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O Neolítico na Grécia continental

-6500 a -2500

A Grécia continental é uma das regiões do Egeu onde as culturas neolíticas mais antigas são desprovidas de cerâmica.

Essa primeira fase, dita “acerâmica”, adentrou os primeiros séculos do V milênio aC (-6500 a -5700). A fase “cerâmica”, por sua vez, evoluiu de -5800 a -2500, aproximadamente.

As maiores contribuições do Neolítico à cultura grega como um todo foram, provavelmente, a religião (a deusa-mãe) e a arquitetura (o mégaro).

Embora ainda muito controvertido, talvez se devesse acrescentar à lista algumas palavras da língua grega que designam montanhas, plantas, deuses, etc., possivelmente usadas pelos povos neolíticos estabelecidos na península balcânica antes de -3000.

Fase acerâmica

Essa etapa cultural é representada principalmente por Argissa, na Tessália (-6500/-6000), pequena aldeia de choças arredondadas com assoalho abaixo do nível do chão. Em Gremnos, perto dali, havia no entanto construções com plantas de forma quadrada.

Fig. 0109. A e B, lâminas de pedra; C, “tampão de ouvido”; D, anzol de osso. Cultura de Argissa, -6500/-6000.

Argissa é um dos mais antigos sítios com indícios de domesticação de gado bovino. Numerosos objetos de pedra, que os arqueólogos chamam de tampões de ouvido por causa de seu curioso formato, foram encontrados na aldeia; a maioria dos outros instrumentos de pedra polida era de obsidiana[1].

Da Tessália, os pioneiros dirigiram-se tanto para o norte, rumo à Europa Oriental[2], como para o sul, rumo ao Peloponeso, onde chegariam séculos mais tarde.

Fig. 0168. Principais sítios neolíticos da Grécia continental.

Fase cerâmica

Costuma-se dividir os três milênios do Neolítico cerâmico da Grécia Continental em diversas fases de desenvolvimento. Os sítios mais representativos de cada fase são Nea Nicomedia (-5800/-5300), Sesklo (-5300/-4400) e Dimini (-4300/-3300).

Os habitantes de Nea Nicomedia vieram provavelmente da Anatólia e, de lá, se espalharam pelo resto da Tessália, Grécia Central e Peloponeso. A cultura de Dimini pode ser atribuída a novas levas de imigrantes, oriundos provavelmente da Macedônia e da Trácia, ou talvez de mais longe.

No final do Neolítico, a julgar pelos poucos esqueletos encontrados até agora, a grande variedade de tipos humanos era a regra em toda parte.

Aldeias e construções

As aldeias neolíticas típicas eram pequenas, abertas e homogêneas, sem muralhas defensivas ou cercas; as casas eram em geral quadradas, com fundações de pedra e paredes de tijolos de barro. Em algumas regiões do Peloponeso, cavernas eram também usadas como moradia.

Fig. 0110. Planos esquemáticos. A: Tsangli (-5300/-4400), casa de um cômodo com telhado sustentado por postes. B: Dimini (-4400/-3300), mégaro (ver Fig. 0112). O número 1 marca uma lareira.

Em Nea Nicomedia, porém, já havia uma grande construção (12 x 12 m) cercada por outras quatro, pouco menores. Pode ter sido um templo primitivo, a residência do líder, ou ainda um simples celeiro comunitário — é impossível dizer com certeza...

E “como disse a lenda grega, séculos mais tarde, as coisas começaram com a Idade de Ouro, quando a guerra ainda não existia” (Burn, 1965).

Passagens selecionadas

Sesklo tinha 3.000 a 4.000 habitantes e cerca de 100 km² de área. As construções principais situavam-se numa elevação, e essa acrópole[3] parece ter sido cercada por um muro de aproximadamente um metro de espessura. Perto do centro havia um mégaro[4] primitivo, sem colunas, o primeiro da Grécia.

Fig. 0112. Plano da cidadela de Dimini, Tessália, -4300/-3300. O mégaro está no centro, cercado pela mais interna das muralhas.

Dimini, embora bem menor (área de cerca de 5.000 m²), também ocupava o alto de uma colina e tinha um grande mégaro (8 X 8 m), cercado de um anel defensivo de seis ou sete muralhas concêntricas de pedra e barro, não necessariamente construídas ao mesmo tempo, com 0,6-1,4 metros de espessura e possivelmente 2 a 3 metros de altura.

Em nenhum caso há indícios da função específica dessas construções monumentais na comunidade. “Parece que Dimini era arquitetonicamente organizada em torno de uma família dirigente ou de um chefe de aldeia” (Vermeule, 1972). Evidências conclusivas, porém, como por exemplo oferendas fúnebres especiais em sepulturas, não foram descobertas até o momento, embora uma das casas (Casa N) seja efetivamente maior do que as demais.

Cerâmica e arte

A decoração dos vasos de cerâmica, inexistente a princípio, logo se desenvolveu e cada aldeia e cada fase tinha seu estilo peculiar.

Fig. 0111. Cerâmica de Nea Nicomedia (A, -5800/-5300) e Sesklo (B, -5300/-4400).

Em Sesklo e Dimini utilizava-se variados padrões geométricos e, em Sesklo, alguns vasos (e também algumas estatuetas) eram recobertos com uma pintura leve e um pouco lustrosa convencionalmente chamada de Urfirnis neolítico.

À parte a cerâmica pintada, outras evidências de arte eram as estatuetas representando mulheres nuas com nádegas proeminentes, selos primitivos (“pintaderas”) nos estabelecimentos mais antigos e sinetes nos mais recentes.

Merece menção especial a pintura / desenho de uma figura humanóide em caco de cerâmica descoberto em Otzaki: data de c. -5000 e é a mais antiga representação humana encontrada na Grécia.

Fig. f0113. Figura antropomórfica (desenho? pintura?). Otzaki Magoula, Tessália, c. -5000.

A técnica e o sentido estético das estatuetas apurou-se especialmente a partir de Sesklo e, em Dimini, tornaram-se comuns as estatuetas de deusas-mãe associadas a um menino, semelhantes às de Hacilar, Anatólia, manufaturadas mais de um milênio antes.

Os habitantes de Dimini eram já capazes de trabalhar o metal e alguns artefatos de ouro produzidas nesta época mostram grande habilidade técnica.

Sepultamentos

Quanto aos sepultamentos, em Nea Nicomedia os mortos eram simplesmente enterrados em covas individuais dentro da aldeia, sem oferendas fúnebres. Em Sesklo e Dimini não foram encontradas sepulturas, o que parece indicar que os enterros eram efetuados fora da aldeia.

O único cemitério neolítico bem conhecido é o de Soufli (Tessália, -3000), no qual ossos cremados foram colocados em jarros de cor negra e depois sepultados em covas individuais.