Eurípides / Electra

Ἠλέκτρα Electra E. El. -413
Morte de ClitemnestraMorte de Clitemnestra

A Electra (gr. Ἠλέκτρα) de Eurípides foi representada em Atenas pela primeira vez por volta de -413, muito provavelmente nas Dionísias Urbanas. A data é ainda relativamente incerta e nada sabemos das outras peças apresentadas por Eurípides no mesmo concurso, ou o prêmio obtido.

Hipótese

Electra é a versão euripidiana da vingança final de Orestes, filho de Agamêmnon, rei de Micenas, contra os assassinos seu pai: a própria mãe, Clitemnestra, e Egisto.

Diferentemente de Ésquilo e de Sófocles, que abordaram o mesmo tema, Eurípides dá o destaque maior ao personagem de Electra, irmã de Orestes.

Dramatis personae

Camponês um miceniano, marido nominal de Electra Electra filha de Agamêmnon e de Clitemnestra, irmã de Orestes Orestes filho de Agamêmnon e de Clitemnestra, irmão de Electra Coro jovens camponesas da região de Argos, perto de Micenas Velho antigo servidor de Agamêmnon Clitemnestra viúva de Agamêmnon, mãe de Electra e de Orestes, esposa de Egisto Castor e Polideuces filhos de Zeus e Leda, irmãos de Clitemnestra Mensageiro servidor de Orestes

Personagem mudo: Pílades, filho de Estrófio, primo e amigo de Orestes.

Mise en scène

A cena se passa diante de uma simples casa de camponês da Argólida, região em que se localiza Micenas. O protagonista fazia o papel de Electra; o deuteragonista, o de Orestes; o tritagonista, os papéis do camponês, do velho, do mensageiro, de Clitemnestra e de Castor.

Resumo

A tragédia tem 1359 versos, distribuídos em cerca de 50 páginas da edição de Parmentier e Grégoire (1927), na qual este resumo se baseia.

O camponês com quem a aristocrática Electra foi obrigada a se casar pelos assassinos do pai, Egisto e Clitemnestra, expõe a humilhante situação de Electra. Pobremente vestida, ela entra carregando um pote de água e agradece a amizade e o apoio do camponês. Orestes e Pílades chegam, acompanhados de servidores, e assistem escondidos Electra lamentar a morte de Agamêmnon (Prólogo, 1-166). O coro chega e anuncia a aproximação da festa ritual de Hera; Electra diz que não comparecerá, e que se sente abandonada pelos deuses (Párodo, 167-212).

Electra descobre Orestes escondido. Ele finge ser um amigo dele próprio, que está vivo e procura notícias da irmã. Electra relata seu sofrimento e o que ocorre atualmente no palácio. O marido de Electra reaparece e oferece hospitalidade aos visitantes; Orestes reconhece perante Electra seu valor (1º Episódio, 213-431). O coro canta o escudo de Aquiles e a seguir prevê a morte de Clitemnestra (1º Estásimo, 432-486).

Um velho servidor de Agamêmnon vem trazer mantimentos para ajudar Electra e o marido a hospedar os visitantes. Ele reconhece Orestes e revela a Electra que é ele seu irmão ausente. Os três planejam a vingança e o velho sugere que Orestes e Pílades entrem no palácio como estrangeiros, durante um sacrifício oferecido por Egisto. Electra anuncia que preparará a morte da mãe e manda-lhe a falsa notícia de que deu à luz uma criança. Todos saem, depois de orar aos deuses (2º Episódio, 487-698). O coro canta a origem lendária do ódio entre Atreu e Tiestes (2º Estásimo, 699-746).

Electra e o coro ouvem gritos. Um servidor de Orestes aparece, anuncia-lhes a morte de Egisto e descreve os acontecimentos (3º Episódio, 747-858). Canto e dança triunfal do coro e de Electra (3º Estásimo, 859-879).

Orestes e Pílades voltam, trazendo o corpo de Egisto. Electra fala ao Egisto morto o que não pudera falar ao vivo, e Orestes vacila ao ver que a mãe se aproxima. Electra instiga-o, utilizando o oráculo de Apolo como argumento. Orestes cede, mas deixa bem claro que vai matar a mãe porque é o desejo dos deuses. Esconde-se na casa de Electra, e logo depois chega Clitemnestra.

Clitemnestra e Electra discutem, e a mãe mostra uma certa ponderação e algum arrependimento; a filha, irreprimível desejo de vingança. Clitemnestra entra, finalmente, na casa (4º Episódio, 880-1146). O coro relembra a morte de Agamêmnon. Ouve-se a súplica de Clitemnestra, antes da morte, e a seguir Orestes e Electra saem da cabana. Lamento alternado Orestes / coro e Electra / coro. Orestes mostra-se horrorizado com o que fez a mando dos deuses (4º Estásimo, 1147-1232).

Surgem Castor e Polideuces, deuses ex machina; Castor ordena a Orestes casar Electra com Pílades e depois deixar Argos. Avisa-o que as terríveis Keras irão persegui-lo, que deverá submeter-se ao tribunal em Atenas, e que considera Apolo culpado de tudo, devido ao oráculo proferido; finalmente, menciona que Helena jamais esteve em Troia. Orestes e Electra se despedem (Êxodo, 1233-1359).

Passagens selecionadas

Manuscritos, edições e traduções

Electra é uma das tragédias alfabéticas, portanto a fonte mais importante é o manuscrito Laurentianus plut. 32.2, do século XIV, conservado atualmente na Biblioteca Laurenciana de Florença.

A primeira edição ocidental em grego — editio princeps — é a de Victorius, publicada em 1545. Principais edições modernas isoladas: Wecklein (1906), Parmentier e Grégoire (1927), Denniston (1939), Alt (1964), Cropp (1988, 22013) e Donzelli (1995).

Traduções para o português: Maria Fernanda Brasete (1998), Trajano Vieira (2009) e Karen Sacconi (2012, não publicada).