670 palavras

O centauro Quíron

Χείρων Chiron
Peleu, Aquiles e o centauro QuíronPeleu, Aquiles e o centauro Quíron

Meio homem e meio cavalo, o centauro Quíron era filho do titã Crono e de Fílira, uma das oceânides.

Crono uniu-se a Fílira na forma de um cavalo, daí a forma híbrida do filho. Quíron não tinha a natureza selvagem dos outros centauros, filhos de Íxion e da nuvem; ele era, na verdade, ‘o mais justo dos Centauros’ (Ilíada 11.832). Apesar de ser meio-irmão de Zeus, Posídon e Hades, vivia entre os mortais em numa gruta do monte Pélion, na Tessália.

Grande caçador, conhecedor de música, de plantas medicinais, de cirurgia e de outros conhecimentos práticos prezados pelos antigos, Quíron era amigo dos heróis Peleu, a quem salvou certa vez da fúria dos outros centauros, e de Héracles.

Também foi o educador de vários outros heróis, entre eles Aristeu e seu filho Acteon, Aquiles, filho de Peleu, Asclépio, filho de Apolo, e Jasão, o futuro líder dos argonautas.

Os conhecimentos médicos foram transmitidos aos mortais por seu intermédio e pode-se dizer que ele é o mais antigo professor da mitologia grega.

Passagens selecionadas

Consta que era casado com Caricló, possivelmente uma oceânide. Além de suas atividades de professor, os principais mitos de que participa, são o do casamento de Peleu e Tétis, e o da sua morte.

Quando o navio Argo partiu para sua viagem à Cólquida, Quíron e sua esposa foram se despedir dos argonautas.

O mito de seu desaparecimento ou morte é muito interessante. Quíron foi atingido acidentalmente por uma flecha de Héracles, durante uma de suas escaramuças contra os outros centauros, ou especificamente na ocasião da visita do herói a Folo. A flecha, embebida no veneno da Hidra de Lerna, produzia feridas incuráveis e o centauro sofria dores horríveis, que nem seus conhecimentos médicos eram capazes de mitigar[1].

Desesperado, Quíron renunciou então à sua imortalidade, conseguiu morrer e escapou do terrível sofrimento. Zeus colocou-o, então, entre as constelações (Sagittarius).

As mais antigas menções a Quíron estão na Ilíada (4.219, 11.832, 16.140-4 e 19.387-91). As principais fontes do seu mito são, no entanto, Píndaro (P. 3.1-7, 4.101-15 e 9.26-65), Apolônio Ródio (2.506-15), o Pseudo-Apolodoro (1.2.4, 2.5.4, 3.4.4 e 3.13.5), Plutarco (Quest. conv. 647a) e Eratóstenes (Cat. 1.18).

Iconografia e culto

Assim como outros centauros, nas representações mais antigas, usualmente na cerâmica do século -VI em diante, Quíron está representado com pernas dianteiras humanas e a parte traseira do corpo semelhante à de um cavalo. Imagens posteriores mostravam seu aspecto humano apenas do umbigo para cima.

Frequentemente, para ressaltar sua natureza civilizada, o artista colocava-lhe roupas e, para destacar sua competência de caçador, ocasionalmente trazia no ombro uma vara com diversos animais pendurados.

Sacrifícios eram oferecidos a ele no Monte Pélion.

Recepção

O nome Quíron deriva da palavra χείρ, ‘mão’, e aqui tem provavelmente o sentido de ‘hábil com as mãos’. Indubitavelmente, o nome está relacionado à sua destreza como cirurgião — note-se que a palavra χειρουργία, ‘trabalho feito com as mãos, cirurgia’ deriva do mesmo radical.

Os cheironidae, ‘quironidas’, membros de uma família de médicos da Magnésia, afirmavam descender de Quíron (Plu. Quest. conv. 647a, cf. Smith, 1867, s.v. Cheiron).

miniaturaA educação de Aquiles

Quíron, sua sabedoria e suas atividades educativas são mencionadas — nem sempre positivamente — em muitas obras literárias, notadamente na Aquileida, de Estácio (sæc. I), em uma das Imagens de Filóstrato, o Jovem (865.12, sæc. III), no Polycraticus de John of Salisbury (1159), no Emblematum Liber de Andreas Alciato (1546), na Divina Comédia de Dante (Inferno, canto 12, 1308-1321), em O Príncipe, de Maquiavel (1532, cap. 18) e no Fausto, de Goethe (parte 2, ato 2, cena 5, 1832).

Da época romana em diante, numerosos artistas representaram Quíron e seu pupilo, Aquiles, em afrescos, relevos, esculturas (e.g. Rinaldi, 1817), pinturas (e.g. Rubens, 1630/1635; Cipriani, 1776; Barry, 1772; Gagneraux, 1785) e muitos outros suportes.

O mito inspirou uma novela de John Updike, The Centaur (1963).