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Téspis, Quérilo e Pratinas

Θέσπις Thespis Tragicus fl. -538/-528
Χοιρίλος Choerilus Tragicus Choeril. Trag. fl. -499 / -496
Πρατίνας Pratinas Lyricus et Trag. Pratin. fl. -499 / -496

Téspis, talvez apenas um mito, teria inventado a tragédia; Quérilo é o mais antigo autor de tragédias que conhecemos; e Pratinas destacou-se pelos dramas satíricos.

Téspis

Téspis era, talvez, nativo de Icária, demo da Ática associado a rituais dionisíacos. Suas atividades se desenvolveram c. -538/-528.

Todas as informações legadas pela Antiguidade, até mesmo o nome, são suspeitas e consideradas muito pouco prováveis pelos estudiosos modernos. É praticamente certo que Téspis não existiu e, consequentemente, não venceu o primeiro concurso de tragédias das Dionísias Urbanas entre -535 e -533.

miniaturaA carroça de Téspis

Algumas tradições contam que ele criou a tragédia[1] e foi o primeiro a utilizar um ator, o protagonista, para interagir com o Coro; Aristófanes conta que suas apresentações envolviam danças. Téspis percorria as estradas em uma carroça, apresentando-se nas áreas rurais com o rosto pintado de borra de vinho; teria inventado a máscara trágica para conseguir representar vários personagens.

As obras que levam o nome de Téspis, inclusive a tragédia intitulada Penteu (F 1c), são falsificações de data muito posterior.

As mais importantes são: Suda θ 282; FGrH 239 A 43; Aristófanes, Vespas 1478-81; Temístio, Orações 26.316d; Diógenes Laércio 3.56; Horácio, Arte poética 275-9.

Edições modernas: testemunhos e fragmento disponíveis no TrGF 1.1. Há traduções portuguesas dos testemunhos de Aristófanes, Horácio e Diógenes Laércio.

Téspis teve estátuas antigas dedicadas a ele. Cameleon (c. -350/-275), um dos discípulos de Aristóteles, escreveu um ensaio — hoje perdido —, a seu respeito. Nos últimos séculos, ele se tornou sinônimo do teatro e atores de língua inglesa são frequentemente denominados “tespianos”. E a expressão francesa “chariot de Thespis” está associada, figurativamente, à vida errante.

“Téspis” é também o nome de várias companhias teatrais ou de dança, inclusive no Brasil. Em 1871, William Gilbert e Arthur Sullivan criaram uma opereta burlesca de grande sucesso na qual Téspis era um dos personagens.

Quérilo

O poeta trágico Quérilo era provavelmente ateniense e competiu contra Ésquilo e Pratinas c. -499/-496.

Outras datas e outros dados sobre sua vida são tradições tardias cada vez menos aceitas pelos eruditos modernos: a longa carreira, o total de 160 peças apresentadas, as 13 vitórias nos concursos e o interesse nas máscaras e trajes dos atores, entre outras.

Dispomos do título de uma única tragédia de Quérilo, Álope, da qual nenhum fragmento resta; sabemos, no entanto, que ela aborda o mito da origem de Hipotoon, um dos heróis epônimos da Ática.

Há dois pequenos fragmentos de obras desconhecidas, talvez os mais antigos versos trágicos do nosso registro histórico. Não sabemos se Quérilo escreveu dramas satíricos.

Suda χ 594, π 2230 e σ 815; Mário Plócio (Gramáticos latinos 6.507.19); Pausânias 1.14.3.

Hesíquio (χ 643) conta que Cratino mencionou Quérilo em uma de suas comédias (F 502), ao satirizar o poeta cômico Ecfântides (c. -500/-450).

Edições modernas: testemunhos e fragmentos disponíveis no TrGF 1.2. Não há traduções para o português.

Pratinas

Natural de Fliunte, pólis do noroeste do Peloponeso, perto de Nemeia. A única data relativamente segura de Pratinas é -499/-496, a mesma de Quérilo (supra). Restam-nos nove fragmentos de sua obra.

Segundo a tradição, compôs 18 tragédias e 32 dramas satíricos; os antigos lembravam dele, justamente, como o criador desse gênero dramático. A reduzida quantidade de tragédias se deve possivelmente à estrutura do concurso trágico na época; a apresentação de tetralogias não era, talvez, obrigatória, ou então os dramas satíricos eram apresentados em outras ocasiões.

Pratinas interessava-se muito pela música e pela coreografia da obra (F 3; 6-9), e os poucos fragmentos conhecidos têm, efetivamente, metros líricos diferentes. Um deles, intitulado “Hipórquema(F 3), é um canto coral com diferentes metros líricos, coisa pouco habitual nos coros satíricos conhecidos. Discute-se ainda se o longo fragmento de 17 versos, que tem elementos dramáticos sugestivos de um párodo cantado por sátiros, seria parte de um drama satírico, de um ditirambo ou de outro tipo de canto coral. A mesma questão vale para os demais fragmentos.

Aristias, filho de Pratinas, obteve o segundo prêmio em -467 com pelo menos três de seus dramas, conhecidos só pelo título: Perseu e Tântalo, tragédias, e Sátiros lutadores (gr. Παλαισταί σάτυροι), drama satírico. Esse é o único drama satírico de Pratinas do qual temos certeza.

Suda π 2230; POxy. 2256 F 2; Arg. Ésquilo, Sete contra Tebas; Pausânias 2.13.6; Tzetzes, De Licofron p. 3.11; Plutarco, Da música 1142b.

Edições modernas: testemunhos e fragmentos, TrGF 1.4 (todos) e David Campbell (1991, selecta); para o F 3, a edição comentada de Christopher Collard (2013).

O “hipórquema” de Pratinas já foi traduzido para o português por Guilherme Rodrigues (2016, p. 23-4).