Fórcis e Cetó, dois irmãos da linhagem de Ponto, se uniram e tiveram filhos
poderosos e menos monstruosos do que eles, porém mais bem conhecidos: as górgonas e as greias, de quem falaremos aqui, e Equidna.
Górgonas
As górgonas (gr. Γοργόνες) e greias (gr. Γραῖαι) eram divindades muito antigas e que já
existiam quando Zeus assumiu o controle do Universo. Havia três górgonas (Esteno, Euríale e
Medusa) e três greias (Ênio, Pêfredo e Dino), que habitavam o extremo Ocidente, onde os gregos
situavam, entre outras coisas, o Jardim das Hespérides.
Das três górgonas, somente Medusa (gr. Μέδουσα) era mortal; as outras duas irmãs
eram imortais. Às vezes, apenas Medusa é referida como a górgona
(gr. Γοργώ).
O aspecto delas era assustador: presas de
javali, cabelos constituídos de serpentes vivas, mãos de bronze e asas de ouro. De tão penetrante,
seu simples olhar transformava suas vítimas em pedra. Medusa, em uma antiga ânfora de meados o
século -VII, foi representada com corpo de cavalo, i.e., como uma “centaura”
[Ilum. 882].
As duas górgonas imortais
Nem deuses nem mortais ousavam se aproximar de tais monstros; somente o deus Posídon teve a
incomensurável coragem de ter uma aventura com Medusa e engravidá-la. Nasceram, em decorrência disso, Pégaso, o cavalo
alado, e Crisaor. Crisaor tem importância meramente genealógica, como pai de Gérion
(gr. Γηρυών), gigante de três cabeças morto por Héracles; Pégaso, porém, participa
ativamente da lenda de Belerofonte.
Greias
As três greias (ou ‘velhas’), irmãs das górgonas, eram também conhecidas por
fórcides devido ao pai, Fórcis. Já haviam nascido velhas, tinham apenas um olho e um dente,
que dividiam entre si, e eram as únicas que conheciam os meios de derrotar as górgonas.
Medusa e as greias participam do mito de Perseu, que venceu Medusa com o auxílio das greias e conseguiu escapar das outras irmãs.
Iconografia
Perseu entrega o olho único às greias
A maior parte das representações artísticas das greias e das górgonas têm relação direta com as
aventuras de Perseu e serão comentadas mais adiante, em outra
sinopse. Farei, aqui, apenas alguns comentários sobre as cenas com as Górgonas, isoladas, e
sobre o gorgoneion, representação da cabeça de Medusa, cortada por Perseu com a ajuda dos
deuses.
A mais antiga representação de uma Górgona, sem a presença de Perseu, data de -600 [Ilum. 0883]. A cena mostra uma das górgonas (Medusa,
provavelmente), representada como uma “senhora dos animais”, figura habitualmente associada à
deusa Ártemis. Em representações posteriores, ela às vezes aparece viva, ao lado de Crisaor e de
Pégaso [Ilum. 0217], embora eles tenham nascido após sua
morte, como se verá adiante.
Medusa e sua cabeça estão entre as mais populares temas artísticos do Período Arcaico e, em
menor grau, dos períodos subsequentes e do Império Romano. Devido à crença no poder aterrorisante
e paralisante da cabeça de Medusa, os gregos costumavam representá-la em escudos [Ilum. 0762],
couraças, portões, muralhas e até em espelhos [Ilum. 0629].
Górgona “senhora dos animais”
Acreditava-se que essa representação isolada da cabeça de Medusa, conhecida por
gorgoneion, era um símbolo protetor contra qualquer tipo de encantamento e tinha a
capacidade de repelir os males (propriedade dita apotropaica). Por isso, o
gorgoneion era usado, às vezes, como uma espécie de amuleto.
Fontes e literatura
As mais antigas menções diretas à cabeça de Medusa encontram-se na Ilíada (5.741, 8.349, etc.) e na Odisseia (11.633).
Em Hesíodo (Teogonia 270-86) encontramos já os principais itens do mito das górgonas e greias.