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O mito de Héracles

ἩρακλῆςHercules

Héracles, filho de Zeus e de uma bela mortal, Alcmena, o mais popular dos heróis gregos, era cantado e cultuado praticamente em todas as póleis.

O herói descendia de Perseu, a quem era aparentado tanto pelo lado paterno quanto pelo lado materno. Alcmena era filha de Electríon, rei de Micenas, que por sua vez era filho de Perseu. Como Perseu era filho de Dânae e de Zeus, Héracles era a um tempo irmão e bisneto do vencedor da Górgona.

Héracles e a trípode
Fig. 0216. Cena B de ânfora de figuras vermelhas do Pintor de Berlim, c. -500. Würzburg 500.

Dotado de imenso vigor físico, sua força se tornou proverbial. Realizou proezas incríveis, armado com a característica clava, arco e flechas e quase sempre vestido com uma pele de leão (Fig. 0216). Nada resistia a ele. Derrotou monstros antes invencíveis, conquistou cidades e seus reis, venceu em combate os próprios deuses.

Héracles teve sua primeira aventura no próprio berço e, depois de uma vida intensa, movimentada e cheia de perigos, seu corpo terreno morreu. Os gregos acreditavam, no entanto, que logo depois sua “parte divina” havia ascendido ao Olimpo e que ele, até então um simples herói[1], havia conquistado a divindade.

Suas façanhas mais famosas foram os 12 trabalhos que efetuou a mando de seu primo Euristeu, instigado pela ciumenta deusa Hera. Tantas foram suas aventuras que os antigos já organizavam as histórias sobre ele em três grupos:

  1. as ‘proezas’ (gr. πράξεις), realizadas antes e depois dos 12 trabalhos;
  2. os ‘trabalhos’ (gr. ἆθλοι) propriamente ditos;
  3. as ‘façanhas paralelas’ (gr. πάρεργα) aos trabalhos.

A figura de Héracles, desse modo, permeava tanto o domínio ctônico, da terra, próprio aos heróis, quanto o domínio divino, próprio dos deuses. O poeta Píndaro chamava-o, muito apropriadamente, de herói-deus (Nemeias 3.22). “Seu culto existia em toda a parte, menos na ilha de Creta; na mesma festa ofereciam-lhe sacrifícios primeiro como herói e depois como deus” (Burkert 1993, p. 405).

Fontes

As mais antigas menções à lenda de Héracles estão na Ilíada (e.g. 5.392-404, 8.362-9, 19.95-133) e na Teogonia, de Hesíodo (e.g. 289-94, 526-34), mas são muito breves. De modo geral, a maioria das referências textuais antigas se perdeu; atualmente, nossa melhor fonte é um “resumo” tardio, escrito pelo Pseudo-Apolodoro (2.4-7) no século -II.

Os documentos iconográficos também fornecem muitas informações e algumas imagens representam até mesmo episódios não relatados pelas fontes literárias.

Iconografia

Durante o Período Arcaico, Héracles e suas heroicas aventuras constituíram um dos temas mais populares entre os artistas gregos; seus atributos habituais eram a barba, a pele de leão e a clava, notadamente (Fig. 0216, supra), além de olhos um tanto salientes.

Durante o século -IV sua popularidade diminuiu consideravelmente e o aspecto humano do herói passou a ser mais valorizado. Ele era, em geral, representado sem a barba e, algumas vezes, até mesmo sem as armas características.

Literatura

Três tragédias gregas sobre o mito de Héracles chegaram até nós, duas de Eurípides (Héracles e Heraclidas) e uma de Sófocles (Traquinianas). Sua influência em toda a produção cultural do Ocidente é muito grande, e só a lista de obras literárias baseadas em sua lenda já é espantosa: ocupa um livro inteiro (ver Galinksy, 1972).

Em certa medida, todos os romances, contos, filmes, histórias em quadrinhos, minisséries de TV e desenhos animados que envolvem seres superpoderosos se inspiraram, em certa medida, nas façanhas de Héracles.

O herói influenciou até mesmo romances policiais... a novelista inglesa Agatha Christie inspirou-se nos doze trabalhos de Héracles para compor doze contos policiais, reunidos na coletânea The Labours of Hercules (1947), com o detetive belga Hercule Poirot.