Hinos homéricos
Coletânea de poemas dedicados a várias divindades atribuídos, na Antiguidade, ao poeta Homero.
Sumário
A flagrante heterogeneidade de estilo, de construção e de vocabulário dos “hinos homéricos” indica que os poemas são de diferentes autores, diferentes épocas e, ainda, de diferentes regiões do mundo grego. Não se sabe precisamente quando a coletânea foi reunida.
Metro e função
O metro desses hinos era o hexâmetro, o que os situa ao lado da Ilíada, da
Odisseia, dos poemas de Hesíodo e de outros poemas épicos. A julgar pelo testemunho de
Tucídides (3.104) e por outras evidências, eram eles recitados pelos rapsodos a título de
introdução ou prelúdio (ou, ainda, proêmio, gr.
Esses hinos tinham a função de invocar a divindade celebrada ou homenageada na
ocasião e muitos certamente antecediam a declamação de outros poemas ou de cantos corais, como se vê, por exemplo,
nos versos finais de alguns hinos, e.g. h. Hom.
αὐτὰρ ἐγὼν ὑμέων τε καὶ ἄλλης μνήσομ' ἀοιδῆς.
E a seguir eu me lembrarei de vós e também de outro canto.
33 hinos para 22 divindades
Eis a relação completa dos hinos da coleção, organizada em ordem alfabética, de acordo com a
divindade homenageada. O número entre parênteses indica a posição dos hinos nos manuscritos
medievais
- Afrodite (5, 6, 10)
- Apolo (3, 21)
- Ares (8)
- Ártemis (9, 27)
- Asclépio (16)
- Atena (11, 28)
- Deméter (2, 13)
- Dioniso (1, 7, 26)
- Dióscuros (17, 33)
- Gaia (30)
- Hefesto (20)
- Hélio (31)
- Hera (12)
- Héracles (15)
- Hermes (4, 18)
- Héstia (24, 29)
- Musas (25)
- Pã (19)
- Posídon (12)
- Reia / Cibele (14)
- Selene (32)
- Zeus (23)
Estrutura e autoria
A extensão e a qualidade dos hinos é desigual; eles ocupam cerca de 190 páginas da edição de Humbert (1936). O mais longo é o hino a Hermes 4, com 580 versos, e o mais curto é o hino a Deméter 13, com apenas 3 versos.
Os hinos maiores são os mais importantes: a Deméter (h.Hom. 2), a Apolo (h.Hom. 3), a Hermes (h.Hom. 4) e a Afrodite (h.Hom. 5). Dos hinos curtos, os mais notáveis são um dos hinos a Dioniso (h.Hom. 7), sobre a captura de Dioniso pelos piratas; o hino a Pã (h.Hom. 19), que mostra as atividades do deus dos pastores nos campos e nos bosques, em plena natureza, e os hinos a Gaia, a Hélio e a Selene, que celebram três das mais antigas divindades do panteão grego.
Apesar da grande variação na quantidade de versos, praticamente todos os hinos seguem a seguinte estrutura em três partes: inuocatio, "invocação", apóstrofe ao deus homenageado; pars epica, "parte épica", descrição dos atributos divinos eventualmente acompanhada do relato de um ou mais episódios de seu mito; e precatio, "súplica", que contém uma saudação final, uma prece e, muitas vezes, uma sequência, i.e., uma referência a um outro hino ou poema cantado no festival.
Conhecemos o autor do mais longo dos hinos dedicados a Apolo, um rapsodo chamado Cineto de
Quios (fl.
Sinopses
Eis os hinos homéricos “maiores” e alguns dos hinos “menores”:
Manuscritos, edições e traduções
Manuscritos
Os hinos homéricos chegaram até nós através de muitos manuscritos, mas nenhum deles
contém todos os hinos e a maioria está em más condições. Os mais importantes são o
Leidensis 33 H (sæc. XIV), da Biblioteca Universitária de Leyde; o Ambrosianus 120
(sæc. XV), da Biblioteca Ambrosiana de Milão; e o Athous Vatopedi 671 (sæc. XIV), da
Biblioteca do Monastério de Vatopedi. Dentre os papiros, os mais relevantes são o P. Berl.
13044 (sæc.
Edições
A editio princeps é a de Demetrius Chalcondyles (Florença 1488), logo seguida pela Aldina, em 1504, exceto para o h.Hom. 2, a Deméter, descoberto somente em 1777. Outras edições antigas: Barnes (1711), Wolf (1784), Matthiae (1805), Baumeister (1860), Gemoll (1886) e Goodwin (1893). As edições modernas mais importante são a de Allen & Sikes (1904, 21936) e a de Humbert (1936); a mais recente é a de West (2003).
Traduções
As primeiras traduções dos hinos para o português são a de Malhadas para o hino a Deméter (1970); a de Malhadas e Moura Neves, para o hino a Apolo Délio (1976); a de Machado Cabral para o hino a Apolo Pítio (1998); a de Marquetti, para os hinos a Afrodite (2001); e a de Ordep Serra, para o hino a Hermes (2006). Jair Gramacho publicou, em 2003, uma versão poética de vários hinos maiores. A primeira tradução da coleção completa é a de Maria Lúcia G. Massi (2006), preparada para o seu doutorado.
Entre 2001 e 2008 participei de um projeto de tradução e estudo de todos os hinos homéricos,
juntamente com meus amigos da Faculdade de
Ciências e Letras de Araraquara, Sílvia Schmuziger de Carvalho, Flávia Regina Marquetti,
Fernando Brandão dos Santos, Maria Celeste Consolin Dezotti e Edvanda Bonavina da Rosa, e mais
minha colega Maria Lúcia Massi, então