Eurípides / Orestes
A mais experimental e não ortodoxa das tragédias de Eurípides, com 1693 versos.
Sumário
Orestes (gr.
Embora os personagens e o fundo mítico pertençam aos mitos tradicionais da família dos atridas e das consequências da guerra de Troia, a trama da peça foi inteiramente concebida por Eurípides e construída em torno de novos recursos teatrais.
Ainda na Antiguidade os episódios relativamente humorísticos da peça e o “final feliz” atraíram a atenção dos
críticos quanto ao caráter pouco trágico da tragédia e a ética dos personagens,
Temas principais: vingança e justiça, código heroico, lei natural X leis humanas, homicídio, julgamento, amor fraterno e amizade, conflito de gerações, doença e loucura, engano, responsabilidade divina.
Personagens do drama

O coro é constituído de mulheres de Argos, amigas de Electra; Electra é filha de Agamêmnon, irmã de Orestes e sobrinha de Menelau; Helena é esposa de Menelau; Orestes, filho de Agamêmnon, é irmão de Electra; Menelau, rei de Esparta, é marido de Helena; Tíndaro, pai de Helena e de Clitemnestra, é o antigo rei de Esparta; Pílades é primo e amigo de Orestes e Electra; Hermíone é filha de Menelau e Helena; o Frígio é um escravo de Helena e Menelau; Apolo é uma divindade.
Argumento
A tragédia se passa no sexto dia posterior à morte de Clitemnestra às mãos de Orestes e, na primeira cena, o jovem dorme, perturbado, em um leito diante do palácio de Agamêmnon. Electra informa que ambos estão sujeitos à pena de morte por causa do assassinato de sua mãe e, ansiosa, aguarda a vinda de Menelau, que só agora retorna da expedição a Troia, em companhia de Helena, a qual faz uma rápida e protocolar visita aos irmãos.

Orestes acorda e é informado por Electra que Menelau já chegou, mas logo depois é novamente atormentado pelas
Erínias. Menelau vem e se diz disposto a interceder em favor de Orestes e Electra no julgamento, após presenciar a
acalorada discussão entre Tíndaro, ultrajado pela morte da filha, e Orestes, mas
O fiel Pílades aparece e anima Orestes,
Quando os dois amigos tentam matar Helena, ela desaparece inexplicavelmente. Menelau se dirige apressadamente ao palácio, onde Orestes mantém Hermíone no teto, sob a ameaça de uma espada, prometendo atear fogo ao palácio. Diante do impasse, surge Apolo ex machina, ao lado de Helena, que se tornou uma divindade por ordem de Zeus. O deus reconcilia todos ao informar que, após um longo exílio, Orestes se casará com Hermíone e Pílades, com Electra; e Menelau reinará em Esparta durante muito tempo.
Mise en scène
A cena se passa em Argos, diante do palácio de Agamêmnon; perto da entrada há um leito, no qual Orestes permanece deitado, dormindo agitado, até o verso 211. A entrada do Coro é anunciada por Electra no verso 132, mas o canto começa mais tarde, no verso 140.
O protagonista provavelmente fazia o papel de Orestes; o deuteragonista, o de Electra, de Menelau e do Frígio; e o
tritagonista representava Helena, Tíndaro, Pílades, o mensageiro, Hermíone e Apolo. De acordo com Pickard-
Sabemos o nome do ator que representou Orestes na estreia da peça, graças a um erro de pronúncia cometido por ele ao
declamar o verso
Estrutura dramática
Prólogo 1-139: monólogo de Electra
Párodo 140-207: diálogo lírico entre Electra e o Coro, em metro predominantemente docmíaco, com dois pares de
estrofes (
Manuscritos, edições, traduções

Orestes
Orestes é uma das tragédias da família de peças selecionadas e
também faz parte da “tríade
Em alguns mmss. e papiros o texto é precedido de duas hypótheseis; a segunda contém alguns comentários
críticos e é atribuída a Aristófanes de Bizâncio. Um fragmento musical de uma das antigas representações da tragédia
(c.
A editio princeps é a Aldina (Florença, 1503). As mais recentes edições modernas isoladas são as de Vincenzo Di Benedetto (Florença, 1965); Werner Biehl (Leipzig, 1985); Charles Willink (Oxford, 1986); e Martin West (Warminster, 1987).
Orestes foi traduzida para o latim por Collinus em 1541, juntamente com as demais tragédias de Eurípides. Traduções para o português: Augusta F. Oliveira e Silva (Coimbra, 1982); Tereza V.R. Barbosa (Cotia, 2017); e Karen Sacconi (S. Paulo, 2021).
Recepção
A tragédia era muito popular na Antiguidade e foi citada por Aristófanes (Rãs), Aristóteles (Poética),
Êubulo
A primeira reapresentação teatral moderna se deu em dezembro de 1567, em latim, no Lecture Theatre do Museu Britânico, Londres, diante da Rainha Elisabete I. A peça foi provavelmente encenada pelos meninos da Westminster School.
Há várias representações artísticas do mito da loucura de Orestes da Antiguidade aos nossos dias; nenhuma, porém parece ter sido influenciada pela tragédia de Eurípides.