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Gaia e Ponto, o mar e os montros marinhos

Monstro marinhoMonstro marinho

Ponto é a personificação das primitivas águas do mar; emergiu diretamente de Gaia e, como várias outras entidades primordiais, no devido tempo originou mais divindades.

Algumas divindades conservaram, ao menos em parte, o “caráter marinho” de seu ancestral, outras não.

Quem se uniu a Ponto (gr. Πόντος) foi a própria Gaia, algum tempo depois da “aposentadoria” de Urano. Ponto e Gaia geraram Nereu, Taumas, Fórcis, Cetó e Euríbia, provavelmente antigas e primitivas divindades marinhas que se confundem com o próprio Ponto.

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N.b. Oceano e Crio são também descendentes de Gaia, mas da linhagem dos titãs.

Euríbia e Taumas eram ligados, pelo menos em relação a seus descendentes, aos astros do céu e a sombrias entidades do mundo subterrâneo. Fórcis e Cetó eram associados a monstruosas entidades marinhas.

Euríbia e Taumas

Euríbia (gr. Εὐρυβία) uniu-se ao titã Crio, seu meio-irmão, e gerou Palas, Perses e Astreu, por sua vez ancestrais dos astros e dos ventos, de entidades abstratas como Nice e de divindades sombrias como Hécate.

Taumas (gr. Θαύμας), que se uniu a Electra, uma das oceânides, gerou a bela Íris, personificação do arco-íris e mensageira dos deuses, e as horrendas harpias.

Fórcis e Cetó

Fórcis (gr. Φόρκυς), assim como Nereu e Proteu, era um “velho do mar” (ἁλίοιο γέρων, Odisseia 13.96), um senhor dos animais marinhos, e se confundia com eles. Unido à irmã Cetó (gr. Κητώ), Fórcis inicialmente gerou filhas, as “fórcides”: três greias (ou Velhas), três monstruosas górgonas e Equidna, metade mulher, metade serpente, futura mãe de numerosos monstros.

Na Odisseia, Fórcis era considerado pai da ninfa Toósa[1] e, por meio dela, avô do ciclope[2] Polifemo. Acusilau (F 42), Apolônio de Rodes (4.828–829) e e um escoliasta da Odisseia (12.85) consideravam-no pai de Cila (gr. Σκύλλα), extravagante monstro marinho com cabeça e tronco feminino encontrado por Odisseu em sua viagem de volta a Ítaca.

O nome Cetó (gr. Κητώ) é uma forma feminina do substantivo neutro κῆτος, ‘peixe enorme, monstro marinho’. Fórcis e Cetó provavelmente eram, no imaginário grego, ascendentes de entidades marinhas monstruosas ou, então, os próprios monstros. Eurípides (F 115a) assinala, por exemplo, que Andrômeda ia ser devorada por κήτει, 'um monstro marinho' inespecífico.

Hesíodo (Teogonia 333-6) também atribui a geração de Ládon (gr. Λάδων), a serpente do Jardim das Hespéride morta por Héracles no 11º Trabalho, a Fórcis e Cetó, talvez por associação a outros descendentes serpentiformes do casal.

Monstros marinhos

 

Iconografia e culto

Nenhum desses filhos de Ponto foi especificamente representado na arte grega. Monstros marinhos inespecíficos, como o da hídria de figuras negras do Pintor da Águia (Coleção Niarchos) e o que Perseu derrotou para salvar Andrômeda aparecem em vasos do Período Arcaico (e.g. [Ilum. 0842]) e do Período Clássico (e.g. [Ilum. 0577]).

Fórcis e Ceto aparecem em mosaicos romanos tardios como entidades puramente humanas ou híbridas (ser humano + monstro marinho).

Recepção

A palavra portuguesa cetáceo, que designa uma ordem zoológica que compreende mamíferos adaptadas à água, deriva de Κητώ.