Hermes

Ἑρμῆς Hermes em Roma: Mercúrio
Hermes, Hipno e TânatoHermes, Hipno e Tânato

Mensageiro dos deuses, protetor dos viajantes, condutor da sombra dos mortos ao reino de Hades; era também o deus do comércio, dos ladrões e da eloquência.

O deus olímpico Hermes é um dos poucos deuses cuja origem pode ser razoavelmente traçada. Na Grécia, desde a época micênica, era costume utilizar montes de pedra e símbolos fálicos para demarcar territórios e marcar certos pontos do caminho. No dialeto micênico, o marco era chamado de 𐀁 𐀔 𐁀 (= e-ma-a2; em jônico-ático, hermes). Com o tempo, eles se tornaram divindades protetoras dos caminhos e dos caminhantes; daí para a personificação e incorporação aos mitos gregos deve ter sido um passo pequeno.

Em -520, o tirano ateniense Hiparco (m. -514) mandou colocar colunas com uma cabeça barbada e um pênis ereto esculpidos em diversas estradas da Ática, costume logo copiado por outras póleis. Na época clássica, havia um hermes desse tipo diante de quase todas as casas.

Nascimento

De acordo com a lenda, Hermes era filho de Zeus e de Maia[1], uma das Plêiades, e nasceu em uma caverna da Arcádia. Logo após o nascimento, a mãe enfaixou-o e o pôs a dormir em um cesto, mas sem que ninguém percebesse, Hermes fugiu e se dirigiu à Tessália, onde roubou várias cabeças de gado do rebanho de Admeto, que Apolo deveria estar cuidando. Escondeu o gado roubado em Pilos, na Messênia, voltou à sua caverna antes do dia terminar, deitou-se e ficou bem quietinho no cesto.

Apolo era versado em adivinhações, mas demorou um pouco a descobrir o gado roubado e a desconfiar da identidade do astucioso ladrão. Ao se queixar do roubo, a mãe limitou-se a apontar, espantada, a “pobre criança” enfaixada e quieta em sua cesta... Mas Apolo apelou a Zeus e Hermes foi então obrigado a devolver o gado ao irmão.

Outros mitos

Apolo e Hermes logo se entenderam. Hermes havia encontrado durante o passeio uma tartaruga morta, esvaziara a casca e, esticando sobre a cavidade algumas tripas, inventara a lira. Ao ouvir os sons que o instrumento produzia, Apolo se encantou e em troca dele perdoou o irmão. Consta que também foi o hábil Hermes quem inventou a siringe (ou flauta dos pastores), formada por vários canudos desiguais, e em troca dela Apolo deu-lhe o cajado de ouro que posteriormente se tornou o kerykeion, símbolo dos mensageiros, chamado de caduceu pelos romanos.

É o deus que mais aparece nas lendas mas, em geral, no papel secundário de leva-e-traz dos outros deuses. Ele ajudou o pai, Zeus, a subtrair o irmão Dioniso, quando criança, da vingança de Hera. Era também o encarregado de missões delicadas: acompanhar as três deusas durante o julgamento de Páris; leiloar Héracles; ajudar diversos heróis em suas proezas (Perseu e Odisseu, por exemplo); conduzir o troiano Príamo até a tenda do grego Aquiles; matar Argos, o guardião de cem olhos de ; etc...

Dada sua capacidade de se deslocar por todos os caminhos e ir a todos os lugares, é Hermes quem conduz a alma dos mortos ao hades. Embora essa atividade remonte à Odisseia (24.1-2), somente em época tardias recebeu o qualifiticativo ψυχοπομπός, psicopompo.

Em sua qualidade de corredor incansável e rápido, tornou-se o protetor dos jovens que se exercitavam nos ginásios. Passou a ser também considerado, em épocas tardias, o inventor das práticas mágicas; devido à sua capacidade de interpretar e transmitir os desígnios dos outros deuses, recebeu o epíteto hermeneus (“intérprete”), de onde veio a palavra “hermenêutica”.

Nunca se casou e dos vários filhos a ele atribuídos destacam-se Autólico, o mais hábil ladrão da Grécia Antiga, e o deus .

Iconografia e culto

Hermes era habitualmente representado com as sandálias aladas, um chapéu de abas largas (o pétaso, muito usado pelos viajantes) e o kerykeion (caduceu), insígnia e símbolo dos mensageiros.

Era constantemente invocado pelos viajantes, mercadores, oradores, pastores e feiticeiros. Em Atenas, recebia sacrifícios durante o festival das Antestérias, quando os mortos eram lembrados.