A volta de Odisseu

Enquanto Telêmaco voltava para Ítaca, no vigésimo ano da ausência do pai, os deuses decidiram que já era hora de Odisseu voltar para casa. Os feácios ajudaram-no a chegar em Ítaca, mas em seu palácio o mar realmente não estava para peixe...

Odisseu em Esquéria

Zeus, a pedido de Atena, ordenou que Calipso liberasse Odisseu. A contragosto, a ninfa o ajudou a construir uma jangada e ele se lançou ao mar. Posídon, ainda furioso, enviou forte tempestade mas, com a ajuda de Leucoteia, o herói sobreviveu e, mais morto que vivo, conseguiu chegar a Esquéria, terra dos feácios.

miniatura Odisseu e Nausicaa

Esquéria era uma terra tão maravilhosa como a ilha dos Ciclopes, mas muito mais civilizada; os feácios, embora humanos, eram aparentados aos deuses e conviviam diretamente com eles. O rei se chamava Alcínoo e tinha uma bela filha, Nausicaa, que encontrou Odisseu na praia. O herói, nu e desamparado, suplicou-lhe auxílio, e a jovem encaminhou-o ao palácio do pai. Odisseu foi bem tratado e, depois de contar ao rei e aos nes feácios todas as suas aventuras, recebeu muitos presentes e a promessa de que seria levado até sua terra.

Odisseu adormeceu durante a viagem de volta, mas os marinheiros feácios levaram-no sem problemas até Ítaca e deixaram-no na praia, junto com os presentes recebidos. O ódio de Posídon, porém, não acabara: quando o navio retornou, o deus transformou-o em pedra e cercou a ilha dos feácios de altas montanhas. Esquéria nunca mais seria encontrada por nenhum viajante.

Odisseu em Ítaca

miniatura Penélope e Odisseu disfarçado

O herói acordou em Ítaca, depois de vinte anos de ausência, e foi recebido pela deusa Atena, que mudou suas feições e o vestiu como um velho mendigo, para que os pretendentes não o reconhecessem.

Odisseu procurou então Eumeu, o porqueiro-chefe, um de seus mais fiéis servidores. O velho não o reconheceu, mas recebeu-o com hospitalidade e o pôs a par dos problemas de sua família. Telêmaco, que acabara de chegar da viagem a Esparta, foi à casa do porqueiro para pedir que avisassem Penélope de sua volta e encontrou-se com o velho mendigo. Odisseu revelou-se apenas a ele e juntos, pai e filho, planejaram o castigo dos atrevidos pretendentes.

Ainda disfarçado, Odisseu se dirigiu ao palácio e, fingindo esmolar, foi destratado pelos pretendentes, que o agrediram e zombaram dele. Telêmaco exigiu que ele fosse tratado como um hóspede e, quando Penélope ordenou que Euricleia, uma velha serva, lavasse os pés do hóspede, o disfarce quase foi descoberto. Euricleia cuidara dele quando pequeno e reconheceu uma cicatriz em sua perna; calou-se a custo, jurou nada revelar e prometeu ajuda. Mais tarde o herói encontrou Penélope e, sem se dar a conhecer, disse-lhe que o marido ainda vivia e tentava retornar à sua terra.

Penélope, porém, estava no limite de suas forças. Contou ao mendigo que, no dia seguinte, instituiria um concurso entre os pretendentes e se casaria com o vencedor. Odisseu incentivou-a, mas ordenou ao filho e a Euricleia que, durante a prova, fechassem bem as portas do salão e escondessem todas as armas. Revelou-se também a Eumeu e a outro servo fiel, Filécio, e lhes disse que se preparassem para o dia seguinte.

O concurso consistia em atirar uma flecha, com o poderoso arco de Odisseu, de modo que ela atravessasse o orifício de doze machados enfileirados e cravados no chão. Nenhum dos pretendentes logrou ao menos armar o grande arco e, então, o “mendigo” pediu que o deixassem tentar. Em meio a risadas, entregaram-lhe o arco, mas depressa emudeceram quando Odisseu vergou-o sem esforço e disparou uma flecha que atravessou todos os machados. As portas estavam já fechadas e as armas dos pretendentes, escondidas. Odisseu voltou ao que era e, auxiliado pelo filho, por Eumeu e por Filécio, matou todos os pretendentes. Telêmaco também matou diversos servos e servas do palácio que haviam se mancomunado com os falecidos.

Retirados os cadáveres e purificado o aposento, Odisseu reencontrou a fiel esposa e, mais tarde, foi ao encontro do velho pai. Quando os parentes e amigos dos pretendentes atacaram o palácio, em busca de vingança, Atena e Zeus impediram o conflito, impuseram uma reconciliação e a paz finalmente retornou a Ítaca.