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Hespérides

ἙσπερίδεςHesperides

As hespérides personificam a luz crepuscular do final da tarde, na transição entre o dia e a noite.

Sumário

Origem e natureza

As hespérides são descendentes diretas de Nix. Ninfas de bela voz, vivem em longínquo e inacessível jardim situado no extremo Oeste, além das margens de Oceano, onde o sol se põe. Atlas sustentava o céu ali perto e também as górgonas viviam nas proximidades.

O Jardim das Hespérides era particularmente conhecido pelas árvores com maçãs (pomos) de ouro, plantadas pela deusa Hera. As maçãs foram presente de Gaia a Hera, por ocasião de seu casamento com Zeus. O jardim também tem fontes de ambrosia e Zeus costuma ir lá repousar.

miniaturaHespérides, Ládon, Héracles e Iolau

Árvores e pomos de ouro eram vigiados por uma gigantesca serpente, Ládon (gr. Λάδων), que descendia de Fórcis e Ceto. De acordo com os pintores de vasos, hespérides e serpente se davam muito bem.

As hespérides eram três: Egle, Hespera e Eriteis (ou Eriteia). Os nomes são alusões, respectivamente, à luz do sol, ao entardecer e à vermelhidão do céu.

Os mitos das Hespérides

Episódios selecionados

O jardim e as hespérides participam, juntamente com Atlas, do 11º trabalho de Héracles.

Pouquíssimo tempo depois da saída de Héracles, as hespérides auxiliaram os argonautas a encontrar água.

De acordo com Colutos (Rapto de Helena 59-63), o “pomo da discórdia” que Éris utilizou para desencadear a Guerra de Troia veio de lá.

Hesíodo, Teogonia 215-7, 274-5, 333-5 e 517-8; Mimnermo 12; Estesícoro S 8; Ferécides F 16; Eurípides, Hipólito 742-51 e Héracles 394-9; Apolônio de Rodes 4.1396-449; Pausânias 5.11.6, 5.17.2 e 6.19.8.

Variantes

De acordo com Êumelo (Titanomaquia F 9), Acusilau (F 10) e Epimênides dizem que as harpias são as guardiãs do jardim, porém as identifica com as hespérides. Diodoro Sículo afirma que elas cuidavam de belos carneiros, e não de maçãs, e que Drácon era o nome de seu pastor.

Em Ferécides (F 16), as hespérides são filhas de Zeus e Têmis; em Apolônio de Rodes (1414), de Oceano; e em [Higino] (Histórias, prefácio 1) e Cícero (Da natureza dos deuses 3.44), de Érebo e Nix. Diodoro Sículo (4.27) detalha que são filhas de um mortal denominado Atlas e sua sobrinha-esposa Hesperis. Há outras versões, todas tardias.

miniaturaO jardim das hespérides

A quantidade de hespérides varia de duas (Fídias) a sete (Diodoro Sículo 4.27), dependendo do autor ou artista. Os nomes variam muito.

O Jardim se localiza na Líbia (Diodoro Sículo 4.26) ou no extremo norte, entre os hiperbóreos ([Apolodoro], Biblioteca 2.5.11), ou em Tartesso (Estrabon, Geografia 3.2.13), no sul da Península Ibérica. Há mais versões, entre elas a de Luís de Camões (Lusíadas 5.8.1-6, 1576), que situou o jardim no arquipélago de Cabo Verde (Neto 2008, p. 191).

Para Ateneu (3.83c), os pomos eram ‘cidras’ (gr. sg. κίτριον), os frutos da cidreira.

Recepção

Do Período Arcaico em diante as hespérides foram retratadas por escultores, como Teocles (c. -550) e Fídias (c. -490/-430), mas essas obras se perderam. Algumas cenas de vasos do Período Clássico chegaram, no entanto, até nós.

As hespérides eram representadas como mulheres jovens e belas em meio a árvores frutíferas, usualmente na companhia de uma serpente enroscada no tronco de uma delas. Héracles estava presente com frequência.

As hespérides e seu jardim eram frequentemente mencionadas pelos poetas, particularmente Estesícoro e Eurípides, entre os antigos, e Nono de Panópolis (375-450), entre os da Antiguidade tardia. Poetas romanos (e.g. Virgílio, Eneida 4.480-6) também as citavam.

Até meados da Idade Média, a laranja doce não era conhecida na Europa. Da mesma família da cidra, foi introduzida pelos árabes no século X e, em alguns séculos, a laranja era uma espécie de moda na mesa dos ricos e poderosos. Na Itália, durante a Renascença, jardins ornamentais com laranjeiras eram equiparados ao Jardim das Hespérides; a fruta, aos míticos pomos de ouro; e Héracles se tornou o mítico introdutor dos dourados frutos do Jardim no mundo dos mortais (Paulus, 2017).

Poetas como Giovanni Pontano (1500), Robert Greene (1594) e Robert Herrick (1647) cantaram muito as laranjas, o Jardim e as hespérides, e pouco a serpente. Botânicos como Giovanni Battista Ferrari (1646) e Johann Christoph Volkamer escreveram sobre laranjas, sob o título Hesperides (1646 e 1708, respectivamente). E pintores como Jan van Eyck (O Casal Arnolfini, 1434) e Sandro Boticelli (Primavera 1477/1482) recorreram a laranjas e laranjeiras em suas obras.

miniaturaAs guardiãs do jardim

Após a Renascença, notadamente em pinturas de William Turner (A deusa da discórdia..., 1806), Frederic Leighton (O Jardim..., 1892) e outros, o Jardim era visto como sinônimo de tranquilidade, ócio e beleza.

Em 1721, Pietro Metastasio (libreto) e Nicola Porpora (música) apresentaram em Nápoles uma cantata intitulada Gli Orto Esperidi, ‘O Jardim das Hespérides’. E, como no antigo mito, as Hespérides cantaram...