polidoro diz ter sido assassinado por Polimestor após a queda da cidadela e que os gregos planejam sacrificar Polixena no túmulo de Aquiles devido à calmaria que impede a saída dos navios.
Hécuba, angustiada e amparada pelas outras cativas, lamenta a perda do marido e dos filhos e chama Polixena, a quem
revela seu iminente sacrifício. Odisseu vem buscar a jovem e Hécuba tenta
A rainha reúne forças e pede a Agamêmnon, comandante dos gregos, uma oportunidade para castigar Polimestor. Então, com a ajuda das outras cativas troianas, cega o rei trácio e mata seus dois filhos.

Mise en scène
A cena se passa em um acampamento grego na Quersoneso trácia (península de Gallipoli);
O protagonista fazia o papel de Hécuba; o deuteragonista, de Polidoro, de Polixena, da Serva e de Polimestor; o
tritagonista, de Odisseu, de Taltíbio e de Agamêmnon. Há, no entanto, outras possibilidades para a distribuição de
papéis entre o deuteragonista e o
Estrutura dramática
A tragédia é um “díptico” e pode ser dividida em duas partes frouxamente interligadas: a primeira
Prólogo 1-97: monólogo do fantasma de Polidoro
Párodo 98-153: sem estrofes, em anapestos recitativos (não líricos); similar a um relato de mensageiro.
1º Episódio 154-442: dividido em duas partes. Na primeira
1º Estásimo 444-483. Dois pares estróficos cantados em metro eólico: estrofe 1

2º Episódio 484-628: relativamente curto, contém breve diálogo entre Taltíbio e Hécuba e duas
rhḗseis: uma de Taltíbio
2º Estásimo 629-657. Apenas um par estrófico, com metro eólico e iâmbico: estrofe
Manuscritos, edições, traduções
O texto pode ser encontrado nos mmss. com as tragédias da “seleção” e no
Laurentianus gr. 32.2 (Biblioteca Laurenciana de Florença,
Da “seleção”, os mmss. completos mais importantes são o Marcianus gr. 471 (Biblioteca de São Marcos em Veneza, século XI) e o Parisinus gr. 2713 (Biblioteca Nacional, Paris, século XI). Hécuba é uma das tragédias da “tríade bizantina”[2] e está presente em mais de 300 outros manuscritos.
A editio princeps é a Aldina, publicada em 1503. As principais edições modernas isoladas do texto grego são as de
- Antonio Garzya (Roma, 1955);
- Stephen Daitz (Leipzig, 1973);
- Cristopher Collard (Warminster, 1991);
- Justina Gregory (Atlanta, 1999);
- Kjeld Matthiessen (Berlim, 2010);
- Luigi Battezzato (Milão, 2010; Cambridge, 2018).
A primeira tradução para o latim foi efetuada por Erasmo de Rotterdam em 1506 (republicada em 1507), antes da tradução de Collinus de todas as peças. A primeira tradução isolada para o português é a de Junito Brandão (Rio de Janeiro, 1951).
Outras traduções: Jaime Bruna (S. Paulo, 1957, não publicada), Mário G. Kury (Rio de Janeiro, 1992), Christian Werner (S. Paulo, 2004), Andreza Moreira (Belo Horizonte, 2015) e Tereza Virgínia R. Barbosa (Belo Horizonte, 2022).
Recepção
Polixena, tragédia perdida de Sófocles que tratatava do sacrifício da jovem, provavelmente foi representada antes da versão de Eurípides[99]. Desde o princípio, Hécuba foi uma das tragédias euripidianas mais populares na Antiguidade e no Período Bizantino.
Na arte antiga,
Há evidências de sua influência em Aristófanes, Demóstenes e Aristóteles; Ovídio seguiu Eurípides bem de
perto nas Metamorfoses[3]. Durante o Período

Numerosas obras posteriores a 1500 dramatizaram o mito e seus personagens, mas sem evidências diretas da presença de
Eurípides. Em 1603, Shakespeare mencionou Hécuba no Hamlet
Na arte medieval e renascentista, as representações mais frequentes
Além do testemunho de Demóstenes, há evidências de reapresentações da peça durante o século
No Brasil, a tragédia foi apresentada em novembro de 2011 em S. Paulo, sob a direção de Gabriel Villela.