Nix: a noite e sua sombria linhagem
ὡς μακρὸν ἵππευμα διώκεις
ἀστεροειδέα νῶτα διφρεύουσ'
αἰθέρος ἱερᾶς
τοῦ σεμνοτάτου δι' Ὀλύμπου.
ó sagrada Nix,
como é longo o caminho que, de carruagem,
percorres no dorso estrelado
do sagrado éter,
através do reverendíssimo Olimpo.
Nix, um dos três aspectos míticos das trevas primitivas, foi a quinta entidade a emergir depois de Caos.
Sumário
Introdução
Nix (gr.
Érebo e Tártaro, os dois outros aspectos das trevas iniciais, já
O poeta da Ilíada a descreve “dominadora de deuses e mortais”, altamente respeitada pelos outros deuses, Zeus incluído.
Eurípides, Aristófanes e outros poetas a viam como deusa alada, vestida de negro, utilizando uma carruagem para cruzar o éter (ou céu) noturno, acompanhada pelas estrelas.
A união entre Érebo e Nix
Érebo e Nix surgiram depois de Eros e Hesíodo conta que ela e Érebo se “uniram em amor” imediatamente após o aparecimento de Nix. Isso significa, naturalmente, que a união deles foi de natureza sexual, a primeira da criação.
Graças a essa união nasceram duas novas entidades primordiais, Éter e Hemera; com isso, a luz brilhou pela primeira vez no Universo.
Hesíodo também conta que o palácio de Nix fica no Tártaro, perto de onde Atlas sustenta o céu. Ao entrar e sair diariamente, Nix saúda sua filha Hemera; as duas não ficam no palácio ao mesmo tempo.
Ilíada 14.258-61; Hesíodo (Teogonia
A sombria linhagem de Nix
Depois da união com Érebo, Nix gerou sozinha grande quantidade de descendentes, todos eles personificações ou alegorias que representavam forças sombrias, destrutivas ou negativas de grande influência na vida dos mortais.
Eis o catálogo, de acordo com Hesíodo:
- Apáte (gr.
Ἀπάτη ), o engano - Éris (gr.
Ἔρις ), a discórdia - Filótes (gr.
Φιλότης ), a amizade - Geras (gr.
Γῆρας ), a velhice - Hespérides (gr.
Ἑσπερίδες ) - Hipno (gr.
Ὕπνος ), o sono - Hýbris (gr.
ὕβρις ), a desmedida - Lissa (gr.
Λύσσα ), a raiva ou fúria - Moiras (gr.
Μοῖραι ), os destinos - Momo (gr.
Μῶμος ), a crítica - Moro (gr.
Μόρος ), o quinhão - Nêmese (gr.
Νέμεσις ), a retribuição - Oizus (gr.
Οἰζύς ), a miséria - Oniro (gr.
Ὄνειρος ), o sonho - Quer (gr.
Κήρ ) ou Queres (gr.Κῆρες ) - Tânato (gr.
Θάνατος ), a morte
Uma das filhas, Éris, deu origem a várias outras entidades igualmente sombrias, também sem se unir a ninguém.
Variantes
Aristófanes (Aves
Segundo [Higino] (Histórias prefácio
Em uma das confusas Teogonias órficas, Nix é a primeira divindade e dá origem a Cronos, o tempo, que gera Éter, que forma o ovo cósmico. Da união entre Fanes e Noite vieram a Terra e o Céu (Teogonia rapsódica,
No hino órfico 7.3, as estrelas são filhas da negra noite.
Há outros catálogos dos sombrios filhos de Nix, com mãe e pai às vezes diferentes, em [Apolodoro] e [Higino].
Iconografia e culto
Em cenas de vasos, Nix usualmente conduzia uma carruagem, às vezes entre representações de Hélio, o sol, e de Selene, a lua, nem sempre com asas. Em raras imagens e nos relevos do altar de Zeus em Pérgamo, porém, era representada por uma simples figura feminina, sem atributos específicos.
Pausânias conta que havia uma estátua de Nix em Éfeso e que ela tinha um oráculo na acrópole de Mégara. Não havia templos dedicados a ela, mas em Roma rituais eram praticados em sua homenagem.
Recepção
Desde Homero, Nix é muito citada pelos poetas e inspirou um dos mais belos (e sombrios) poemas de Álvaro de Campos (Dois Excertos de Odes, 1914).
Frederico Lourenço, em sua tradução do Íon de Eurípides (Colibri, 1994,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
Américo
Há um hino órfico dedicado a Nix (nº 3), que tem importante papel nas cosmogonias órficas
Vários artistas modernos criaram representações de Nix, dentre eles John Flaxman (1793), Bertel Thorvaldsen (1815), Jean-Léon Gérôme (1850-1855), Auguste Raynaud (1845-1937), Gustave Moreau (1880) e Pedro Américo (1883).
Em 1980, um dos asteroides que cruza o cinturão de Marte foi denominado