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O drama satírico

σατυρικόν δρᾶμα uel τὸ σατυρικόν satyrica
A receita é a seguinte: pegue um mito, junte sátiros, observe o resultado.
François Lissarrague, 1990

A despeito do nome, o drama satírico está mais vinculado à tragédia do que à comédia, uma vez que foi desenvolvido e apresentado pelos poetas trágicos[1].

Esse gênero dramático envolve a presença de sátiros em cena e foi oficialmente introduzido nos festivais em honra a Dioniso no final do século -VI.

Segundo a Suda (s.v. Πρατίνας), Pratinas (fl. -507/-496) foi o primeiro poeta trágico a compor dramas satíricos ou, mais provavelmente, apenas o introdutor desse gênero dramático em Atenas.

O espetáculo satírico

Até meados do século -IV, a representação ocorria nos concursos de tragédias das Dionísias Urbanas, logo depois das três tragédias de cada autor[2], isto é, era o quarto drama da tetralogia. O drama satírico era bem mais curto (de 700 a 800 versos, aparentemente) e muito mais leve do que a tragédia.

miniaturaCoro de mênades e sátiros

O desfecho era geralmente alegre e os principais personagens, Sileno e os sátiros, compunham o Coro. [Demétrio], um erudito do século -II, chamou o drama satírico de τραγῳδία παίζουσα, ‘tragédia divertida’.

Em geral o poeta recorria aos mesmos mitos usualmente abordados nas tragédias, mas destacava um aspecto leve e jovial dos problemas do herói trágico ou apenas uma passagem que podia se tornar engraçada devido à presença dos sátiros.

Do ponto de vista estrutural, aparentemente o drama satírico acompanhava a tragédia quanto à estrutura de partes declamadas e cantadas: prólogo, párodo, episódios, estásimos e êxodo.

Argumento

O argumento básico era relativamente simples e podia ser enquadrado em três tipos:

  1. no primeiro, o coro de indefesos e amedrontados sátiros e seu líder, o idoso Sileno, eram libertados do jugo de um vilão cruel e tirânico (“ogro”) por um herói poderoso e resoluto;
  2. no segundo, uma tarefa era atribuída ou imposta aos sátiros, que se desdobravam para realizá-la enquanto exibiam seu comportamento habitual;
  3. no terceiro, os sátiros eram arbitrariamente inseridos em mitos dos quais nunca tinham participado e simplesmente mostravam sua “natureza hedonística e covarde” (Kovacs 2001, p. 53) em cena.

Dispomos, infelizmente, de um único drama satírico completo, o Ciclope de Eurípides, e de fragmentos substanciais de um outro, o Rastejadores de Sófocles. De todos os demais temos apenas o título, curtas passagens de algumas hipóteses, algumas cenas de vasos, várias inferências sobre o mito envolvido e pouquíssimos fragmentos de diálogos, monólogos e cantos.

Sabemos, no entanto, que os sátiros e Sileno participavam ativamente da ação dramática, ao contrário dos coros da tragédia e da comédia.

Os textos

Sinopses

Há algumas informações sobre dramas satíricos de cada autor nas sinopses de Ésquilo, de Sófocles, de Eurípides e dos trágicos “menores” anteriores a -400.

Dramas satíricos (DS) específicos podem ser acessados, por enquanto, nas seguintes sinopses do Portal:

Edições

Informações sobre O ciclope: ver sinopse

Os fragmentos satíricos têm origem em citações dos autores antigos, em léxicos que discutem palavras e expressões usadas pelos autores e em descobertas papirológicas, cada vez mais frequentes e significativaas, como no caso dos fragmentos trágicos e cômicos. A editio princeps dos fragmentos satíricos é, consequentemente, variada, e cada fragmento é editado quando vem à tona, graças a novas descobertas.

No momento, são consideradas edições padrão de todos os fragmentos satíricos a de Bruno Snell, Stefan Radt e Richard Kanicht (TrGF, 6 v., 21986-2004), intitulada Tragicorum Graecorum Fragmenta, com fragmentos trágicos e satíricos, e as edições específicas de Ralf Krumeich, Nikolaus Pechstein e Bernd Seidensticker (1999) e de Paolo Cipolla (Amsterdam, 2003).

Traduções

Alguns dramas satíricos isolados foram já traduzidos para o português, e.g. O Ciclope e alguns dramas fragmentários. Ainda não há tradução sistemática dos fragmentos.