O trecho selecionado pertence ao 3º estásimo da tragédia e mostra o lamento de Filoctetes ao descobrir que Odisseu o enganara.
A tradução é de Fernando Brandão dos Santos, que gentilmente autorizou a reprodução de parte de sua Dissertação de Mestrado (1990). De lá para cá, o texto foi revisto e publicado pela Editora Odysseus em 2008.
O lamento de Filoctetes
FILOCTETES
Ó mãos, quantas coisas suportas pela falta das cordas
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amigas[1], por este homem aprisionadas!
Ó tu que nada saudável nem livre pensas,
de novo me enganaste, como me caçaste, tomando
como cobertura para ti esse menino um desconhecido para mim;
indigno de ti, mas digno de mim,
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que nada sabia exceto fazer o que foi mandado.
É evidente que agora suporta dolorosamente
as faltas que ele próprio cometeu, pelas quais eu sofro.
Mas a tua alma perversa penetrando sempre pelas profundezas,
a ele, que não tinha essa natureza e tampouco queria,
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ensinou bem a ser hábil em coisas perversas.
E agora, miserável, julgas que, tendo me prendido,
levas-me deste promontório, no qual me jogaste,
sem amigo, desertado, sem cidade, entre vivos um morto?
Ah!
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Que morras! E muitas vezes isso te roguei.