Aristófanes / Pluto 653-741
Nesta passagem, o poeta descreve a cura da cegueira de Pluto, deus da riqueza, em um dos templos de Asclépio. A tradução, em prosa, é de Américo da Costa Ramalho (1999).
CARION
Logo que chegamos junto do deus, levando este que era então o mais desgraçado dos homens, e agora bem-aventurado e feliz mais do que nenhum outro, em primeiro lugar conduzímo-lo ao mar, depois lavámo-lo.
MULHER
Sim, por Zeus, estava mesmo feliz um homem velho lavado com água fria do mar.
Ca.
Depois fomos ao recinto sagrado do deus. E quando sobre o altar foram consagrados bolos e oferendas,
Mu.
Havia também outros que rezavam ao deus?
Ca.
Um, pelo menos, Neoclides que é cego, mas ultrapassa em roubalheira os que vêem. E muitos outros, cada um com sua doença. E quando apagou as lucernas e nos mandou dormir, o criado do deus, dizendo nos calássemos, se alguém ouvisse um ruído, todos nós nos deitamos sossegadamente. (...) Depois, eu cobri-me depressa, com medo, e ele andou em volta observando as doenças, em muito boa ordem. Em seguida, um escravo apresentou-lhe um almofarizinho de pedra e um pilão e uma caixinha. (...) Depois disso, ainda se sentou ao lado de Pluto, e, para começar, tocou-lhe na cabeça. Em seguida, pegou num pano limpo e limpou-lhe as pálpebras em volta. Quanto a Panaceia, cobriu-lhe a cabeça com um pano vermelho, assim como todo o rosto. Depois, o deu assobiou. Logo saltaram do templo duas serpentes de enorme grandeza.
Mu. Oh bons deuses!
Ca.
As duas introduziram-se sossegadamente sob o pano vermelho e lambiam-lhe as pálpebras, ao que me parecia. E em menos tempo do que tu precisas para beber dez copos de vinho, Pluto, oh senhora, erguera-se e via. Eu, por mim, bati as palmas de prazer e acordei o meu senhor. O deus rapidamente desapareceu, ele e as serpentes, para o templo.
farinha sagrada que ardeu no fogo de Hefesto, colocamos Pluto, como é natural. E cada um de nós arranjou um leito de folhagem.