Os templos da cura

Santuários dedicados às divindades médicas surgiram em diversos lugares a partir do século -VI.

Sumário

Nesses templos os devotos ofereciam sacrifícios, purificavam-se com dietas, banhos, rituais apropriados e, uma vez ou outra, até mesmo se curavam de seus males.

Essa medicina, baseada principalmente no poder da sugestão e em regras de higiene, tinha lá sua validade e gozou de grande prestígio, a julgar pela enorme quantidade de oferendas votivas que os devotos, agradecidos, doavam aos santuários. Durante toda a Antiguidade, a despeito dos avanços técnicos e científicos da Medicina, os templos da cura mantiveram-se em plena atividade.

Os templos de Asclépio

Trica, na Tessália, pátria de Asclépio, tinha o mais antigo santuário dedicado à cura, datado provavelmente do século -VI. O mais famoso e influente, porém, foi o de Epidauro, na Argólida, construído no século -V. Outros santuários também importantes existiram em Atenas, Cós, Pérgamo e Roma, este erigido por volta de -291.

miniaturaEntrada do templo de Epidauro

Esses templos — os mais importantes, pelo menos — foram erguidos em locais de clima agradável, próximos a bosques e fontes de águas minerais. Os doentes acorriam em massa, em busca da cura de suas doenças e, a julgar pelas inscrições do templo de Epidauro, após consultar diversos médicos.

Inicialmente, o devoto precisava oferecer um sacríficio ao deus. Depois de um banho de purificação, tinha de adormecer dentro do recinto sagrado — processo chamado de ἐγκοίμησις ou incubatio, 'incubação' — quando então a cura lhe chegava em sonhos.

No sonho, o deus ou aparecia em pessoa com uma ou várias de suas filhas, e tratava pessoalmente o suplicante, ou então fazia uma serpente lamber o ferimento ou a região afetada pela doença. Outras vezes, Asclépio simplesmente sugeria um tratamento: banhos, massagens, plantas medicinais, oferecimento de sacrifícios, viagens, e outros procedimentos salutares.

Passagens selecionadas

Os doentes curados deviam ainda agradecer ao deus com presentes: estelas esculpidas com dedicatória, placas de pedra com o relato da cura, modelos do órgão curado, moedas de ouro e prata... — de certa forma, a oferenda votiva era parte integrante do ritual.

E é claro que tanto os sacerdotes ajudavam os suplicantes na interpretação dos sonhos, como também o próprio deus, que não dava conta sozinho de tantos animais sacrificados e muitas outras dádivas...

Outros santuários

Os mais importantes e populares templos da cura eram, sem dúvida, os dedicados a Asclépio. Os santuários dos deuses olímpicos, porém, e também os túmulos dos heróis-médicos, médicos comuns ou mesmo personagens lendários sem qualquer referência à Medicina eram procurados pelos doentes em busca da cura.

Apolo era cultuado em Coroneia, na Messênia, e Atena, em Atenas, por exemplo. Às vezes, o deus ou deusa assumia um epíteto especial, como em Oropos (Atena Peônia) e Atenas (Atena Higeia). O herói-médico Macaon, filho de Asclépio, era cultuado em Gerênia, na Messênia; o adivinho-médico Melampo, em Egostena, na Ática; o médico Oresínio, em Elêusis, também na Ática.

Não temos, infelizmente, detalhes referentes a esses santuários. Notável exceção é o culto que era prestado ao herói Anfiarau, um dos sete contra Tebas, possuidor de notáveis dons proféticos. Seu santuário em Oropos, na Ática, era muito popular e funcionava nos mesmos moldes dos templos de Asclépio.