Sófocles / Filoctetes
Filoctetes (gr.
A tragédia foi apresentada pela primeira vez em
Note-se que nessa peça Sófocles recorreu ao deus ex machina, recurso frequentemente utilizado por seu rival
Eurípides, e que Filoctetes é a única das tragédias gregas conhecidas sem personagens femininos.
Filoctetes chefiou um dos contingentes tessalianos que participaram da Guerra de Troia, o da Magnésia. Arqueiro excelente, consta que era o detentor do arco e das flechas de Héracles, morto há apenas uma geração. Seu mito está inserido na ida dos aqueus para Troia, quando é abandonado em Lemnos devido a uma fétida ferida no pé, e na etapa final da guerra, quando vão
Hipótese
Na versão sofocliana do mito, o ferido e abandonado Filoctetes vive em Lemnos como um selvagem, sobrevivendo da caça e abrigado em uma gruta, em meio a violentas crises de dor. Odisseu e Neoptólemo chegam à ilha e o astucioso Odisseu logo propõe um engano para obter o arco de Héracles e o próprio Filoctetes. Neoptólemo concorda e ganha a confiança de Filoctetes, mas no transcorrer da ação tende para o lado do sofredor mas inflexível herói, que se recusa a voltar e favorecer os atridas e Odisseu.
O jovem Neoptólemo finalmente revela a verdade a Filoctetes e enfrenta Odisseu. Diante do impasse, Héracles surge ex machina e determina que Filoctetes e seu arco sigam para Troia. Filoctetes, respeitosamente, obedece.
Dramatis personae
Mise en Scène
A cena se passa na ilha de Lemnos, no Egeu Setentrional, diante de uma gruta com duas entradas. O protagonista fazia o papel de Filoctetes; o deuteragonista, o de Neoptólemo; e o tritagonista, o de Odisseu, do falso mercador e de Héracles.
Resumo
A tragédia tem 1471 versos e ocupa cerca de 55 páginas da edição de Dain (1960), na qual se baseia o presente resumo.
Os acontecimentos datam de pouco antes da queda de Troia, quando Lemnos era, segundo o poeta, desabitada.
Ao desembarcar na ilha, Odisseu explica ao jovem e inexperiente Neoptólemo que ele deve se aproximar de Filoctetes para se apoderar do arco e das flechas, pois Odisseu não é benquisto pelo herói abandonado. Neoptólemo, a princípio relutante, concorda com a ação contrária ao seu temperamento (prólogo,
O coro e Neoptólemo examinam a caverna que abriga Filoctetes e lamentam sua sorte, sozinho e doente na ilha há longos anos. O coro ouve os gritos de Filoctetes nas proximidades (párodo,
Filoctetes suplica que o leve consigo e o jovem concorda, mas
Ao sair da gruta, Filoctetes sofre uma terrível crise de dor, pede a Neoptólemo que segure as armas de Héracles, e desmaia (2º episódio,
Ao acordar, Filoctetes se alegra ao ver o coro, Neoptólemo e as armas à sua espera. Neoptólemo revela o embuste, e o herói implora pelas armas. Odisseu então aparece e avisa que tem de levar as armas e Filoctetes a Troia, se necessário com o uso da força. Filoctetes
Filoctetes dialoga com o coro e lamenta a vã esperança que teve, assim como a perda das armas, e pede uma espada para se matar (3º estásimo,
Quando Odisseu chega à caverna, Filoctetes já recebera suas armas e ameaça
Manuscritos, edições e traduções
Os melhores manuscritos são o Mediceus (Laurentianus 32.9, sæc. X), da Biblioteca Laurenciana de Florença, e o Parisinus 2712 (sæc. XIII), da Biblioteca Nacional de Paris. Editio princeps: a Aldina, de 1502. Das edições modernas da tragédia isolada, as mais importantes são as de Kamerbeek (1946), Taccone (1948), Webster (1970) e Schein (2013).
Passagens selecionadas
A mais antiga tradução para o português é a do Padre Eusébio Dias Palmeira, de 1973, seguida pela de José Ribeiro Ferreira, de 1988.
Fernando Brandão dos Santos preparou uma tradução em 1989 para sua Dissertação de Mestrado, finalmente publicada em 2008. A de Josiane Martinez é de 2003 e a de Trajano Vieira, de 2009. Jaa Torrano publicou a sua em 2023.