Helânico

Ἑλλάνικος Hellanicus Historicus Hellanic.
Fragmento da ‘Atlântida’ de HelânicoFragmento da ‘Atlântida’ de Helânico

contemporâneo de Heródoto, Helânico (gr. Ἑλλάνικος) — também chamado de Helânico de Lesbos ou de Mitilene — viveu entre -496 e -411, a julgar pelas informações da historiadora Panfila (fl. 54/68).

Nasceu em Mitilene e viajou, muito provavelmente, pelos diversos lugares a respeito dos quais escreveu. Infelizmente, nada mais sabemos ao certo sobre sua vida (ver Gell. 15.23 e Smith, 1867, s.v. Hellanicus).

Obras

Muitas obras atribuídas a Helânico pelos antigos são espúrias. As que foram consideradas de sua efetiva autoria são habitualmente classificadas em três tipos:

Genealógicas
Deucalioneia (em 2 livros), Foroneia, Atlântida, Os Troianos (em 2 livros)
Geográficas
Áticas (em 4 livros, pelo menos), Eólicas, Pérsicas
Cronológicas
As sacerdotizas de Hera (3 livros), Os Vencedores das Carneias

A Deucalioneia contém as tradições da Tessália sobre a origem da humanidade, e enumera os descendentes de Deucalião até a época dos Argonautas (Clem. Al. Strom. 6.2.26-7). Na Foroneia, Helânico relata as origens humanas do ponto de vista dos Pelasgos e dos Argivos, desde o tempo de Foroneu até Héracles (D.H. 1.28). Atlântida contém curtos relatos sobre os descedentes de Atlas, notadamente os filhos das Plêiades e das Híades (Σ Il. 18.486), no estilo seguido por Hesíodo na Teogonia.

Os Troianos é um trabalho mítico e literário sobre os descedentes de Dárdano (Σ Il. 21.242); Helânico baseou-se principalmente nas informações da Ilíada e descreveu vários episódios da epopeia, como por exemplo a luta entre Aquiles e o rio Escamandro / Xanto (Il. 21.211-71).

Áticas, o mais extenso trabalho de Helânico, foi mencionado por Tucídides (1.97.2) sob o título Ἀττικὴ Ξυγγραφή, 'História da Ática', e contém uma história da Ática desde as origens míticas até a Guerra do Peloponeso; alguns personagens históricos, como Milcíades e o orador Andócides, foram ligados genealogicamente a ancestrais míticos. Eólicas continha a história dos eólios das ilhas do Egeu e da Ásia Menor; Pérsicas, a história dos persas, dos medos e dos assírios, relacionada miticamente com a lenda de Perseu e Andrômeda.

Sacerdotizas de Hera, mais crônica do que cronologia, contém uma compilação em ordem cronológica do "mandato" das sacerdotizas do heraion de Argos e dos eventos mais importantes que ocorreram durante seus respectivos sacerdócios; a fundação de Roma é mencionada (F 1a.4.F84). Os Vencedores das Carneias contém uma lista dos vencedores dos concursos literários e musicais das Carneias, festival espartano dedicado a Apolo, supostamente fundado por Terpandro em -676; um dos fragmentos menciona o semilendário citaredo Aríon.

Influência

Grande foi a influência de Helânico em seus contemporâneos e nos historiadores posteriores. É possível que o Pseudo-Apolodoro, ao preparar sua Biblioteca Mítica, tenha seguido a estrutura de suas obras genealógicas. Historiadores separados por um longo período, como Tucícides (1.97.2) e Timeu (Plb. 12.12), falam a seu respeito.

Embora tenha abordado principalmente as origens míticas de certas comunidades gregas e bárbaras, Helânico muitas vezes menciona ou descreve fatos eminentemente históricos, alguns deles de sua própria época, mas sempre segundo uma perspectiva puramente local.

De fato, o trabalho de Helânico é uma espécie de transição entre os logógrafos mais antigos e os primeiros historiadores, Heródoto e Tucídides, que foram certamente influenciados por ele. E, segundo Smith (1870, s.v. Hellanicus), sua obra Os Vencedores das Carneias constituiu a primeira tentativa conhecida de se escrever uma história da literatura grega.

Manuscritos, edições, traduções

Todas as obras de Helânico se perderam, mas resta-nos considerável número de fragmentos, em geral citações de autores tardios. Os fragmentos foram editados por Sturz (Leipzig, 1796), Preller (Dorpat, 1840) e Müller (Paris, 1841). Todos podem ser encontrados nos FGrH 4 de Jacoby (1923-  ).

Recentemente, novo fragmento da Atlântida (Hellanic. F 19b Fowler) foi descoberto em um dos papiros de Oxirrinco, Egito, e editado por Cavallo em 1967 [Ilum. 0954].

Não há, ainda, tradução dos fragmentos para o português.