Eurípides / Electra
Uma das mais impactantes tragédias do poeta ateniense Eurípides, com 1359 versos.
Sumário
Electra (gr.
A tragédia se baseia no mito do retorno dos atridas à Grécia, após a Guerra de Troia. Diferentemente de Ésquilo e de Sófocles, que abordaram o mesmo tema em Coéforas e Electra, respectivamente, Eurípides dá o maior destaque ao personagem de Electra, irmã de Orestes, em sua busca por vingança pelo assassinato de seu pai, Agamêmnon.
Nos tempos modernos, Electra foi considerada, desde o início, uma tragédia não trágica, exemplo mais
representativo do progressivo afastamento de Eurípides do cânone trágico estabelecido por
Temas principais: sofrimento feminino, tiranicídio e matricídio, ódio e obsessão, punição, vingança, retribuição e justiça, sacrifício humano, enganos, reconhecimento, nobreza e moralidade, honra e status social, relações familiares e obrigações, cena de reconhecimento. Os cantos corais tratam do escudo de Aquiles, da origem do ódio entre Atreu e Tieste e da morte de Agamêmnon.
Personagens do drama

das erínias
- Camponês
- Electra
- Orestes
- Coro
- Velho
- Mensageiro
- Clitemnestra
- Dióscuros
O Coro é constituído de jovens argivas, mais velhas do que Electra
Personagens mudos: Pílades, filho de Estrófio, primo e amigo de Orestes; Polideuces; servos diversos.
Argumento
Após a morte de Agamêmnon, Electra é forçada por Egisto a se casar com um camponês, a fim de evitar que um filho nobre tentasse vingar o avô. Orestes, enviado para longe por um fiel servo, tem a cabeça a prêmio; Electra vive miseravelmente, à espera do retorno do irmão.
Orestes e Pílades aparecem, e Orestes finge ser um amigo dele próprio, que está vivo e procura notícias da irmã;
Electra relata seu sofrimento e o camponês oferece hospitalidade aos visitantes. Quando um velho servidor de Agamêmnon
vem trazer mantimentos para ajudar Electra e o marido a receber os visitantes, reconhece Orestes e os três planejam a
vingança. O velho sugere que Orestes e Pílades entrem no palácio como estrangeiros, durante um sacrifício oferecido por
Egisto, e Electra anuncia que preparará a morte da mãe,
Bem sucedidos, Orestes e Pílades voltam do palácio, trazendo o corpo de Egisto. Orestes vacila ao ver que a mãe se
aproxima, mas Electra

Após uma discussão com Electra, Clitemnestra entra e é morta por Orestes, aparentemente com a ajuda de Electra (1165,
1168). Os dois irmãos expressam grande horror e arrependimento pela morte da mãe às suas mãos, mas surgem os dióscuros
ex machina. Castor ordena a Orestes casar Electra com Pílades e depois deixar Argos;
Mise en scène
A ação começa pouco antes do amanhecer (54, 102). A cena se passa diante de uma rústica casa de camponês (168) nos confins montanhosos da Argólida, região onde fica Micenas, próxima à fronteira (96, 251). Perto da entrada da casa há um pequeno altar dedicado a Apolo (216, 221).
O papel de Electra coube ao protagonista e o de Orestes, ao deuteragonista. O tritagonista representou todos os outros papéis: Camponês, Velho, Mensageiro, Clitemnestra e Castor.
Electra, pobremente vestida, com roupa em farrapos e
Objetos cênicos: um jarro; a espada de Orestes; um cordeiro (talvez um boneco), queijos e um odre de vinho. Os cadáveres de Egistro e Clitemnestra são mostrados em cena.
Estrutura dramática
Prólogo,
Párodo,
1º Episódio,
1º Estásimo,
2º Episódio,

2º Estásimo,
3º Episódio,
3º Estásimo,
4º Episódio,
4º Estásimo,
Êxodo,
Manuscritos, edições e traduções
Electra é uma das tragédias euripidianas da série alfabética e,
portanto, as fontes mais importantes são L e seus apógrafos, notadamente P. Dentre os fragmentos em papiros e óstracos,
A editio princeps, editada décadas após as edições de Lascaris (Florença, c. 1494) e de Aldus Manutius (Veneza, 1503), foi preparada por Petrus Victorius e publicada em Roma em 1545, graças à descoberta do manuscrito. Principais edições modernas isoladas: John Denniston (Oxford, 1939), Giuseppina Donzelli (Munique, 1995 e 22002); Martin Cropp (Warminster, 1988, 22013); Cecelia Luschnig & Hanna Roisman (Norman, 2014); Bernd Seidensticker (Berlin, 2025).
Passagens selecionadas
A tragédia foi anonimamente traduzida para o latim e publicada juntamente com o texto grego editado por Victorius em
1546. Traduções isoladas para o português: Maria Fernanda Brasete (Lisboa, 1998), Trajano Vieira (Cotia, 2009);
Karen Sacconi (S. Paulo, 2012; 2022); Tereza Virgínia R. Barbosa e
Recepção
De certo modo, a tragédia de Eurípides já é uma forma de recepção da tragédia
Coéforas, de Ésquilo
Arte
Dois vasos do século -IV, Berlim 30042 (Ilum. 1514, supra) e Teece 156.73, têm alguns
elementos da tragédia de
Literatura
Uma anedota conservada por Plutarco[99] conta que os espartanos não arrasaram Atenas
no final da Guerra do Peloponeso
Poetas como Richard Aldington (Troy’s Down, 1930); Hilda Doolittle (From Electra-Orestes,
Teatro

Electra foi reapresentada, quase sempre em adaptações, do século XIX em diante, e.g. em 1858 (New York’s
Academy of Drama; em 1906 e 1907 (Londres, Royal Court Theatre), baseada na tradução de Murray (infra),
utilizada em diversas produções inglesas e americanas posteriores; em 1963 (King's College London), em grego antigo; em
1968, no Antigo Teatro de Siracusa, sob a direção de Davide Montemurri; em 1972 (Centaur Theatre, Montreal), sob a
direção de Alan Barlow, com tradução de Philip Vellacott; em 1973 (Princeton University), dirigida pelo helenista Rush
Rehm; em 1989 (Antigo Teatro de Epidauro), direção de Kostas Tsianos; em 2019 (
Os fragmentos da tragédia Orestes, o escravo, do tragediógrafo romano Pacúvio, têm vários elementos da Electra, assim como as peças Electra (1901), de Benito Pérez Galdós; A torre além da tragédia (1924), de Robinson Jeffers; Electra enlutada (New York, Guild Theatre, 1931), de Eugene O’Neill; Électre (Paris, Théâtre de l'Athénée, 1937), de Jean Giraudoux; Electra ou A queda das máscaras (publ. Paris, 1954), de Marguerite Yourcenar; e Clytemnestra (Veneza, Teatro di Venezia, 1986), do japonês Tadashi Suzuki. Em Após a Electra de Euripides (1911), do poeta e satirista inglês Maurice Baring, os personagens discutem e criticam desfavoravelmente uma representação dessa peça de Eurípides.
Cinema
Em 1962, Michael Cacoyannis dirigiu uma película, também intitulada Electra, notável pela relativa fidelidade ao original de Eurípides; em 1974, o diretor húngaro Miklós Jancsó recorreu a alguns temas da versão euripidiana em Szerelmem, Elektra, ‘Meu amor, Electra’.
Bibliografia
K