literatura1100 palavras

Aristófanes

Ἀριστοφάνης Aristophanes Comicus Ar.

Poeta cômico, principal representante da antiga comédia grega. De toda sua obra, no entanto, apenas onze comédias foram conservadas.

As comédias de Aristófanes são as únicas comédias integrais da etapa conhecida por comédia antiga e, até hoje, são consideradas verdadeiras obras-primas do gênero cômico.

Biografia

Pouco sabemos a respeito da vida pessoal de Aristófanes. Grande parte das informações disponíveis, sugeridas pela parábase das comédias que chegaram até nós, tem sido desconsiderada cada vez mais pela crítica moderna.

Ele nasceu por volta de -447, em Atenas, e seu pai se chamava Filípides; foi criado provavelmente no meio rural, talvez em uma propriedade na ilha de Egina. Consta que se tornou careca por volta dos vinte anos, que exerceu um cargo público — a pritania — no início do século -IV, e que teve dois filhos que seguiram carreira no teatro cômico, Araros e Filipos.

Aristóteles é mostrado por Platão, no Banquete, como um companheiro agradável, jovial e divertido.

miniaturaBusto de Aristófanes

Cleon (fl. -430/-422), influente político que se destacou em Atenas após a morte de Péricles (-495/-429), foi diretamente satirizado por ele e, segundo a tradição, processou-o sem sucesso em -426. Nova sátira, ainda mais pesada, motivou um segundo processo em -424, resolvido aparentemente através de acordo fora dos tribunais.

O poeta compôs um total de quarenta peças e obteve nos concursos pelo menos seis primeiros prêmios e quatro segundos prêmios. Embora toda sua vida intelectual tenha transcorrido em Atenas, apresentou certa vez uma de suas peças no teatro de Elêusis.

Sua primeira comédia, Os Convivas, estreou em -427 sob o nome de Calístrato, o ensaiador da peça, e obteve de saída o segundo prêmio. Suas duas últimas comédias, Cocalos e Eolosicon, foram encenadas por seu filho Araros após -388. Acredita-se que o poeta tenha morrido pouco depois, em algum momento entre -386 e -380.

Obras sobreviventes

De toda sua obra, somente onze comédias completas sobreviveram mas, em compensação, todas puderam ser datadas de modo razoavelmente preciso. São elas, na sequência utilizada por Wilson (2007): Os acarnenses, Os cavaleiros, As nuvens, As vespas, A paz, As aves, Lisístrata , As tesmoforiantes, As rãs (-405), Mulheres na Assembleia (-392) e Pluto (-388).

Acarnenses, Cavaleiros, Vespas, Paz e Lisístrata tratam da vida política; Nuvens, Tesmofóriantes e Rãs criticam a vida intelectual; Aves, Mulheres na Assembleia e Pluto são alegorias, ou comédias de fuga (Starzynski, 1967).

Restaram também numerosos fragmentos de suas outras comédias, que permitiram reconstituir, ao menos em parte, mais ou menos umas 35 delas.

Características da obra

Αἱ χάριτες τέμενός τι λαβεῖν ὅπερ οὔτι πεσεῖται ζητοῦσαι͵ ψυχὴν εὗρον Ἀριστοφάνου. As Cárites, procurando um templo que não perecesse, escolheram a alma de Aristófanes. [Platão] Antologia Palatina, Apêndice 33.1-2

As comédias anteriores a -400 mostram duas preocupações básicas: fazer o público rir e criticar as instituições políticas e intelectuais da Atenas daquela época. E, em meio à linguagem viva e pitoresca dos diálogos, também estão presentes trechos de grande beleza poética, notadamente nas odes corais.

Todos os recursos cômicos imagináveis são usados com grande maestria, desde a sátira mais grotesta até a malícia mais sutil: situações ridículas, cenas fantásticas, personagens alegóricos, caricaturas de personagens humanos reais e de deuses, pilhérias, ironias, jogo de palavras, trocadilhos, mal-entendidos, exageros, substituição de palavras esperadas por outras inesperadas, palavras compridas, paródias (de autores trágicos, principalmente), neologismos, provérbios...

Aristófanes recorre com frequência à licenciosidade e à obscenidade, o que sem dúvida pode chocar os desavisados leitores modernos. Não se deve, no entanto, esquecer que o pudor de nossos tempos se desenvolveu nos últimos 200 anos, e que os antigos encaravam com muito mais naturalidade esse tipo de gracejo. Além disso, as festas dionisíacas que originaram a comédia derivaram de antigos rituais de fertilidade em que o elemento sexual era componente relevante.

As críticas de Aristófanes atingiam a tudo e a todos. Chefes políticos, a Assembleia, os tribunais e os juízes, os militares, os poetas trágicos, os poetas cômicos, os filósofos, o povo em geral, os velhos, os jovens, as mulheres... ninguém escapou de sua verve.

As intenções morais por trás das críticas eram, porém, muito sérias: o poeta defendia sempre os valores antigos, a vida rural e, em especial, a paz — tão desejável durante a Guerra do Peloponeso.

Nas duas últimas comédias (Mulheres na Assembleia e Pluto), posteriores a -400, nota-se redução expressiva das partes corais, o desaparecimento da sátira política e importante atenuação da sátira pessoal. Essas características coloca ambas no terreno da comédia intermediária ou, pelo menos, em pleno período de transição.

É possível que uma das últimas obras de Aristófanes, Cocalos, apresentada por seu filho Araros entre -388 e -380, tenha inaugurado alguns aspectos da comédia nova helenística, introduzindo aspectos românticos que caracterizariam posteriormente esse subgênero.

Os textos

Sinopses

Há sinopses de todas as 11 comédias de Aristófanes no Portal:

Manuscritos e edições

Os méritos poéticos de Aristófanes não foram muito apreciados pelos eruditos alexandrinos, que aparentemente conservaram suas obras pelos simples fato de serem a fonte mais pura do dialeto ático antigo.

O único manuscrito que contém as 11 comédias conservadas é o Ravennas 429 (c. 950), da Biblioteca Classence de Ravenna. Há vários papiros e diversas citações sobre as comédias completas e incompletas.

A editio princeps de Aristófanes, com apenas 9 comédias, é a Aldina (Veneza, 1498), a cargo de Marcus Musurus. As duas últimas comédias, Lisístrata e Tesmoforiantes, foram incluídas na edição Juntina (Florença, 1515), e a primeira edição de todas as 11 comédias foi a de Andreas Cratander (Basileia, 1532).

A mais antiga coleção de fragmentos de Aristófanes é a de Willem van der Codde, “Coddaeus” (Leiden, 1624), baseada em trabalho anterior de Theodorus Canter, falecido em 1616.

As edições modernas importantes são a de Victor Coulon (Budé, 1923-1930, 5 v.), ultrapassada há pouco pelas de Nigel Wilson (OCT, 2007, 2 v.) e de Jeffrey Henderson (Loeb, 1998-2007, 5 v.), esta com uma seleção de fragmentos.

há dramas editados e traduzidos isoladamente

Edição completa dos fragmentos: Rudolf Kassel e Colin Austin (Berlin / New York, 1984).

Traduções

Todas as comédias completas estão traduzidas para o português, embora ainda faltem algumas para o português do Brasil, detalhe importante quando se trata de comédia. As edições portuguesas isoladas, com traduções de Maria de Fátima Sousa e Silva, em sua maioria, foram reunidas em três volumes (Lisboa, 2006-2009).

Todos os fragmentos de Aristófanes foram traduzidos para o português brasileiro por Karen Sacconi (São Paulo, 2018).