320 palavras

Os médicos homéricos

ἄγρει σῶν ὀχέων ἐπιβήσεο, πὰρ δὲ Μαχάων βαινέτω, ἐς νῆας δὲ τάχιστ' ἔχε μώνυχας ἵππους: ἰητρὸς γὰρ ἀνὴρ πολλῶν ἀντάξιος ἄλλων.

Apressa-te, sobe em teu carro e faz Macaon ir junto; leva rapidamente para os navios os cavalos de casco maciço, pois um médico vale por muitos outros homens.

Adivinhos à parte, os médicos dos poemas homéricos eram semidivinos[1] e tidos em altíssima conta pelos companheiros.

miniaturaAquiles e Pátroclo

Esse prestígio foi imortalizado pelas palavras do herói Idomeneu ao veterano Nestor, na Ilíada (11.512-4, supra).

Os conhecimentos médicos, a princípio exclusividade dos deuses imortais, haviam sido transmitidos aos mortais graças a Quíron, o centauro educador de heróis. Dois dentre os alunos de Quíron, pelo menos, aprenderam com ele as artes médicas: Asclépio e Aquiles.

Além de Aquiles, Homero conta que estiveram em Troia os seguintes médicos: Podalírio e Macaon, filhos de Asclépio, e Pátroclo, filho de Menetes, amigo dileto de Aquiles. Os filhos de Asclépio aprenderam a medicina com o próprio pai; Pátroclo, com o amigo Aquiles.

A medicina praticada pelos heróis-médicos era ainda uma ciência eminentemente prática, restrita ao tratamento das feridas de guerra. Em várias passagens da Ilíada, porém, Homero deixa claro que esses médicos tinham também muitos conhecimentos referentes ao uso de plantas medicinais, úteis para o tratamento de ferimentos e em outras situações.

A Odisseia traz também algumas passagens interessantes. A mais notável delas relata a visita de Telêmaco a Menelau, em Esparta, quando Helena coloca no vinho uma substância euforizante, de origem egípcia, 'calmante da dor e do ressentimento' (Od. 4.219-34) — obtida, provavelmente, de uma planta. Em outra parte, Hermes dá a Odisseu uma 'erva mágica', antídoto contra as poções mágicas de Circe (Od. 10.287-95).

Por outro lado, a Odisseia traz um dos mais antigos testemunhos sobre o uso de magia com fins terapêuticos. Em 19.455-8, os filhos de Autólico sustam o sangramento de uma ferida na coxa de Odisseu, produzida por um javali, através de um encantamento (gr. ἐπωιδή).