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Eratóstenes

Ἐρατοσθένης Eratosthenes Epicus Eratosth. c. -285 /-194

Eratóstenes foi um erudito notável, célebre em sua própria época pela versatilidade e pela amplitude de seus interesses: matemática, geografia, literatura, filosofia...

Vida

Estima-se que viveu entre -285 e -194, aproximadamente. Nasceu em Cirene, no norte da Líbia, mas viveu e estudou muito tempo em Atenas, onde foi influenciado pelos filósofos estoicos Zenão e Aríston de Quios (n. c. -300) e pelo filósofo cético Arcesilau de Pítane (c. -316/-241).

Em -246 foi convidado por Ptolomeu III Evérgeta para se tornar o tutor de seu filho e para suceder Apolônio de Rodes como bibliotecário-chefe da Biblioteca de Alexandria, cargo que exerceu até a morte. Ele foi o terceiro bibliotecário-chefe.

Os amigos o consideravam um segundo Platão; os inimigos o chamavam de Βῆτα, ‘o segundo em tudo’, e Πένταθλος, ‘o que tenta todas as coisas’ (Suda s.v.).

Conterrâneo de Calímaco, foi seu contemporâneo em Alexandria. Os dois certamente se conheciam, mas nada sabemos de seu relacionamento pessoal. Com Arquimedes de Siracusa (-287/-212), por outro lado, mantinha excelentes relações.

Suda ε 2898, POxy. 1241 col. 2.1-8, Estrabon 1.2.2.

Obra

Eratóstenes foi um intelectual de primeira linha e homem de convicções independentes, firmes e honestas. Afirmou, por exemplo, que o mérito dos sistemas políticos dos bárbaros (i.e., dos não gregos) devia ser medido unicamente por sua moralidade, e não por critérios relativos à raça (Estrabon 66).

Seus interesses se estendiam à literatura, à cronologia, à matemática, à geografia e à cartografia, e também à filosofia.

Filosofia, cronologia, biografia

Nada sabemos sobre as obras filosóficas Platonicus e Ariston; eram, provavelmente, anteriores à sua fase Alexandrina e tinham a forma de diálogo.

Eratóstenes estabeleceu os fundamentos científicos de um sistema cronológico na obra Χρονογραφία (Cronografia), na qual criou um calendário com anos bissextos que começava a partir da Guerra de Troia, cuja ocorrência foi estimada por ele em -1184[1].

Compilou uma lista dos vencedores dos jogos olímpicos na obra Ὀλυμπιονῖκαι (Olimpiônicas).

Escreveu também uma pequena biografia da rainha Arsinoé III Filopator, falecida em -204 durante um golpe palaciano (Políbio 15.25.2).

Matemática, geografia e astronomia

Abordou diversas questões teóricas e práticas de matemática, geometria e, possivelmente, de música. Escreveu pelo menos duas obras, Dos Meios Geométricos e Da Duplicação do Cubo, mas atualmente é mais conhecido pelo crivo de Eratóstenes, um método sistemático para isolar números primos (ver sinopse).

Consta que foi ele quem criou, por volta de -200, a palavra geografia (gr. γεωγραφία), que significa descrição da terra. Eratóstenes foi o primeiro geógrafo a estudar sistematicamente todos os temas geográficos e devemos considerá-lo, sem dúvida, o criador da matemática geográfica, i.e., da aplicação de cálculos matemáticos no estudo da geografia. Com as informações do seu tratado, foi possível desenhar um mapa-múndi (ver sinopse).

miniaturaEratóstenes ensinando em Alexandria

No tratado Da Medida da Terra (gr. Περὶ τῆς ἀναμετρήσις τῆς γῆς) demonstrou como medir, com alto grau de precisão para a época, a circunferência da Terra. Mediu também a distância entre a Terra e a lua e entre a Terra e o sol, através de informações obtidas durante eclipses lunares[2].

Segundo seus cálculos, a distância até o sol era de 804.000.000 estádios[3], e a distância até a lua era de 780.000 estádios. Os resultados, nesses casos, não foram tão bons como na medida da circunferência da Terra.

Mediu também a inclinação do eixo da Terra[4], obtendo provavelmente o valor de 24º (Heath, 1921) ou de 2/15 de 180° (Taisbak 1984). Segundo Cláudio Ptolomeu (100/170), o valor obtido foi 11/83 de 180°, i.e., 23° 51' 15", mas muitos eruditos modernos atribuem esse valor ao próprio Ptolomeu.

Eratóstenes compilou um catálogo de 675 estrelas, que não chegou até nós, e também credita-se a ele a invenção da esfera armilar (c. -255), instrumento astronômico que mostra as principais divisões do céu e o movimento dos corpos celestes. Posteriormente, ela foi aperfeiçoada e usada por Hiparco.

Literatura

De acordo com Suetônio (Dos Gramáticos 10), Eratóstenes foi o primeiro estudioso a chamar a si mesmo de “filólogo”[5].

Seu mais importante trabalho de crítica literária, Da Comédia Antiga (12 livros), perdeu-se.

Compôs diversos poemas, mas só temos fragmentos de dois pequenos épicos, o Hermes (em hexâmetros, sobre o nascimento e a juventude do deus) e o Anterinis (ou Hesíodo, sobre a morte do poeta), e a elegia Erígone, sobre o mito do ateniense Icário e sua filha.

A temática de sua poesia é, evidentemente, helenística, mas uma de suas afirmações, ποιητὴν γὰρ ἔφη πάντα στοχάζεσθαι ψυχαγωγίας οὐ διδασκαλίας, ‘toda poesia é para entreter, não para instruir’ (Estrabon 1.2.3) parece um alerta contra os excessos da poesia erudita, em moda naquela época.

Em pelo menos dois dos poemas mencionados um ou mais personagens ascendem aos céus, transformados em corpos celestes; no Hermes há também uma descrição da estrutura do cosmo.

Talvez Catasterismos, obra em prosa do século -II com lendas sobre a origem das constelações, tenha sido atribuída a ele pelos antigos por essa razão. Na realidade, o autor desses poemas é desconhecido e devemos, portanto, denominá-lo Pseudo-Eratóstenes ou [Eratóstenes].

Textos

Chegaram até nós, graças aos estudiosos que o sucederam, algumas contribuições no campo da cronologia, da matemática e da geografia.

Sinopses

Infelizmente, tudo o que restou da obra de Eratóstenes são uns 350 fragmentos e outras tantas citações. Resumos e comentários de autores posteriores complementam e organizam as informações.

Edições e traduções

há edições de obras isoladas

A única edição que reúne todos os testemunhos e fragmentos conhecidos na época, já ultrapassada mas não substituída, é a de Bernhardy (1822).

Não há traduções para o português.

Influências

Em 1935, uma cratera lunar de impacto (15.44°N 12.32°W) recebeu o nome Eratosthenes em sua homenagem.