Eurípides / Alceste
A mais antiga tragédia de Eurípides que sobreviveu e, também, a única anterior à Guerra do Peloponeso. O drama tem 1163 versos.
Sumário
Alceste (
A primeira performance da Alceste se deu no concurso trágico das Dionísias Urbanas de
Até hoje há uma certa controvérsia quanto à exata natureza da peça. Segundo alguns críticos, a posição em último
lugar na tetralogia, o “final feliz” e o tom humorístico de algumas passagens a tornam mais condizente com um
drama satírico ou uma tragicomédia do que com uma tragédia; ela seria um drama
Desde Eurípides, Alceste é tida como modelo de fidelidade conjugal e de esposa inteiramente devotada ao
Personagens do drama

Apolo e Tânato são divindades; Admeto é o rei de Feras e Alceste, sua esposa; Feres, o antigo rei, é pai de
Admeto; o menino é um dos dois filhos de Admeto, que estudiosos antigos identificam com Eumelo, que combateu na
guerra de Troia. O coro é constituído por cidadãos proeminentes de Feras, provavelmente em número de quinze, formando
dois
Argumento
O enredo se baseia em antigas tradições
Apolo, agradecido pela bondade de Admeto, enganou as Moiras e conseguiu que o rei evitasse sua morte iminente se
alguém concordasse em
Uma serva descreve o leito de morte da rainha, particularmente o sofrimento de Admeto e dos filhos. Já perto do fim, Alceste delira e pede a Admeto que nunca mais se case. Ele promete e acrescenta que não mais permitirá comemorações e alegria em seu palácio. Alceste morre: é o único exemplo conhecido, em toda a tragédia grega, de morte representada no palco.
Pouco depois, Héracles chega ao palácio, a caminho de seu 8º trabalho. Amigo de Admeto, pede hospitalidade mas logo percebe que o palácio está enlutado e se despede. Admeto, no entanto, convence o herói a ficar, sem lhe revelar a morte da esposa.
Admeto e Feres discutem acremente durante o enterro de Alceste. Enquanto isso, em seus aposentos, o desavisado Héracles logo começa a beber e a festejar ruidosamente, mas um servo, horrorizado, revela o que se passa. Tocado pelo desprendimento do amigo, o herói luta com Tânato, vence o deus, recupera Alceste e a coloca, velada, nas mãos do espantado Admeto.
Mise en scène
O cenário representa a entrada do palácio real de Feras, Tessália.
O protagonista provavelmente representou Apolo e Admeto; o deuteragonista, Alceste, Feres e Héracles; o tritagonista,
Tânato e os servos. O papel do filho de Admeto e Alceste provavelmente foi representado por um
Aventou-se também a possibilidade de todos os papéis terem sido apresentados por apenas dois
Apolo carrega um arco (35) e, provavelmente, um carcás com setas
Estrutura dramática
Prólogo 1-76: monólogo de Apolo
Párodo 77-135. A entrada anapéstica “de marcha” ou recitativa
1º Episódio 136-212: diálogo entre o Coro e uma serva de Alceste
1º Estásimo 213-37, canto e dança coral com um único par estrófico: estrofe,
2º Episódio 238-434. Breve canto coral de anapestos recitativos introduz o episódio

2º Estásimo 435-75, constituído por dois pares estróficos: estrofe 1,
3º Episódio 476-567, com diálogos predominantemente esticomíticos entre Héracles e o corifeu
3º Estásimo 568-605, com dois pares estróficos: estrofe 1,
4º Episódio 606-961, muito longo e complexo; Conacher (1988, 181)
Na segunda parte
4º Estásimo 962-1005: estrofe 1,
Êxodo 1006-1163: o coro anuncia Héracles
Manuscritos, edições e traduções
A tragédia foi conservada pelos manuscritos da primeira família, a das
“peças selecionadas”. As fontes mais importantes são B, O e V, e também L e P, da segunda família. Outros mmss. e alguns papiros
contêm trechos da Alceste; os papiros mais importantes são o P.Hibeh 25,
O texto de alguns manuscritos é precedido de duas hypótheseis, uma dela atribuída a Aristófanes de Bizâncio e a outra, a [Dicearco]. A hypóthesis de [Aristófanes de Bizâncio], da qual o P.Oxy 2457 (início do sæc. II) tem alguns fragmentos, traz preciosas informações sobre o concurso.
A editio princeps é a de Janus Lascaris (Florença, c. 1494). Principais edições modernas isoladas (todas, menos a de Garzya, são edições comentadas):
- Amy M. Dale (Oxford, 1954);
- Antonio Garzya (Leipzig, 21983);
- Desmond J. Conacher (Oxford, 1988);
- Cecelia E. Luschnig & Hanna M. Roisman (Norman, 2003);
- Laetitia P.E. Parker (Oxford, 2007);
- Gustav A. Seek (Berlin, 2008).
Passagens selecionadas
Após a tradução geral das tragédias euripidianas para o latim em 1541, George Buchanan fez uma tradução em 1556 que
exerceu muita influência. A mais antiga tradução para o português é a de João Cardoso de Meneses e Sousa, o Barão de
Paranapiacaba (Rio de Janeiro,
- Frederico J. Peirone (Lisboa, 1961);
- Junito de S. Brandão (Rio de Janeiro, 1963);
- Manuel O. Pulquério & Maria Alice N. Malça (Lisboa, 1973);
- Mário G. Kury (Zahar, 1993);
- Nuno S. Rodrigues (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009);
- Jaa Torrano (Rio de Janeiro, 2018);
- Clara Crepaldi (Martin Claret, 2017).
Recepção
A versão euripidiana do mito de Alceste deve ter sido influenciada pela Alceste de Frínico, poeta trágico
ativo entre
Não há evidências diretas das reapresentações da Alceste na Antiguidade, exceto talvez o texto do P.Oxy. 4546, aparentemente destinado aos
ensaios do ator que iria representar
Em Roma, o poeta dramático Ácio
Na era moderna, a tragédia foi apresentada pela primeira vez no Collège de Guyenne (Bordeaux, França), entre 1542 e 1543, em latim. Algumas outras reapresentações notáveis: Bradfield College, Inglaterra (1882, direção de Frank R. Benson), em grego antigo; Coburn Players em Nova York (1910, direção de Blanche S. Wagstaff); Teatro de Pompeia (1927, direção de Ettore Romagnoli); Teatro grego-romano de Taormina (1956, direção de Guido Salvini); Cubiculo Theatre, Nova York (1973, direção de Maurice Edwards); antigo teatro de Siracusa, produção do Istituto Nazionale del Dramma Antico (2016, direção de Cesare Lievi).

Diversas adaptações teatrais e operísticas da Alceste, inspiradas em Eurípides, mas com expressivos desvios do tratamento do mito, apareceram também nos últimos séculos. As mais importantes são: Alceste, ou A Fidelidade (Alexandre Hardy, tragicomédia, 1602); Admeto, rei da Tessália (George F. Händel e Nicola F. Haym, ópera, 1660); Alceste, ou O triunfo de Hércules (Jean-Baptiste Lully e Philippe Quinault, ópera, 1674); Edward e Leonora (James Thompson, teatro, 1739); Alceste (Christoph W. Gluck e Ranieri de' Calzabigi, ópera, 1767); A segunda Alceste (Vittorio Alfieri, ópera, 1799); Alceste burlesca (Issachar Styrke, burlesco, 1816); Alceste, ou A Mulher Determinada Original (Francis Talfourd, burlesco, 1850); A festa (Thomas S. Eliot, teatro, 1949); Alcestíada (Thornton Wilder, teatro, 1955); Edufa (Efua Sutherland, teatro, 1962); Alceste (Ted Hugues, teatro, 1999).
A influência da Alceste na arte antiga e moderna é particularmente difícil de distinguir de meras ilustrações do mito, como a presença de
Alceste na cena de um epinetron do Pintor de Erétria (Atenas,
Do Renascimento em diante, vários artistas representaram Héracles salvando Alceste e/ou
Bibliografia
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