A moderna medicina Ocidental,
de caráter estritamente técnico-científico e
balizada por elevados preceitos éticos, deriva da antiga medicina grega.
O próprio símbolo da
medicina, embora de origem mesopotâmica, foi difundido pelos gregos e é utilizado até hoje.
A arqueologia não revelou ainda evidências concretas para o entendimento da medicina grega
anterior a -750, mas alguns achados sugerem que havia médicos pelo menos a partir de
-1350 (Arnott, 1996, p. 266-7).
O heléboro negro
Quatro séculos depois, referências explícitas podem ser encontradas nos poemas homéricos (c.
-750/-700). Embora de caráter mítico, em sua maioria, as informações transmitidas pelo poeta
deixam entrever a existência de médicos práticos, conhecedores de plantas medicinais e de técnicas
cirúrgicas adequadas ao tratamento de feridas de guerra. Esses médicos, aparentemente, não se
dedicavam apenas à Medicina.
Asclépio, um dos heróis-médicos citados por Homero, tornou-se o mais
importante deus da medicina no início do Período Arcaico. Seus santuários, assim como os dedicados
a outros deuses e também a alguns heróis, se tornaram populares templos de cura, onde os
devotos buscavam auxílio divino para seus problemas de saúde. Os templos conviviam com vendedores
de ervas, magos, charlatães e pessoas que, desde tempos imemoriais, recorriam à religião
e a uma série de superstições para promover a cura das doenças.
Nas últimas décadas do Período Arcaico, aparentemente, os médicos se tornaram profissionais em
tempo integral, que procuravam efetuar curas totalmente desvinculadas da religião e da superstição
(Hipócrates, Da doença sagrada 2;
Do decoro 2-3) e exerciam sua Arte com grande
seriedade em consultórios e domicílios.
A partir de -500, com as investigações teóricas dos filósofos da natureza, a medicina se tornou
mais racional e começou a se desvincular completamente da religião e da própria filosofia. Já na
metade do século -V, teorias para explicar o funcionamento do corpo humano na saúde e
na doença começaram a se difundir e, por volta de -400, princípios racionais —
para a época[1] — de diagnóstico, prognóstico e tratamento
estavam já razoavelmente estabelecidos.
O mais famoso médico da Grécia Antiga foi Hipócrates de Cós (-460/-380),
considerado o pai da medicina. Sua fama se deve, basicamente, à "coleção hipocrática"
(corpus hippocraticum), extensa coletânea de tratados médicos a ele tradicionalmente
atribuídos, porém escritos entre os séculos -V e II. A influência desses
textos na arte e na ciência médica foi enorme e perdurou até o século XVIII.
Nas primeiras décadas do Período Helenístico, a anatomia e a fisiologia, assim como a cirurgia,
fizeram grandes progressos, mas depois de Galeno (129/204) a ciência médica progrediu
muito pouco. Apesar disso, a medicina grega sempre desfrutou de alto conceito e os mais reputados
médicos do Período Greco-romano eram de origem grega.