Aristóteles / Poética
Um dos mais influentes e controvertidos textos gregos legados pela Antiguidade.
Poética
Na Poética (gr.
O tratado pertence, aparentemente, à categoria dos escritos esotéricos (“internos”);
evidências presentes na Poética em outras obras aristotélicas, notadamente a
Retórica e a Política, situam a data de criação por volta de
Originalmente, a Poética compreendia dois volumes, dos quais apenas o primeiro chegou até nós. Há evidências de que o volume perdido tratava da poesia iâmbica e da comédia. A perda ocorreu, provavelmente, antes do século VI.
Menção à parte merecem os estudos e comentários sobre a Poética efetuados
pelos eruditos do Renascimento. O irlandês Jonathan Swift, nas Viagens de
Gulliver (cap.
O texto expõe, de forma ordenada e coerente, as ideias do filósofo sobre a composição poética; dado, porém, seu caráter expositivo, semelhante ao de uma preleção oral, não é de estranhar que apresente incoerências, lacunas e obscuridades, alimento fecundo de controvérsias que já duram séculos...
Resumo
O texto grego da Poética compreende as páginas
Após uma introdução geral sobre a arte poética, Aristóteles discorre detalhadamente sobre a poesia trágica e sobre a poesia épica; no final, faz uma comparação entre ambas (os exemplos infra foram dados pelo próprio Aristóteles).
1. Considerações iniciais
[1447a] A poesia faz parte das “artes imitativas” e tem as seguintes espécies:
epopeia, tragédia, comédia, ditirambo, aulética e citarística, que se distinguem por
diferentes meios, objetos e maneiras de imitar; em comum, essas espécies têm ritmo,
linguagem e melodia, combinados ou não. [1447b] A arte que imita apenas através da
linguagem (mimos, diálogos socráticos) não tem denominação
[1448b] A poesia originou-se a partir do natural instinto de imitação do homem, que imita ações elevadas ou vulgares, e de sua predisposição para a melodia e o ritmo. Cada poeta compõe de acordo com seu temperamento; [1449a] os poetas dramáticos, por exemplo, compõem tragédias ou comédias de acordo com sua índole.
2. Plano da obra
Estabelecidos os conceitos preliminares essenciais, Aristóteles continua o texto de acordo com o seguinte plano:
- Origem e evolução da tragédia e da comédia; comparação entre tragédia e epopeia
[1449a-b] . - Definição e partes constitutivas da tragédia; o metro
trágico
[1449b-1451a] . - Estudo do enredo trágico, o mais importante dos
componentes da tragédia; enredos simples e complexos, peripécia, reconhecimento, o
evento patético e, mais uma vez, as partes da tragédia. Condições para um bom enredo
e o herói trágico
[1451b-1453b] . - O terror, a piedade e a catarse das emoções[2]; características desejáveis dos personagens trágicos
[1453b]. O deus ex machina; os tipos de reconhecimento
[1454a-1455a] . O desenvolvimento dos episódios a partir da ideia geral, o nó e o desfecho da trama; as quatro espécies de tragédia; a extensão do enredo e o Coro[1455b-1456a] . - O pensamento, a elocução e suas partes constitutivas, a
clareza e a neza de expressão, neologismos e metáforas
[1456b-1459a] . - A epopeia: unidade de ação, espécies e partes, extensão e
metro; o maravilhoso, o engano, a elocução; semelhanças e diferenças entre epopeia e
tragédia
[1459a-1460b] . - Crítica dos poetas; princípios, problemas e soluções
[1460b-1461b]; a superioridades da tragédia em relação à epopeia
[1461b-1462b] .
Passagens selecionadas
Manuscritos, Edições e traduções
Os mais importantes manuscritos para o estabelecimento do texto grego da
Poética são o Parisinus 1741 (Paris, Bibliotèque Nationale, sæc.
A editio princeps da Poética é a própria edição Aldina dos textos de
Aristóteles, publicada em 1508 por Aldus Manutius, em Veneza. A primeira edição isolada
da Poética, a de Franciscus Robortellus (Librum Aristotelis de arte poetica
explicationes), foi editada em 1548, em Florença. As edições modernas mais
importantes são as de Hermann (1802), Bekker (1831), Vahlen (1868), Bywater (1897),
Rostagni (1927), Hardy (1932), Kassel (1965), Lucas (1968) e, finalmente, a de
A Poética foi traduzida para o latim antes mesmo da primeira edição em grego, em plena Idade Média (William of Moerbeke, 1278). Mais tarde, durante o Renascimento, a primeira versão latina foi efetuada por Giorgio Valla (1498). Em 1536, Allessandro de Pazzi publicou uma edição bilíngue (grego e latim) e em 1548 Francesco Robortello publicou o primeiro comentário completo da Poética (In Librum Aristotelis de Arte Poetica Explicationes).
A primeira tradução para o português, anônima, data de 1779; mais tarde, em 1789,
foi publicada a tradução de Ricardo Raimundo Nogueira, A 'Poética' de Aristóteles
traduzida do grego em português (Lisboa, Régia Oficina Tipográfica). Muito depois