Eurípides / Hipólito

Ἱππόλυτος Hippolytus Eur. Hipp. -428
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Célebre tragédia de Eurípides datada de -428, com 1466 versos.

Sumário

Hipólito (gr. Ἱππόλυτος) é a tragédia euripidiana que marca com maior intensidade tanto a moderação como o excesso nos sentimentos e atitudes dos personagens.

A primeira versão, conhecida por Hipólito Velado e da qual restam apenas fragmentos (F 428-447), causou escândalo e foi rejeitada pelo público ateniense; o Hipólito que chegou até nós é a segunda versão.

O segundo Hipólito foi representado nas Dionísias Urbanas de -428, pouco depois da morte de Péricles, e valeu a Eurípides o primeiro prêmio. Não sabemos o nome dos dramas que o acompanharam no concurso trágico.

A história segue um dos temas básicos da literatura universal, conhecido como “tema de Putifar”[1], utilizado por Eurípides em várias outras tragédias, todas elas fragmentárias: Estenebeia, Fênix, Peleu e Tenes[2].

Personagens do drama

miniatura Criadas, Fedra, Servo com falcão

O Coro é constituído de mulheres de Trezena. Afrodite e Ártemis são divindades; Hipólito é filho de Teseu e da falecida amazona Hipólita; Fedra, filha de Minos e irmã de Ariade, segunda esposa de Teseu, rei de Atenas, filho de Egeu / Posídon; os Servos de Hipólito e Fedra são idosos. Personagens mudos: servos de Hipólito.

Argumento

O enredo se baseia no obscuro mito de Fedra e Hipólito, inspirado certamente no culto prestado a ele em Trezena desde a Idade do Bronze. O mais antigo relato que sobreviveu é o desta tragédia de Eurípides.

Fedra, esposa de Teseu, apaixona-se por Hipólito, seu enteado, jovem casto e dedicado à caça, devoto de Ártemis. Ao ser informado por uma serva do amor que lhe dedica a madrasta, Hipólito repele a ideia com veemência e Fedra se suicida, deixando mensagem a Teseu que acusa falsamente Hipólito. Teseu expulsa o rapaz e invoca a punição de Posídon, que provoca um acidente com a carruagem de Hipólito.

Enquanto Hipólito morre, ouve-se a voz de Ártemis, que revela a verdade a Teseu.

 

Mise en scène

A cena se passa em Trezena, cidade da Argólida, diante da porta principal do palácio de Teseu. À direita e à esquerda do palácio havia estátuas de Ártemis e de Afrodite, com um pequeno altar diante de cada uma delas.

O protagonista fazia o papel de Hipólito; o deuteragonista, o de Afrodite, o de Fedra e o de Teseu; e o tritagonista representava todos os outros personagens não mudos (Ártemis e servos).

Estrutura dramática

Para o vocabulário utilizado no estudo da estrutura dramática, ver sinopse Estrutura básica das tragédias.

Prólogo 1–120, dividido em três partes: monólogo expositivo de Afrodite (1-57); hino a Ártemis (58-71), seguido da declamação devocional de Hipólito a Ártemis (73-87) e de um vivo diálogo entre ele e o Servo a respeito de Afrodite (88-120), com esticomitia de 90 a 105 e monólogo do Servo de 114 a 120.

Párodo 121–169: o canto coral tem duas séries de estrofes (1ª estrofe 121-130, 1ª antístrofe 131-140, 2ª estrofe 141-150, 2ª antístrofe 151-160) e um epodo (161-175).

1º Episódio 170–524.

1º Estásimo 525–564.

2º Episódio 565–731.

2º Estásimo 732-775.

3º Episódio 776–1101.

3º Estásimo 1102–1150.

4º Episódio 1151–1267.

4º Estásimo 1268-1282.

Êxodo 1283–1466.

 

Manuscritos, edições, traduções

Hipólito faz parte dos mmss. da primeira família, mas o melhor ms. da peça é L, que traz também os dramas da segunda família. Dos mmss. da “seleção”, cito B e M, o qual contém apenas os vv. 1-1234. Oito papiros têm fragmentos da tragédia; o mais antigo é o P.Lit.Lond. 73, do século -III (Londres, British Library).

Diversos mmss. trazem, antes do texto, duas hypótheseis; graças à segunda delas, atribuída a Aristófanes de Bizâncio, sabemos a respeito do Hipólito Velado que precedeu o Hipólito completo[3].

A editio princeps é a de Janus Lascaris[4]. As edições modernas isoladas importantes são as de

  • William Barrett (Oxford, 1964);
  • Richard Hamilton (Bryn Mawr, 1982);
  • John Ferguson (Bristol, 1984);
  • Walter Stockert (Stuttgart e Leipzig, 1994).
  • Michael Halleran (Oxford, 1995, rev.2004);
  • Peter Roth (Berlim, 2015);
  • Hanna Roisman (Norman, 2024).

A primeira tradução da tragédia para o latim foi efetuada por Collinus (Basileia, 1541), juntamente com as demais; pouco depois, Hipólito foi também vertido por Coriolano Martirano (Nápoles, 1556). A primeira tradução para o português é a do Padre Joaquim de Foyos (Lisboa, 1803), com texto grego ao lado, procedimentoa incomum naquela época. Outras traduções isoladas:

  • Jaime Bruna (S. Paulo, 1964);
  • Mário G. Kury (Rio de Janeiro, 1977);
  • Bernardina S. Oliveira (Lisboa, 1979);
  • Frederico Lourenço (Lisboa, 1993);
  • Joaquim B. Fontes (S. Paulo, 2007);
  • Flávio R. Oliveira (S. Paulo, 2010);
  • Trajano Vieira (S. Paulo, 2015);
  • Clara Crepaldi (S. Paulo, 2017).
Ver também as traduções gerais de Eurípides

Recepção

Na Antiguidade, o mito de Hipólito inspirou, além das duas tragédias de Eurípides, uma Fedra de Sófocles, hoje fragmentária, e Lícofron compôs um Hipólito na primeira metade do século -III[5].

miniatura A agonia de Fedra

O Hipólito euripidiano inspirou várias obras de arte e diversas obras literárias: um poema de Ovídio (Heroides 4); a tragédia Fedra, de Sêneca, que por sua vez também exerceu grande influência, e a de Racine (1677), além de muitas outras e o filme Fedra (Jules Dassin, 1962).