Ésquilo / Fragmentos satíricos
Conhecemos apenas alguns trechos de cerca de 20 dramas satíricos de Ésquilo, todos em estado fragmentário.
Sumário
Nossa perda é grande: de acordo com os antigos, os dramas satíricos de Ésquilo só perdiam para os de Pratinas e Aristias.
Segue uma seleção dos dramas mais importantes e, como no caso das tragédias fragmentárias, muitos deles não podem ser datados.
As amas de Dioniso
No enredo, Medeia possivelmente rejuvenesce as antigas amas de Dioniso e seus envelhecidos maridos, os sátiros, fervendo seus pedaços no caldeirão mágico
Uma
Amímone
De acordo com o mito (Apolodoro, Biblioteca 2.14), Amímone foi enviada pelo pai, Dânao, em busca de água. Molestada por um sátiro, é salva por Posídon, com quem teve posteriormente relações consensuais.
Enredo provável: a bela e indefesa Amímone, intimidada e assediada por Sileno e pelo Coro de sátiros, foi salva pela chegada de Posídon. No final, a futura união voluntária da jovem com o deus era celebrada com cantos e danças.
Diversos vasos de figuras vermelhas têm cenas compatíveis com o drama satírico e podem ter sido inspirados por ele.
Esfinge
Em uma das reconstruções mais prováveis, os silenos posavam de arautos tebanos para tentar receber a recompensa prometida por Creonte e a Esfinge
O drama satírico inspirou a iconografia de uma hídria de figuras vermelhas de
Glauco, o deus marinho
O drama satírico
Segundo Pausânias, Glauco era um pescador da Beócia que se tornou divindade marinha após ingerir uma erva. A figura dos deus, ao emergir, era impressionante e ele era capaz de predizer o futuro.
No drama havia um pastor / vaqueiro que falava sobre o deus e sua história
Pescadores de rede
A data de
Personagens: Sileno, coro de sátiros, Dictis, um pescador, bebê Perseu (certamente um boneco).
O enredo dramatiza a chegada de Dânae e do bebê Perseu à ilha de Sérifos. Um pescador pega algo grande em sua rede, chama Dictis e ambos tentam puxar o objeto, uma grande caixa, até a praia. Dictis clama por ajuda, e provavelmente Sileno e os sátiros entram em cena. Dictis sai, por alguma razão, e os sátiros abrem a caixa, encontrando Dânae e o bebê.
A jovem desperta a luxúria dos sátiros e Dânae teme um destino pior do que a morte; para
Prometeu
De acordo com o argumento da tragédia Persas, na quarta parte da tetralogia Ésquilo apresentou um drama intitulado Prometeu (
Fontes antigas atribuem citações e fragmentos a um Prometeu ateador do fogo (
Acho improvável que Ésquilo tenha escrito mais de um drama satírico baseado no mesmo tema e considero, por enquanto, que havia um único drama satírico com Prometeu, os sátiros e, possivelmente, Pandora. Aparentemente os sátiros ficam maravilhados com o fogo, celebram seus benefícios e a dádiva de Prometeu
Numerosos vasos de figuras vermelhas que representam Prometeu e os sátiros lidando com o fogo podem ter se inspirado no drama satírico de Ésquilo.
Proteu
Muitos eruditos arriscaram diversas hipóteses sobre o enredo, mas são apenas conjeturas baseadas nos elementos do mito.
Eis aqui mais uma: os sátiros intermediavam o encontro entre Menelau e o antigo deus do mar, papel que Idoteia, filha de Proteu, desempenha no mito (é possível, no entanto, que Idoteia também fosse um dos personagens do drama, cf.
A sagrada delegação
Também conhecido por Os competidores dos Jogos Ístmicos (
A cena se passa em Ístmia, por ocasião dos Jogos Ístmicos, diante do templo de Posídon. Os personagens são o coro de sátiros, Sileno, Dioniso e o novo protetor dos sátiros. Em síntese, os sátiros fogem de Dioniso, insatisfeitos com sua posição, e são convencidos por alguém (talvez outra divindade) a abandonar o deus e a treinar, sob sua proteção, para as provas atléticas. Eles são logo encontrados por Dioniso, se refugiam no templo de Posídon e, após elaborados debates, se reconciliam com o deus e retornam ao seu serviço.
Há vasos que mostram sátiros em atividades atléticas, mas não é possível vincular essas imagens ao drama satírico.
Mais alguns dramas notáveis
A libertação dos sátiros da dominação de um “ogro” poderoso e opressor, tema presente no drama Esfinge, também ocorre em outros dramas satíricos. No Cercíon
Em A sagrada delegação e As amas, os sátiros tentam fazer coisas contrárias à sua natureza e as executam de forma canhestra. Há vários dramas desse tipo, entre eles O leão
Edições e traduções
As principais edições modernas dos fragmentos satíricos de Ésquilo são a de Stefan Radt (TrGF, 1985) e a de Antje Wessels e Ralph Krumeich (1999).
Dispomos apenas da tradução para o português de alguns fragmentos mais extensos do Pescadores de Rede (Aun 2009) e de todos os fragmentos de Esfinge (Ribeiro Jr. 2021).