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Catálogo das Mulheres

Ἠοῖαι Ehoeae Hes. / Ehoiae Fr. -625 / -550
Algumas partes desta sinopse foram retiradas do texto introdutório de meu artigo (Ribeiro Jr. 2004) sobre o F 19-20 Most (= F 23a Merkelbach-West).

Poema épico fragmentário, incorretamente atribuído a Hesíodo na Antiguidade.

Sumário

Introdução

O anônimo autor (ou autores) do Catálogo das mulheres (gr. Γυναικῶν Κατάλογος), também conhecido por Ehoiai (gr. Ἠοῖαι), deve ter composto ou compilado o poema entre o final do século -VII e a primeira metade do século -VI (Most 2006, p. lviii) ou entre -580 e -520 (West 1985, p. 136-7).

O Catálogo das mulheres descreve de forma sumária, em hexâmetros dactílicos, diversos mitos de heróis e heroínas, arranjados de forma genealógica e aproximadamente geográfica, que cobrem praticamente toda a idade heroica da Grécia. A linguagem é formular e se caracteriza pela recorrência da fórmula ἠ' οἵη, 'ou como ...', que introduz vários grupos genealógicos através do nome das heroínas.

miniaturaUm jovem lê o Catálogo das mulheres

Para Evelyn-White (1936, p. xxii), isso se deve ao fato de os mais antigos e importantes grupos familiares helênicos alegarem descendência divina, nem sempre fácil de comprovar. As mulheres seriam, portanto, forma mais segura de estabelecer as linhagens e seus entrelaçamentos...

Aparentemente o poeta do Catálogo imaginou a genealogia dos mortais como uma continuação da Teogonia hesiódica, que termina com um catálogo das deusas que se uniram a homens mortais. Os dois últimos versos da Teogonia (1021-2) são, na verdade, os dois primeiros versos do Catálogo das Mulheres:

νῦν δὲ γυναικῶν φῦλον ἀείσατε, ἡδυέπειαι
Μοῦσαι Ὀλυμπιάδες, κοῦραι Διὸς αἰγιόχοιο.
e cantai agora a estirpe das mulheres, Musas olímpicas
de doce voz, filhas de Zeus porta-égide.

Estrutura básica

As histórias são típicas dos mitos heroicos, geralmente sucintas e, menos frequentemente, muito detalhadas. Alguns dos mitos do Catálogo não são encontrados em nenhuma outra fonte.

Segundo a Suda (s.v. Ἡσίοδος), o texto original era dividido em cinco livros, com mais ou menos 4000-5000 versos. A divisão remonta, provavelmente, à época dos eruditos alexandrinos.

Livro 1 Invocação, descendentes de Deucalião, filho de Prometeu, de Heleno e de Éolo. Descendentes de Éolo (primeira parte). Livro 2 Descendentes de Éolo (segunda parte) e de Ínaco, Belo e seus descendentes incluídos. Livros 3-4 Descendentes de Agenor, irmão de Belo, de Pelasgo, de Atlas (pelópidas incluídos), de Asopo, de Cécrops e de Erecteu. Livro 5 Pretendentes de Helena, plano de Zeus para a destruição dos heróis.

De acordo com Ormand (2014, p. 1), “todas as genealogias heroicas culminam na história do casamento de Helena, que (...) conduz enfaticamente ao final da idade dos heróis”.

Edições e traduções

Passagens selecionadas

Assim como outras obras gregas que não sobreviveram, o texto atual do Catálogo é constituído de fragmentos de papiros e de citações de autores antigos, totalizando 184 framentos na edição de Most.

Além dos 56 versos do Livro 4 que o poeta do Escudo de Héracles imitou (F 139 Most), temos, no entanto, somente trechos de tamanho e importância variável, totalizando pouco mais do que um quarto do poema. O livro I é o menos mal conhecido.

O primeiro a reunir os fragmentos de Hesíodo foi Heinsius (Leiden, 1603), mas o editor que organizou os fragmentos do Catálogo de forma mais sistemática foi Marckscheffel (Leipzig, 1840). Depois de Rzach (Leipzig, 31913), a edição mais importante do Catálogo é a de Merkelbach e West (1967, 21990), a mais utilizada por grande parte dos estudiosos. A recente edição de Most (2006/2007) — utilizada no Portal —, com vários fragmentos novos, é também uma mais mencionadas.

Edição comentada: Hirschberger (2004). Estudos importantes foram também publicados por West, Hunter e Ormand (ver Referências infra).

Em português, dispomos apenas da tradução dos primeiros 56 versos do Escudo (F 139 Most; cf. Torrano 2000) e de algumas curtas passagens em artigos e trabalhos acadêmicos, e.g. o F 23a M-W (= F 19 Most; cf. Ribeiro Jr. 2004) e os F 1, 19-21, 154-6 Most (cf. Oliveira Pinto 2020).

Recepção

O poema era tido em alta conta durante toda a Antiguidade, notadamente do Período Helenístico em diante. Referências aos mitos descritos no Catálogo podem ser encontrados em diversos autores, e.g. Teócrito, Arato de Soli, eruditos alexandrinos, Apolônio de Rodes, Estrabon (-64/19), Dio Crisóstomo (40/120) e Pausânias (115/180), entre outros, e em vários escoliastas.

Enorme foi sua influência na estruturação da Biblioteca do Pseudo-Apolodoro; outros escritores, muitos deles relativamente obscuros, também compuseram catálogos inspirados no do Pseudo-Hesíodo: Hermesianax e Fanocles (sæc. -IV); Niceneto de Samos (sæc. -III) e Sosícrates de Fanagoria (sæc. -I?). Entre os romanos, Catulo, Virgílio e Ovídio se inspiram em várias passsagens.