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Eurípides / Andrômaca

Ἀνδρομάχη Andromacha Eur. Andr. c. -425
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Uma das tragédia completas de Eurípides, com 1288 versos, que dramatiza eventos posteriores à Guerra de Troia.

Sumário

A tragédia, um dos mais importantes dramas antibélicos de Eurípides[1], data dos primeiros anos da Guerra do Peloponeso e estreou provavelmente em -425. É possível que tenha sido representada pela primeira vez fora de Atenas[2].

Nada sabemos dos outros dramas da tetralogia, nem da premiação no concurso trágico.

No argumento atribuído a Aristófanes de Bizâncio, a frase τὸ δὲ δρᾶμα τῶν δευτέρων, 'o drama é dos (está entre os) segundos', tem recebido interpretações controversas: segundo lugar no concurso, segundo drama da tetralogia ou drama de segunda categoria? Assim como outras tragédias euripidianas, Andrômaca tem sido acusada de descontinuidade entre os temas do enredo, mas essa visão tem sido refutada com sucesso pelos estudiosos mais recentes.

Andrômaca é uma tragédia de retorno[3], desenvolvida em torno da ausência e iminente retorno de Neoptólemo. Nela, Eurípides também discute temas como casamento, maridos, esposas e concubinas, relações extramaritais, nacionalidade e chauvinismo (gregos X bárbaros), assim como as consequências das guerras.

Personagens do drama

miniatura Peleu e Tétis

O coro é formado por mulheres da Ftia; Andrômaca, viúva do herói troiano Heitor, é atualmente concubina de Neoptólemo, filho de Aquiles. Menelau, rei de Esparta, é pai de Hermíone e tio de Orestes; o menino é filho de Andrômaca e Neoptólemo; Peleu é avô de Neoptólemo; Orestes, filho de Agamêmnon, é primo de Hermíone. Tétis, uma divindade, é ex-esposa de Peleu e avó de Neoptólemo. A Serva era escrava de Andrômaca em Troia, agora é também escrava de Neoptólemo.

O nome do menino, filho de Andrômaca e Neoptólemo, não é mencionado no texto da tragédia. Na lista de personagens que precede o texto, ele é identificado como Molosso.

Argumento

O enredo se baseia em variantes dos mitos de Andrômaca, Neoptólemo e Orestes após a guerra de Troia e após a morte de Clitemnestra. A tragédia se desenvolve em três partes: na primeira, há uma acirrada disputa entre Andrômaca e Hermíone, esta auxiliada por Menelau (1-675); na segunda, ocorre a fuga de Hermíone, ajudada por Orestes (676-1008); e na terceira, a morte de Neoptólemo em Delfos, instigada por Orestes (1009-1288).

Andrômaca, refugiada no templo de Tétis, relembra a época em que viva feliz em Troia; agora é concubina de Neoptólemo e teve um filho com ele. Informa que Neoptólemo está em Delfos, que escondeu seu filho em outro lugar e que Hermíone e Menelau procuram o menino e pretendem matá-la e a seu filho. Entra Hermíone e as duas se enfrentam e discutem; Hermíone maquina a morte da rival porque ela foi capaz de dar um filho ao marido.

Menelau chega ao palácio com Molosso e, mediante um engano, consegue tirar Andrômaca do altar; seus guardas prendem Andrômaca e o menino e todos saem. Após o intervalo coral, Andrômaca e o menino estão a ponto de serem mortos e lamentam sua sorte; Menelau se mostra inflexível diante das súplicas. O idoso Peleu entra em cena, enfrenta Menelau e após áspero diálogo resgata Andrômaca e seu filho; Menelau simplesmente volta para Esparta, abandonando a filha à sua sorte.

miniaturaA morte de Neoptólemo

Hermíone e a Ama lamentam a situação de Hermíone, que teme a reação do ausente Neoptólemo e quer se suicidar, mas é impedida pela Ama. Surge Orestes, a quem Hermíone revela sua desdita e seus temores; ele a tranquiliza, promete levá-la consigo e anuncia ter tramado, por vingança, a morte de Neoptólemo.

Peleu, Andrômaca e o filho retornam à cena e tomam conhecimento da fuga de Hermíone e Orestes; o Mensageiro então relata os detalhes da morte de Neoptólemo em Delfos. Chega o cadáver do filho de Aquiles e, após um canto de lamento entre Peleu e o Coro, a deusa Tétis aparece ex machina e revela o destino final de Peleu, Andrômaca e o menino: Peleu se tornará um deus e Andrômaca e o filho reinarão na terra dos Molossos.

Mise en scène

A cena se passa na Ftia, Tessália, não muito longe da casa de Neoptólemo, cuja entrada fica provavelmente no centro do cenário. Ao fundo, vê-se um altar e uma estátua de Tétis diante da entrada de seu templo.

O protagonista provavelmente fazia os papéis de Andrômaca, Orestes e Tétis; o deuteragonista, de Hermíone, Menelau e do mensageiro; e o tritagonista representava a escrava, Peleu e a Ama de Hermíone.

O filho de Andrômaca foi representado, provavelmente, por um ator-mirim e o corpo de Neoptólemo, naturalmente, por um boneco.

Estrutura dramática

Para o vocabulário utilizado no estudo da estrutura dramática, ver sinopse Estrutura básica das tragédias.

Prólogo 1-116: monólogo de Andrômaca (1-55), depois um diálogo entre Andrômaca e a Serva (56-90, com breve esticomitia em 79-88), seguido de novo monólogo (91-102) e da lamentosa monodia de Andrômaca (103-16), em dísticos elegíacos[99].

Párodo 117-146:

1º Episódio 147-273:

1º Estásimo 274-308:

2º Episódio 309-463:

2º Estásimo 464-544:

3º Episódio 545-765:

3º Estásimo 766-801:

4º Episódio 766-1008:

4º Estásimo 1009-1046:

Êxodo 1047-1288:

Manuscritos, edições e traduções

Andrômaca é uma das tragédias selecionadas, presente nos manuscritos da primeira família. O mais antigo, o Louaniensis deperditus (Universidade de Louvain, sæc. VI-VII), tem apenas alguns versos; o mais importante, com a tragédia completa, é M. Os manuscritos L e P, da primeira família, também têm o texto da tragédia.

Dispomos também de uma boa quantidade de papiros fragmentários; os mais extensos são os P.Oxy 3650, 449, 2543 e 2335. Os mais antigos datam do século II.

Passagens selecionadas

A tragédia é precedida nos mmss. de duas hypótheseis, uma delas atribuída a Aristófanes de Bizâncio e a outra às Histórias de Eurípides, de [Dicearco].

A editio princeps é a de Janus Lascaris[2]. Edições isoladas mais recentes são as de Scatena (Roma, 1956), Stevens (Oxford, 1971), Garzya (Leipzig, 1978) e Lloyd (Warminster, 1994 e 22005).

Em português, dispomos das traduções isoladas de José Ribeiro Ferreira (Coimbra, 1971), Priscila Buse (Curitiba, 2015) e Roosevelt Rocha (Curitiba, 2019).