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Ésquilo

Αἰσχύλος Aeschylus Tragicus Aesch. -525 / -456

O mais antigo dos poetas trágicos gregos do século -V. Chegaram integralmente até nossos dias apenas seis ou sete de suas tragédias, mas há fragmentos de outros dramas.

Sumário

De acordo com o filósofo Aristóteles, Ésquilo foi o verdadeiro criador da tragédia ática e, em Atenas, o poeta se tornou uma instituição.

Biografia

Sabe-se de certo que Ésquilo nasceu em -525 em Elêusis, perto de Atenas, e que morreu em -456 na Sicília, em Gela. Era certamente de família aristocrática e seu pai chamava-se Eufórion. Segundo a tradição, lutou contra os persas em Maratona (-490) e em Salamina (-480).

Apresentou-se pela primeira vez nos concursos trágicos de Atenas em -500/-499 com um drama cujo nome hoje desconhecemos; obteve a primeira vitória em -484 e foi, posteriormente, vitorioso mais doze vezes.

miniaturaBusto de Ésquilo

Já em vida seu prestígio era grande. A tradição registra pelo menos duas e talvez três viagens à Sicília, sede de algumas das mais poderosas póleis da época, para apresentar suas peças: a primeira em -476/-475, a segunda provavelmente entre -471 e -456 e, com certeza, lá estava ele em -456, quando morreu. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação e, em meados do século -IV, uma estátua sua foi colocada no centro do teatro de Dioniso, em Atenas.

Apenas tragédias inéditas eram habitualmente admitidas nos festivais de Atenas, mas depois da morte de Ésquilo suas obras eram frequentemente reapresentadas — às custas da pólis — e chegaram a ser premiadas várias vezes nos concursos.

Escreveu cerca de 90 obras, entre tragédias e dramas satíricos. Também compôs, aparentemente, elegias, peãs e epigramas.

As mais importantes são uma biografia anônima, a Vita anônima (Vit. Aesch.), o verbete da Suda e algumas datas anotadas no Marmor Parium (FGrH 239).

Obras sobreviventes

Sete (ou seis) tragédias completas sobreviveram; também dispomos de numerosos fragmentos de outras tragédias e de vários dramas satíricos. Sinopse das tragédias completas e dramas fragmentários mais importantes, com as datas prováveis da primeira representação, estão disponíveis no Portal:

As tragédias de -458, Agamêmnon, Coéforas e Eumênides, formam uma trilogia conhecida por Oresteia, a única que chegou integralmente até nós.

Não há consenso sobre a autoria da tragédia Prometeu Acorrentado. No momento, a balança parece se inclinar contra a autoria de Ésquilo e, embora ela tenha sido transmitida juntamente com suas tragédias, talvez seja prudente nos referirmos ao autor dessa tragédia como [Ésquilo].

Características da obra

Acredita-se que foi Ésquilo quem reduziu a primitiva importância do coro e acrescentou um segundo ator, tornando possível o diálogo entre os personagens e a ação dramática[1]:

Καὶ τό τε τῶν ὑποκριτῶν πλῆθος ἐξ ἑνὸς εἰς δύο πρῶτος Αἰσχύλος ἤγαγε καὶ τὰ τοῦ χοροῦ ἠλάττωσε καὶ τὸν λόγον πρωταγωνιστεῖν παρεσκεύασεν· Ésquilo foi o primeiro a elevar de um para dois o número dos atores; diminuiu a importância do coro e fez do diálogo um protagonista.

É provável que ele tenha também introduzido aperfeiçoamentos no vestuário e nos cenários, a julgar pela dificuldade técnica de algumas de suas encenações. “As tragédias da Oresteia são os mais antigos dramas com evidências claras da presença de uma edificação (a skēnē) como parte do espaço de performance” (Sommerstein 2008, p. xiii).

Os temas de suas peças frequentemente se distribuíam em trilogias interligadas, seguidas por um drama satírico, e cada enredo tratava de um dos aspectos do mito inspirador.

O enredo é simples, a ação, estática, o estilo, elevado e grandioso, às vezes bombástico e um pouco pomposo. As peças mostram também o profundo sentimento religioso do poeta.

Os personagens principais são sombrios e dominados por uma única meta (vingança, por exemplo), e suas características pessoais praticamente não variam ao longo do drama. As ações humanas têm consequências inevitáveis, pois sempre são guiadas pela fatalidade, pelo destino, ou pela vontade dos deuses.

É visível a intenção moral dos dramas. Orgulho e atitudes desmesuradas são punidas, e o castigo inevitável pode estender-se inclusive aos descendentes.

Em Rãs, comédia representada em -405, Aristófanes compara Ésquilo e Eurípides, com vantagem para o primeiro. Apesar do tom jocoso, várias características da obra esquiliana são reconhecidas e mencionadas. É um raro testemunho da impressão que o poeta causou naqueles que viveram (quase) em sua época.

miniaturaEdição de Estienne, 1557

Manuscritos, edições e traduções

O mais antigo manuscrito é o Mediceus (Laurentianus 32.9, Biblioteca Laurenciana de Florença), que data da segunda metade do século X e contém as sete tragédias quase completas, com importantes lacunas na tragédia Agamêmnon. Os manuscritos mais recentes, especialmente os que contêm a “tríade bizantina” (Prometeu Acorrentado, Persas, Sete contra Tebas), e.g. o Parisinus gr. 2884 da Biblioteca Nacional Francesa (c. 1300), parecem derivar de um arquétipo diferente do arquétipo do Mediceus.

A editio princeps de Ésquilo foi preparada por Franciscus Asulanus (Francesco Torresano) a partir do Mediceus e editada em Veneza por Aldus Manutius em 1518. O Agamêmnon não foi publicado nessa oportunidade devido à lacuna do Mediceus, e Estienne publicou-o pela primeira vez em 1557.

Modernas edições de todas as obras são as de Denys Page (1972), Martin West (21998) e Alan Sommerstein (2008-9), para as tragédias completas, e a de Stefan Radt (TrGF, 1985) para os dramas incompletos.

há edições e traduções de obras isoladas

Todas as tragédias completas de Ésquilo JÁ foram traduzidas para o português. Em 2009, JAA Torrano acrescentou à sua tradução da Oresteia, publicada em 2004, as demais tragédias completas, fazendo de Ésquilo o primeiro poeta trágico grego a ter suas obras traduzidas e publicadas de forma unificada em nosso país.