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Xenofonte de Atenas

Ξενοφῶν Xenophon HistoricusXen.

Soldado, aventureiro, proprietário rural, escritor, ex-discípulo de Sócrates... Xenofonte de Atenas é uma das mais versáteis e fascinantes personalidades do Período Clássico.

Biografia

Nasceu em Atenas por volta de -428. Era de família abastada e conviveu com Sócrates até -401, quando se juntou aos mercenários gregos que combateram na Pérsia em favor de Ciro, o Jovem. Após a batalha de Cunaxa (-401), os mercenários gregos tiveram de fugir e Xenofonte foi um dos líderes da bem sucedida retirada.

Lutou novamente contra os persas, ao lado dos espartanos, e tornou-se amigo do rei Agesilau (-396). Acompanhou-o de volta à Grécia quando começou a Guerra de Corinto (-395/-387) e consta que ficou do lado de Esparta durante a batalha de Queroneia (-394), possivelmente sem participar dos combates.

Devido ao seu óbvio alinhamento com os interesses espartanos, na época contrários aos de Atenas, os atenienses exilaram-no e confiscaram seus bens. Esparta concedeu-lhe, então, a proxenia[1] e uma propriedade na Élida, perto de Olímpia (-390).

miniaturaSócrates, Alcibíades e Xenofonte

Durante os 20 anos seguintes Xenofonte foi apenas um tranquilo e abastado proprietário rural e escreveu grande parte de suas obras. Após a derrota dos espartanos em Leuctras (-371), porém, teve de abandonar a propriedade e se refugiar em Corinto.

Anos antes, com a reaproximação de Atenas e Esparta, seu exílio havia sido revogado, mas ele aparentemente não voltou mais à pátria. Seu filhos, no entanto, lutaram no exército ateniense e um deles, Grilo, morreu em Mantineia (-362).

Sua última obra parece ter sido escrita em -355 ou poucos anos depois: é a última referência que temos sobre sua vida.

Obras sobreviventes

Todas as suas obras foram conservadas. A cronologia da maioria é pouco exata, porém todas devem ter sido escritas depois de -390, quando se retirou para sua propriedade na Élida.

É costume dividí-las em três grupos que informam, em caráter bastante genérico, o tipo de texto:

  • “históricas”: Anábase, Helênicas, Agesilau (-360);
  • “filosóficas” ou socráticas: Memoráveis, Apologia de Sócrates, Banquete, Econômico;
  • “didáticas”: A Educação de Ciro (-370), Constituição dos Lacedemônios, Comandante de cavalaria, Hieron, Da caça, Do rendimento (-355).

Constituição de Atenas, atribuída a ele pelos antigos, e mais algumas cartas, não são de sua autoria. Há também dúvidas sobre a autenticidade do pequeno tratado Da Caça.

Características da obra

Xenofonte era homem de ação. Sua concepção de vida, tradicionalista, aristocrática e antidemocrática, seguia de perto as ideias espartanas. Como bom ateniense, porém, sentia necessidade de discutir, argumentar, ponderar, explicar as razões de seus pensamentos e atos.

A despeito disso, ele registrou o estranho e incomum conceito, para um grego da sua época, de que todos os seres humanos — homens e mulheres, pessoas livres e escravos, gregos e não gregos — têm a mesma capacidade para a virtude (Flower 2017, p. 5).

Julga-se, também, que Xenofonte nada tinha de filósofo e que os escritos socráticos procuravam apenas defender a memória do amigo e transmitir seus ensinamentos. Esse conceito sobre sua aptidão para a filosofia tem sido, contudo, crescentemente revisto.

miniaturaXenofonte

As variadas experiências vividas por ele se refletem na diversidade de sua obra; a personalidade marcante do autor e suas ideias aparecem com nitidez em cada parágrafo. De certa forma, essa é a principal razão de sua deficiência como historiador: as narrativas contêm, principalmente, as lembranças e a visão pessoal de Xenofonte. A despeito disso, o relato dos eventos ocorridos entre -411 e -362 são inestimáveis para a reconstituição histórica da época.

Do ponto de vista linguístico, Xenofonte é um dos modelos mais perfeitos do dialeto ático. Suas narrativas podem parecer um pouco cansativas ao leitor moderno, porém seu estilo simples, elegante e correto é certamento um marco da literatura grega.

Ele foi um dos primeiros escritores gregos a escrever biografias (Agesilau). Educação de Ciro pode ser também considerado um romance histórico.

Suas obras eram muito lidas na Antiguidade e na Renascença. Graças à linguagem simples, correta e agradável, os textos de Xenofonte têm sido utilizados no ensino do grego antigo há séculos.

Os textos

Sinopses

Há, por enquanto, apenas duas sinopses em andamento no Portal:

Manuscritos, edições e traduções

Os numerosos manuscritos de Xenofonte estão agrupados em três famílias. Os representantes mais antigos de cada uma delas são o Parisinus C (sæc. XIV), o Bodleianus (sæc. XV) e o Parisinus A (sæc. XV). Os dois Parisini estã na Biblioteca Nacional, Paris, e o Bodleianus na Biblioteca Bodleiana de Oxford.

A editio princeps de Xenofonte é a Juntina (Florença, 1516). As edições padrão ainda são a de Edgar Marchant (OCT, 1900-1904, 5 v.) e a de Marchant, Carleton Brownson, Walter Miller e outros para a Loeb (1918-1925, 14 v.).

A coleção Budé, que começou a publicar suas edições em 1930 (ed. Paul Masqueray, Pierre Chantraine, Marcel Bizos e outros), estava quase completa em 2019.

Em português, existem apenas traduções de algumas obras isoladas.