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As sereias

Sereia de terracotaSereia de terracota

Entidades monstruosas, com corpo metade mulher e metade pássaro, capazes de encantar qualquer um que ouvisse o seu canto.

Nos textos antigos, o número de sereias (gr. Σειρῆνες) habitualmente variava de duas a três. Viviam em algum lugar do Mar Tirreno, em uma ilha cercada de rochas e recifes, de localização variável de acordo com a versão do mito. Os marinheiros que se aproximavam o bastante para ouvir seu mavioso e hipnótico canto, descuidavam-se e naufragavam (Nono, Dionisíacas 2.11-7).

Alguns autores tardios relatam que elas devoravam os marinheiros afogados, mas é provável que essa informação venha de uma interpretação errônea da Odisseia 2.45-6.

Mitos

Embora ligadas ao mar e às viagens marítimas, não eram entidades marinhas. Sua genealogia é um pouco confusa, mas em geral são consideradas filhas do deus-rio Aqueloo e da musa Melpômene (Apolodoro 1.18 e 1.63; Licofron 712), ou de Terpsícore (Apolônio de Rodes 4.892; Nono Dionisíacas 13.313). Na tragédia Helena (167-72), Eurípides considerou-as filhas de Gaia e relatou que tocavam a flauta líbia, a siringe e o fórminx. Homero afirmou que elas podiam prever o futuro (Odisseia 12.191), o que condiz com divindades nascidas de Gaia.

Certa vez, as sereias desafiaram as musas para uma disputa musical e perderam; como punição, as musas tiraram as penas de suas asas (Pausânias 9.34.2) Isso, é claro, é um pouco desconcertante, se levarmos em conta uma das possíveis genealogias das sereias...

Elas participam da lenda de Odisseu e dos Argonautas, mas tanto um como os outros, justamente, resistiram ao seu canto — os argonautas, graças aos cantos de Orfeu (Apolônio de Rodes 892-919), e Odisseu por causa do prático expediente de ser amarrado ao mastro e mandar a tripulação tapar os ouvidos com cera (Odisseia 12, passim) —. Segundo autores tardios, ao falharem, as sereias afogaram-se ou transformaram-se em rochas, mas uns situam isso no episódio dos argonautas, outros nas viagens de Odisseu.

Fontes, iconografia, culto

As mais extensas referências a elas são as da Odisseia, as da Argonáutica, de Apolônio de Rodes (supra) e a da Suda (s.v.). A mais antiga é a da Odisseia.

As sereias eram sempre representadas, como grandes pássaros com cabeça e busto de mulher, às vezes, com asas, às vezes com braços. Estão presentes em frisos, monumentos fúnebres, vasos de figuras negras e de figuras vermelhas, estatuetas, joias e outras obras da arte grega. Sua figura tem origem oriental e deve ter sido introduzida na Grécia durante a fase orientalizante.

Havia um templo dedicado às sereias perto de Sorrento, e uma delas era cultuada em Neápolis, no sul da península italiana.

Literatura

A expressão “canto da sereia”, muito utilizada em nossos dias, refere-se a algo que produz uma atração (quase) irresistível. Na Antiguidade, Platão referiu-se a seus conhecimentos musicais no diálogo República (617b-c), e Suetônio (8.70) relata que uma das perguntas favoritas do Imperador Tibério era “qual a música cantada pelas sereias?”.

Na literatura moderna, as sereias inspiraram muitos poemas e numerosas obras, como O Silêncio das Sereias, de Kafka (1917), A história da sereia, de E.M. Forster (1947), e As sereias de Titã, de Kurt Vonnegut (1959), entre muitas outras.