Desde a descoberta em Priene, Ásia Menor, das primeiras estatuetas associadas a Baubó em 1898, diversas associações
entre o mito grego, a genitália feminina, rituais religiosos, gestos apotropaicos[1],
protestos e outros temas universais têm sido feitas pelos historiadores das religiões e pelos psicanalistas.
Ao longo das eras, a imagem de Baubó assumiu miríades de formas em inscrições, poemas,
estatuetas, entalhes e rituais. A origem órfica de Baubó no século VII aC, anterior à cultura grega (sic), foi documentada.
(...) Sempre que ela aparecia, estava associada a buracos, entradas ou cavernas. O próprio nome “Baubó”
está associado ao substantivo grego usado para corpo, cavidade, útero, vagina ou ama. (Baubó) é um ícone da vulva.
Kulish & Holtzman, 2002, p. 112
A exposição da genitália feminina (gr. ἀνάσυρμα) e, mais raramente, da genitália masculina, pode ser encontrada em antigos mitos, estatuetas e rituais diversos com finalidade explicitamente apotropaica. Um exemplo notável (Heródoto 2.60) é o dos egípcios do século
-XII, como se vê no papiro Chester Beatty (1.4.2)[2].
Esse tipo de gesto fazia parte, aparentemente, dos “mistérios” celebrados em Elêusis, uma vez que Baubó tem participação no mito de Deméter.
De certa forma, a Afrodite Calipígea (Ilum. 0807, infra) pode ser considerada um exemplo de ἀνάσυρμα, principalmente se levarmos em conta que a sensual exposição das nádegas da deusa é uma forma de culto a Afrodite.
Em épocas mais recentes, há pelo menos um exemplo em La Fontaine (Le Diable de Papefiguière, 1674), em Goethe, que aliás chama Baubó de
‘anciã peralta’ (Fausto I, vv. 3962-7) e até mesmo em mitos japoneses sobre a deusa Amaterasu.