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O estilo orientalizante na cerâmica

-720 / -500
Os efeitos mais óbvios do viés Orientalizante são observados na cerâmica pintada.

Contatos frequentes entre mercadores gregos com Chipre, Síria e Assíria desde meados do século -VIII resultaram na crescente influência de motivos orientais na cerâmica grega.

Sumário

Por volta de -720, os artesãos das principais póleis acomodaram temas e convenções artísticas do Oriente Médio à decoração de vasos. Antigos motivos geométricos deram lugar a cenas narrativas cuidadosamente desenhadas em grandes painéis, nos quais proliferavam animais selvagens e monstros orientais, como esfinges e grifos, além de intrincados temas florais.

Diferenças regionais entre os estilos de cerâmica se acentuaram, a despeito das intensas trocas comerciais; em algumas regiões (e.g. Beócia, Lacônia e norte da Jônia), os motivos geométricos mantiveram a dominância até meados do século -VI (Tab. 1). Em termos artísticos, os estilos orientalizantes de Corinto e da Ática são os mais avançados e proeminentes.

Tabela 1. Principais estilos cerâmicos protoarcaicos EstilosDatas protocoríntio-720 a -630 protoático-700 a -630 cabra selvagem-650 a -550 Fikellura-560 a -500

O protocoríntio

miniaturaOlpa protocoríntia, c. -650/-640

Os especialistas discriminam, grosso modo, três fases: a antiga (-720/-690), a média (-690/-650) e a recente (-650/-630). Predominam vasos de pequeno tamanho, e.g. aríbalos, cótilas e olpas, levados pelos mercadores coríntios para todos os territórios gregos, e figuras com fundo escuro.

Além da adoção dos animais fantásticos e dos padrões florais, alguns artesãos transpuseram os detalhes incisos das peças de metal e das joias orientais para a cerâmica. Essa técnica, denominada “figuras negras”, iria dominar a decoração cerâmica grega por mais de um século.

Na primeira fase, o geométrico recente ainda tem influência, mas as incisões que expõem a cor da cerâmica e realçam detalhes anatômicos das figuras escuras começam a aparecer. Frisos miniaturistas com cenas de ação e animais míticos (Fig. 0186) se tornam frequentes na segunda etapa e, na última, a pouca variedade de motivos deixa a decoração um pouco monótona. Aparecem, finalmente, alguns vasos em forma de animais.

Héracles e <a href='/arquivo.asp?num=0039'>Gérion</a> em vaso protocoríntio
Fig. 0186. Héracles contra Gérion, friso de píxide protocoríntia. Falero, Ática, -680/650.
Londres, Museu Britânico inv. 1865,0720.17. Observar os detalhes incisos.

Os frisos pintados depois de -640, mais ou menos, têm características transicionais que prenunciam o estilo coríntio pleno.

O protoático

O estilo tem importância praticamente regional. Na Ática, os vasos eram bem maiores do que os coríntios e o estilo dos desenhos, mais naturalista e mais expressivo.

miniaturaEnócoa do protoático médio, -675/-650

As cenas com figuras humanas eram frequentes, menos esquemáticas, de grande tamanho e menos detalhes incisos; algumas delas, passada a influência geométrica inicial, são desenhadas em fundo claro. Há também três fases: a antiga (-700/-675), ainda ligada ao geométrico recente, a média (-675/-650) e a recente (-650/-630), que já se confunde com o estilo de figuras negras.

Na primeira fase destacam-se o Pintor de Analatos, que começou a carreira no estilo geométrico, e o Pintor da Mesogeia. A segunda etapa teve grande variedade de figuras e temas, muitas vezes míticos, e o “estilo Preto e Branco”, caracterizado pela tinta branca no interior de algumas figuras traçadas com linhas negras. Os decoradores mais importantes foram o Pintor de Polifemo e o Pintor de Menelau.

O estilo “cabra selvagem”

Na Grécia Asiática, quando o estilo geométrico cedeu em meados do século -VII, surgiram vasos decorados com amplos frisos de animais bem delineados, com fundo escuro apenas no corpo, repetidos de forma monótona. O espaço entre figuras era quase totalmente preenchido com motivos geométricos e florais de grande tamanho.

miniaturaEnócoa estilo “cabra selvagem”,
-625/-600

Esse estilo, denominado da “cabra selvagem” devido à grande frequência desses animais nos frisos, era proeminente nos ateliês de Rodes, Samos, Clazômenas, Mileto, Esmirna e Quios, principalmente.

Náucratis e o litoral do Mar Negro aparentemente não eram centros produtores, todavia muitos vasos desse estilo foram lá encontrados pelos arqueólogos.

O período antigo vai de -650 a -625, o médio de -625 a -600, e o recente, concomitante com o estilo de figuras negras, de -600 a -550. Em Rodes, na última fase, foram encontrados pratos decorados com uma única imagem.

Outros estilos orientalizantes

Nos demais territórios gregos, a fase orientalizante é menos proeminente, embora alguns estilos locais e algumas obras se destaquem. Os vasos com figuras humanas e narrativas míticas da Argólida, da Eubeia, da Beócia e das Cíclades (e.g. Delos, Tera e Paros) são os mais notáveis. Em Paros eram produzidas as ânforas ditas “mélicas”, decoradas com cenas narrativas de grande tamanho.

miniaturaÂnfora estilo “Fikellura”,
c. -530

A cerâmica decorada da Grécia Asiática tem alguns formatos (e.g. pratos) e temas interessantes, notadamente em Rodes. O estilo Fikellura, de Mileto, é relativamente tardio (c. -560/-500) e inspirado no estilo “cabra selvagem”, mas o repertório é mais variado, às vezes puramente geométrico.

Pintores de Chipre, influenciados pela Grécia continental e pelo Oriente, criaram entre -600 e -480 vasos com figuras grandes e usualmente bicrômicas, que se destacam no fundo claro (estilo do “campo livre”). Creta recebeu influências de Chipre, do estilo protocoríntio, dos estilos cicládicos e da Ásia, e teve uma fase orientalizante relativamente simples até -650. Obras posteriores têm motivos e figuras mais sofisticadas.

Nos territórios gregos do oeste, a produção de vasos — se ela existiu de forma independente — se confunde com as exportações das póleis do continente grego, que mantinham uma certa ascendência cultural nas suas “colônias” da Magna Graecia.