Origens da poesia oral e da épica

Um poema é mais memorizável que um parágrafo em prosa; uma canção é mais memorizável que um poema.
Eric Havelock, 1996
Cantor com cítaraCantor com cítara

A poesia épica originou-se da rica tradição oral das comunidades gregas.

Assim como muitos outros povos, os gregos dispunham de extensa cultura literária antes mesmo de dominar a escrita. Mitos, relatos de aventuras, regras legais, canções religiosas e profanas ficavam arquivados na memória de toda a comunidade e eram transmitidos oralmente de geração a geração.

A maneira mais efetiva de se conservar na memória qualquer tipo de informação é, em primeiro lugar, adaptá-la a uma forma metrificada e constante, e em segundo lugar enunciá-la de forma rítmica diante de uma audiência a intervalos regulares. Se as informações são declamadas com o acompanhamento de melodias, música de instrumentos e dança, tornam-se ainda mais memorizáveis:

A poesia oral foi certamente a mais antiga forma de registro das obras literárias da Grécia Antiga, e as ocasiões sociais em que eram apresentadas a uma audiência grande ou pequena eram inúmeras: rituais religiosos, festas populares, reuniões familiares, reuniões nos aristocráticos palácios micênicos, e assim por diante. No caso dos poemas homéricos, foram certamente os aedos que conservaram e transmitiram os versos. Os aedos eram declamadores-cantores profissionais itinerantes que declamavam relatos míticos e aventuras em versos de sua autoria acompanhados em geral do som da lira.

A linear B, escrita utilizada pelos gregos entre -1400 e -1100, era empregada somente para os registros contábeis dos palácios micênicos, e nenhum relato de natureza literária foi descoberto até o momento. A cultura oral grega é, seguramente, bem mais antiga do que o próprio Período Micênico, mas somente com o advento do alfabeto os primeiros versos puderam ser registrados para a posteridade.

Uma das mais antigas incrições alfabéticas conhecidas é a da célebre “taça de Nestor”, datada do fim do século -VIII e encontrada em Pitecusas, Magna Grécia. O primeiro verso parece ser um iambo, mas os dois seguintes são hexâmetros, característicos da poesia épica.