Eurípides / Fragmentos trágicos
Numerosas tragédias de Eurípides são conhecidas apenas através do título, de curtos resumos e/ou de fragmentos de extensão variável, alguns deles meras citações.
Sumário
A produção dramática do poeta compreende, de acordo com o anônimo autor da Vida de Eurípides (i.a9 e i.b5),
92 dramas, dos quais apenas 78 eram conhecidos em sua época. Esse número corresponde, certamente, ao que sabemos sobre o
cânone dos eruditos alexandrinos, estabelecido no século
Confrontando os dados da Vida, das fontes bizantinas (Thomas Magister, fl. c. 1310; Suda, sæc. X) e das fontes primárias disponíveis, foi possível reconstituir satisfatoriamente a lista de 78 dramas euripidianos existentes na Biblioteca de Alexandria ou, pelo menos, dos dramas conhecidos pelos estudiosos nessa época.
Alguns dramas mencionados em fontes antigas puderam ser acrescentados a essa lista pelos eruditos modernos, totalizando assim pelo menos 84 dramas euripidianos conhecidos, 74 tragédias e dez dramas satíricos. Se subtrairmos dessa lista os dramas satíricos (ver sinopse) e as 17 tragédias completas, existem então pelo menos 57 tragédias fragmentárias...
Os fragmentos conhecidos provêm de citações de outros autores, escólios, pedaços de papiro e transcrições parciais de
algumas tragédias em manuscritos danificados. Ocasionalmente, cenas de vasos ajudam a compor alguma cena mal definida e contribuem para o “
E muitos fragmentos vêm apenas com a informação de que são de Eurípides, mas sem indicação da tragédia à qual pertencem, como por exemplo o Eur. F 929b Kannicht.
Mini-catálogo. Sinopses
Algumas tragédias são razoavelmente bem conhecidas, graças ao número de fragmentos, aos argumentos parciais e aos testemunhos doxográficos. Do Télefo, do Faetonte e da Antíope, por exemplo, sabemos muita coisa. Mas pequena parte das tragédias euripidianas fragmentárias têm quantidade suficiente de versos para reconstituirmos a estrutura dramática e/ou o enredo, e delas sabemos mais sobre a lenda que inspirou o enredo trágico do que sobre a tragédia propriamente dita.
As Cretenses, por exemplo, dramatiza o mito das filhas de Catreu, rei de Creta, uma das quais desposou Atreu, filho de Pélops; Alcmeon em Psófis relata um episódio posterior ao ataque dos Sete Contra Tebas e aos Epígonos. Como no mito de Orestes, Alcmeon é perseguido pelas Erínias depois de matar a mãe por ordem dos deuses.
Algumas das menos incompletas tragédias da lista dos eruditos alexandrinos são: Alexandre, Andrômeda, Antíope, Belerofonte, Cresfonte, Cretenses, Erecteu, Estenebeia, Faetonte, Filoctetes,
Por enquanto, no Portal há informações mais detalhadas apenas sobre uma delas:
Edições e traduções
Dado o caráter fragmentário, não há manuscritos específicos com essas tragédias, mas as citações e fragmentos papiráceos são relativamente abundantes. Alguns dos fragmentos de Eurípides foram coletados pela primeira vez por Dirk Canter, entre 1570 e 1580, mas a primeira publicação (parcial) é a de Joshua Barnes (1694).
Várias outras coletâneas culminaram na edição padrão moderna de Richard Kannicht, em dois volumes (TrGF 5.1 e 5.2), com todos os fragmentos. Excelentes edições completas são também as de François Jouan e Herman Van Looy (Paris,
Não há, em português, nenhum panorama dos fragmentos de Eurípides. Efetuei, porém, estudo específico de 24 tragédias fragmentárias e traduzi alguns trechos para minha Tese de Doutorado (Ribeiro Jr., 2011). Publiquei também um estudo do Belerofonte, Clara Crepaldi (2016) traduziu os fragmentos da Andrômeda e Paloma F. Betini & Giuliana Ragusa (2023), os do Alexandre.
Em 2023, foi publicado o primeiro volume da tradução de Maria de Fátima Silva, da Universidade de Coimbra, de todos os fragmentos para o português.