Uma das tragédia completas de Eurípides, dramatiza eventos posteriores à Guerra de Troia.
Sumário
A tragédia data dos primeiros anos da Guerra do Peloponeso e estreou provavelmente em -425, de acordo com alguns
escoliastas[1]. É possível, no entanto, que tenha sido representada pela primeira vez fora de Atenas
(Σ Eur. Andr. 445).
Nada sabemos dos outros dramas da tetralogia, nem a premiação. No argumento
atribuído a Aristófanes de Bizâncio, a frase τὸ δὲ δρᾶμα τῶν δευτέρων, 'o drama é dos (está entre os) segundos' (Arg. 22 Diggle) tem recebido interpretações controversas: segundo lugar no concurso, segundo drama da tetralogia ou drama de segunda categoria?
Argumento
A morte de Neoptólemo
Andrômaca, após a queda de Troia, foi escravizada e se tornou
concubina de Neoptólemo, filho de Aquiles, que viajou para o Santuário de Delfos.
Hermíone, sua esposa, ajudada por Menelau, maquina a morte da rival, pois ela foi
capaz de dar um filho ao marido. Peleu aparece a tempo e salva Andrômaca e o bisneto.
Surge então Orestes, antigo noivo de Hermíone, que pretende levá-la com ele e, logo depois,
chega o corpo de Neoptólemo, assassinado em Delfos graças às intrigas de Orestes.
Personagens do drama
Andrômaca viúva de Heitor, concubina de Neoptólemo
Coro mulheres da Ftia
Hermíone filha de Menelau e de Helena, esposa de Neoptólemo
Menelau pai de Hermíone, rei de Esparta, irmão de Agamêmnon e tio de Orestes
[Molosso] filho de Andrômaca e de Neoptólemo
Peleu pai de Aquiles, avô de Neoptólemo, bisavô de Molossso
Orestes primo de Hermíone, filho de Agamêmnon e de Clitemnestra
Tétis uma das nereidas, ex-esposa de Peleu, avó de Neoptólemo
Ama de Hermíone
Serva
Mensageiro
Mise en scène
A cena se passa na Ftia, Tessália, não muito longe da casa de Neoptólemo. Ao
fundo, vê-se um altar e uma estátua de Tétis, diante da entrada de seu
templo.
O protagonista fazia os papéis de Andrômaca, de Orestes e do Mensageiro; o
deuteragonista, o de Menelau, o da Ama e o de Tétis; o tritagonista representava
Hermíone e Peleu.
Resumo
A tragédia tem 1288 versos, distribuídos em 56 páginas da edição de Diggle (1984), na
qual se baseia este resumo.
No prólogo (1-116) encontramos Andrômaca refugiada no templo de Tétis. Ela relembra a época em que viva feliz em Troia e informa que Neoptólemo está em Delfos, que escondeu seu filho em outro lugar e que Hermíone e Menelau procuram o menino e pretendem matá-la e a seu filho. No párodo (117-46), o Coro canta sua desesperadora situação e lhe recomenda que se resigne à sua sorte.
No primeiro episódio (147-273), Hermíone e Andrômaca se enfrentam, discutem e defendem suas respectivas posições. O Coro, no primeiro estásimo (274-308), canta o episódio do julgamento de Páris, origem mítica da Guerra de Troia. No segundo episódio (309-463), Menelau chega ao palácio com Molosso e, mediante um engano, consegue tirar Andrômaca do altar; seus guardas prendem Andrômaca e Molossos e todos saem. No segundo estásimo (464-544), o Coro canta os problemas causados pelo "duplo leito nupcial"; Andrômaca e Molosso lamentam sua sorte e Menelau se mostra inflexível diante das súplicas.
O idoso Peleu entra em cena no terceiro episódio (545-765), enfrenta Menelau e após áspero diálogo resgata Andrômaca e Molosso, e Menelau volta para Esparta, abandonando a filha. O Coro, durante o terceiro estásimo (766-801), canta a justiça e as façanhas que Peleu realizou na juventude.
Hermíone e a Ama lamentam a situação de Hermíone, que teme a reação do ausente Neoptólemo e quer se suicidar, mas é impedida pela Ama. Surge Orestes, a quem Hermíone revela sua desdita e seus temores; ele a tranquiliza, promete levá-la consigo e anuncia ter tramado, por vingança, a morte de Neoptólemo (quarto episódio, 766-1008). O Coro canta, a seguir (quarto estásimo, 1009-46), a perdição de Troia, abandonada por Apolo e por Posídon, a morte de Agamêmnon e de muitos heróis gregos durante a Guerra.
No êxodo (1047-288), Peleu, Andrômaca e Molosso retornam à cena e tomam conhecimento da fuga de Hermíone e Orestes; o Mensageiro então relata os detalhes da morte de Neoptólemo em Delfos. Chega o cadáver do filho de Aquiles e, após um canto de lamento entre Peleu e o Coro, a deusa Tétis aparece ex machina e revela o destino final de Peleu, Andrômaca e Molosso: Peleu se tornará um deus e Andrômaca e Molosso reinarão na terra dos Molossos.
Manuscritos, edições e traduções
A Andrômaca é uma das nove tragédias presentes na primeira família de manuscritos de Eurípides, a que tem escólios[1]. O mais antigo manuscrito com a tragédia completa é o Marcianus gr. 471, da Biblioteca de São Marcos, Veneza (sæc. XII); da mesma época é o Parisinus gr. 2713, da Biblioteca Nacional de Paris, e Diggle (1984) lista ainda mais uma dezena de mmss. mais recentes. Cerca de 50 versos da tragédia foram conservados, no entanto, em antigo manuscrito dos séculos VI-VII, o Louaniensis deperditus, conservado na Universidade de Louvain. Dispomos também de uma boa quantidade de papiros fragmentários; os mais extensos são os P.Oxy 3650, 449, 2543 e 2335.
A editio princeps é a de Lorenzo di Alopa, editada em Veneza no fim do século XV. Edições isoladas mais recentes da tragédia são as de Scatena (Roma 1956), Stevens (Oxford, 1971), Garzya (Leipzig, 1978) e Lloyd (Warminster, 1994).
Passagens selecionadas
Em português, dispomos das traduções isoladas de José Ribeiro Ferreira (Coimbra, 1971), Priscila Buse (2015), Roosevelt Rocha (Curitiba, 2019).