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A queda de Troia

No fim do décimo e último ano da guerra, a luta havia chegado novamente a um impasse, mas algumas iniciativas tomadas por Odisseu (gr. Ὀδυσσεύς) finalmente conquistaram a cidade de Príamo.

miniaturaO cavalo de Troia Atribulado, porém, foi o retorno dos gregos à sua pátria após dez anos de ausência.

As predições de Heleno

Os mitos, neste ponto, são um tanto confusos. Parece que Calcas predisse que somente Heleno (gr. Ἕλενος), filho de Príamo e irmão gêmeo de Cassandra, dotado de poderes divinatórios como ela, podia contar o que era necessário para a conquista de Troia. Odisseu, então, armou uma emboscada que resultou na captura de Heleno.

Segundo o adivinho, eram três as coisas essenciais: recuperar o arco de Héracles, que estava em poder de Filoctetes (gr. Φιλοκτήτης); cooptar Neoptólemo (gr. Νεοπτόλεμος), filho de Aquiles, que estava na ilha de Esquiro; e subtrair o paládio, estátua de madeira da deusa Atena que havia caído do céu e era cultuada pelos troianos em local secreto.

Odisseu, calma e sistematicamente, preencheu todas as condições. Primeiro, foi a Esquiro juntamente com Fênix, o velho preceptor de Aquiles, e convenceu o jovem Neoptólemo a entrar na luta. Dirigiu-se a Lemnos em companhia de Neoptólemo e conseguiu convencer Filoctetes, abandonado pelos gregos dez anos antes por causa do ferimento causado pela serpente, a ir para Troia juntamente com o arco de Héracles. Em outras versões, foi Diomedes quem procurou Filoctetes.

De volta ao acampamento grego, Odisseu entregou as armas de Aquiles a Neoptólemo e o ferimento de Filoctetes foi curado por Macáon, o guerreiro-médico filho de Asclépio. Os recém-chegados logo mostraram serviço: pouco depois, uma flecha de Filocteres matou Páris e Neoptólemo, por sua vez, matou Eurípilo, filho de Télefo (já falecido nessa época), que viera ajudar os troianos.

Odisseu, por fim, se disfarçou de mendigo, entrou em Troia sem ser reconhecido e conseguiu roubar o paládio, além de matar diversas sentinelas. Na versão de Homero, a mais antiga, Helena encontrou-o e reconheceu-o, mas não o delatou e até o ajudou a escapar da cidade (Od. 4.244-64).

O cavalo de madeira

As condições estipuladas haviam sido cumpridas mas os gregos estavam ainda diante do mesmo problema: como entrar na inexpugnável Troia? Por sugestão de Odisseu, o artesão Epeio construiu então um enorme cavalo oco de madeira, dentro do qual se esconderam Odisseu, Menelau, Diomedes, Neoptólemo e outros gerreiros. Os demais gregos puseram fogo em suas tendas, se afastaram em seus navios e deixaram o cavalo diante das Portas Ceias.

Os troianos saíram ressabiados da cidade e discutiram o que fazer com o cavalo, diante da aparente desistência do inimigo. Uns queriam destruí-lo; outros, jogá-lo do alto de um precipício; outros, ainda, guardá-lo como troféu. A profetiza Cassandra e Laocoonte, sacerdote de Apolo Timbreu, alertaram em vão os troianos que a conservação do cavalo seria a ruína da cidade. Ao ver uma gigantesca serpente, saída do mar, matar Laocoonte e seus dois filhos, decidiram que era um sinal divino e o levaram para dentro da cidade, a fim de propiciar os deuses.

Homero conta que Helena, então casada com Deífobo, irmão de Páris e de Heitor, aproximou-se do cavalo e, rodeando-o, chamou pelo nome diversos heróis aqueus, imitando a voz de suas esposas (Od. 4.265-89). Graças à disciplina e frieza de Odisseu, porém, nenhum deles se denunciou.

O fim de Troia

À noite, em meio aos festejos que se seguiram, os gregos saíram silenciosamente do bojo do cavalo, mataram as sentinelas e abriram os portões da cidade; a um sinal, a armada grega retornou e o exército grego entrou, finalmente, em Troia. Durante a noite, em meio a violentos combates, a cidade foi inteiramente incendiada e pilhada; praticamente todos os homens de Troia, assim como as crianças do sexo masculino, foram mortos. Somente Antenor, que havia hospedado os embaixadores gregos em duas ocasiões, foi poupado.

Neoptólemo matou o rei Príamo, que se refugiou inutilmente junto ao altar de Zeus, e o jovem Astiánax, filho de Heitor e de Andrômaca. A profetiza Cassandra, filha de Príamo, refugiou-se no templo de Atena, abraçando a estátua da deusa. Isso não deteve, porém, Ájax, filho de Oileu, que a arrancou dali à força e violentou-a. Por causa de tão grande impiedade (arrancar um suplicante do altar, bem entendido[1]) o grego quase foi lapidado pelos próprios companheiros; ironicamente, para evitar a morte certa, teve que se refugiar no templo de Atena.

O troiano Eneias (gr. Αἰνείας), filho de Afrodite e de Anquises, estava destinado a sobreviver (Il. 20.290-308). De acordo com o testemunho de alguns vasos e dos mitógrafos romanos, ele escapou no meio da confusão, levando o filho Ascânio pela mão e carregando o velho pai nas costas. Seus descendentes fundariam, muito depois, a cidade de Roma.

Menelau (gr. Μενέλεως) matou Deífobo e recuperou Helena, com quem se reconciliou; as demais mulheres foram escravizadas. Cassandra foi levada por Agamêmnon; Andrômaca, viúva de Heitor, por Neoptólemo; Hécuba, rainha de Troia, por Odisseu. Mas Polixena (gr. Πολυξένη), filha de Príamo, foi sacrificada por Neoptólemo sobre o túmulo de Aquiles, pois o pai lhe apareceu em sonhos e pediu a jovem para si.

Iconografia

O saque de Ílion foi um dos temas mais utilizados pelos artistas gregos, notadamente os pintores de vasos de figuras negras e de figuras vermelhas. Os episódios mais comumente representados são a morte de Príamo, a violação de Cassandra e a recuperação de Helena.