Pã (gr. Πάν) era,
provavelmente, um antigo deus da fertilidade ligado à natureza e ao pastoreio.
Meio-homem, meio-bode, originário da Arcádia, era o deus
dos pastores e rebanhos, da caça, das paisagens montanhosas e da música rústica.
Sua ascendência é um tanto nebulosa, mas era considerado, em geral, filho de
Hermes e de uma ninfa, ou da filha de Driopos, uma mortal (h. Pan). Tinha
chifres, orelhas e pernas de bode, e vivia nas montanhas e florestas da Arcádia
caçando, cantando, dançando e perseguindo as ninfas, com escasso sucesso —
Sírinx, Eco, Pitis, pelo menos, escaparam dele. Às vezes participava do cortejo que
acompanhava Dioniso, e tinha mais sucesso com as mênades.
Quando perturbado no calor do meio-dia, hora em que habitualmente
descansava, tornava-se perigoso: estourava manadas, causava pesadelos e
induzia terror (“pânico”) nos perturbadores (Theoc. 1.16). Às vezes,
era responsabilizado pelo pânico noturno, ou pelo medo que os viajantes às vezes
sentiam quando passavam por lugares selvagens e ermos.
A ‘flauta de Pã’ (gr. σῦριγξ) foi uma invenção do próprio
deus. Ao perseguir, sem sucesso, a ninfa Sírinx, ouviu o som do vento agitando os
caniços às margens de um rio, e teve a ideia de cortá-los em diferentes
tamanhos e uní-los com cera. Em outras versões, a ninfa
transformou-se nos caniços, para fugir do deus. Ao soprar o
instrumento, encantou-se com a beleza dos sons e batizou-o
de siringe, em homenagem à fugitiva.
Pã tocava a flauta com grande maestria e ensinou essa arte a outros, como Dáfnis,
por exemplo (h. Hom. 7.15; Theoc. 1.3). De acordo
com tradições tardias, ele competiu com Apolo em torneio de flautas e Midas,
que estava presente, opinou que Pã havia tocado melhor. Apolo fez então com que
crescessem orelhas de burro em Midas, possível confusão com a disputa entre
Apolo e o sátiro Mársias.
Segundo Heródoto (6.105), o deus foi visto pelo ateniense Fidípides durante as
guerras médicas, pouco antes da batalha de Maratona, e prometeu incutir terror nos
persas, se os atenienses o reverenciassem. Vencida a batalha pelos atenienses, seu
culto foi instituído em uma gruta localizada no sopé da acrópole de Atenas.
Fontes e literatura
As principais fontes são o hino homérico a Pã (h. Pan), Heródoto
(2.153) e Nono (D., passim). Muitos detalhes do mito de
Pã foram conservados em pequenas passagens de numerosos poetas e escritores gregos e
romanos.
Na literatura moderna, Pã inspirou muitas obras, entre elas a novela The Great
God Pan, de Arthur Machen (1890), o romance Pã, de Knut Hamsun (1894) e
poemas de Percy Shelley (1810/1822), John Keats (1889), Robert Frost
(1914) e William Butler Yeats (1939), entre outros.
Iconografia e culto
Pã era sempre representado, tanto na cerâmica como na escultura, conforme a
descrição supra. É possível que a tradicional imagem cristã do Diabo, com
chifres e pés de bode, tenha sido inspirada por ele.
O deus era cultuado e tinha templos e altares em toda a Grécia, especialmente na
Arcádia, perto de grutas e no sopé de montes e montanhas. No templo de Megalópolis[1],
onde havia um antigo oráculo, um fogo era mantido sempre aceso em sua homenagem
(Paus. 8.30.2 e 3.31.1). Às vezes, sacrifícios eram
oferecidos a ele, em conjunto com Dioniso e as ninfas.