Eurípides / Heraclidas

Ἡρακλεῖδαι Heraclidae Eur. Heracl. -430 / -425
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Uma das mais antigas tragédias completas de Eurípides. O drama contém 1055 versos.

Sumário

Heraclidas (gr. Ἡρακλεῖδαι), lit. ‘Os filhos de Héracles’, foi representada pela primeira vez por volta de -430. Nada sabemos a respeito do concurso trágico e das peças que a acompanharam.

A tragédia tem a menor proporção de versos cantados dentre as tragédias euripidianas e é a única na qual os atores não cantam nenhum verso[1]. Outro elemento importante é a presença de um debate formal (agon) com a estrutura típica desse dispositivo retórico[2].

Temas mais importantes: exílio, suplicação, poder versus justiça, política e patriotismo, refúgio político, asilo, sacrifício humano voluntário, vingança, rejuvenescimento, prisioneiro de guerra.

Personagens do drama

miniatura Héracles e Iolau

O coro é constituído de cidadãos de Maratona. Iolau é o sobrinho e antigo companheiro de Héracles; o arauto argivo é o representante de Euristeu; Demofonte, filho de Teseu, é o rei de Atenas; a donzela é uma das jovens filhas de Héracles; Alcmena, viúva de Anfitrião, é a mãe de Héracles; Euristeu, rei de Argos, é primo e inimigo de Héracles. Os filhos de Héracles são representados por figurantes.

Ao longo da tragédia, o nome do arauto de Euristeu e da donzela não são mencionados. A antiga hypóthesis da peça fornece, porém, os seguintes nomes: Copreu (arauto) e Macária (donzela).

Argumento

O enredo se baseia no mito do retorno dos filhos de Héracles ao Peloponeso gerações após a morte do herói.

Os filhos de Héracles são perseguidos por Euristeu, rei de Argos, após a morte do herói. Acompanhados de Iolau, antigo companheiro de Héracles, e de Alcmena, sua avó, os jovens pedem ajuda a Demofonte, filho de Teseu e rei de Atenas. Graças ao sacrifício voluntário de Macária, uma das filhas de Héracles, os atenienses vencem o exército de Euristeu, que é capturado e morto.

miniatura Héracles e Euristeu

 

Mise en scène

A cena se passa em Maratona, Ática, diante do templo de Zeus Agoraios.

O protagonista fazia o papel de Iolau e o de Euristeu; o deuteragonista representava Demofonte e o Servo; e o tritagonista, o arauto, a donzela e Alcmena.

Iolau e os filhos de Héracles já estão posicionados na orquestra antes de o Prólogo começar.

Estrutura dramática

Para o vocabulário utilizado no estudo da estrutura dramática, ver sinopse Estrutura básica das tragédias.

Prólogo, 1-72: monólogo de Iolau (1-54), seguido de breve diálogo entre Iolau e o arauto (55-72).

Párodo, 73-119: estrofe (75-94) e antístrofe (95-119) com diálogos entre o Coro, Iolau e Copreu. Os coreutas cantam, os atores declamam em trímetros iâmbicos.

1º Episódio, 120-352: diálogos entre Demofonte, arauto, Iolau e Coro, em duas partes. Na primeira (134-287), após rápida introdução, há um agon entre Iolau e o arauto, com intervenções de Demofonte; após um canto coral (288-96) vem a segunda parte (297-352), com reflexões de Iolau e menções a preparativos para a guerra.

1º Estásimo, 353-80: estrofe (353-61), antístrofe (362-70) e epodo (371-80).

 

Manuscritos, edições e traduções

Heraclidas faz parte do ramo das peças alfabéticas, com apenas um ms. importante, L; os demais são apógrafos (cópias) de mmss. perdidos, dentre os quais o melhor é P. Em alguns mmss., uma hypóthesis antecede o texto.

Acreditava-se, até meados do século XX, que havia lacunas na metade e no final da peça e que algumas citações de comentadores antigos, não presentes no texto canônico da tragédia, pertenciam às passagens perdidas. A maioria dos eruditos duvida, no entanto, que esses fragmentos tenham sido, algum dia, parte do texto de Heraclidas[3].

A editio princeps foi publicada por Aldo Manutius em 1503. Edições isoladas e recentes da tragédia: Antonio Garzya (Leipzig, 1972), John Wilkins (Oxford, 1993) e William Allan (Liverpool, 2001).

A primeira tradução da tragédia para o latim foi efetuada por Collinus, juntamente com as demais (Basileia, 1541). Traduções isoladas para o português: Cláudia Cravo da Silva (Lisboa, 2000) e Clara Crepaldi (S. Paulo, 2017).

 

Ver também as traduções gerais de Eurípides

Recepção

A cena principal de um pelike lucaniano de figuras vermelhas do Pintor da Carneia, datado de c. -400 e conservado no Museo Nazionale della Siritide (links externos), pode refletir a tragédia de Eurídes, reapresentada provavelmente em Heracleia algum tempo antes[4]. Ou trata-se, naturalmente, de simples representação do mito.

A volta de Heraclidas aos palcos se deu em 1781, com uma adaptação da peça intitulada The Royal Suppliants, apresentada no Drury Lane de Londres.