A escrita alfabética

O alfabeto grego é o mais antigo alfabeto conhecido a fazer uso de sinais para a representação das vogais.

Sumário

As mais antigas inscrições alfabéticas gregas datam do século -VIII e já mostram alto grau de evolução; é possível, consequentemente, que o desenvolvimento da escrita alfabética tenha começado um pouco antes, no final do século -IX.

O alfabeto grego “unificado”

O alfabeto grego se baseia no alfabeto fenício desenvolvido por volta de -1050, tanto que os antigos gregos chamavam suas letras de “letras dos fenícios” (gr. τῶν Φοινίκων τὰ γράμματα, Hdt. 5.58). Os gregos tiveram muitos contatos comerciais com os fenícios na Sírio-Palestina durante o século -IX, mais precisamente no entreposto de Al-Mina. Parece que foram os comerciantes das póleis de Cálcis e Erétria que trouxeram os sinais alfabéticos para a Grécia.

A princípio cada pólis usava seu próprio conjunto de sinais. O alfabeto usado pela cidade de Mileto foi adotado por Atenas em -403/-402 (Suda, s.v. Σαμίων ὁ δῆμος) e, nos anos seguintes, pelas demais cidades gregas. É esse o alfabeto grego “padrão” que utilizamos até hoje.

miniaturaAlfabeto beócio arcaico

Nos tempos antigos havia apenas letras maiúsculas; as minúsculas foram criadas durante o Período Helenístico pelos eruditos alexandrinos e popularizaram-se muito mais tarde, nos primeiros séculos da Idade Média.

Todas as inscrições eram habitualmente entalhadas em letras maiúsculas, assim como os manuscritos; as minúsculas tornaram-se de uso corrente nas cópias de manuscritos durante a Idade Média, do século IX em diante, por iniciativa dos copistas do Império Bizantino.

Eis o alfabeto grego de minúsculas e maiúsculas utilizado nas edições modernas de textos gregos:

Α α alfa Β  β  ϐ beta Γ  γ gama Δ  δ delta Ε  ε épsilon Ζ  ζ dzeta Η  η eta Θ  θ  ϑ teta Ι  ι iota Κ  κ capa Λ  λ lambda Μ  μ mi Ν  ν ni Ξ Ξ  ξ csi Ο  ο ômicron Π  π pi Ρ  ρ ro Σ  σ ς ϲ sigma Τ  τ tau Υ  υ ípsilon Φ  φ fi Χ  χ qui Ψ  ψ psi Ω Ω  ω ômega

Há vinte e quatro letras, dezessete consoantes e sete vogais. Algumas consoantes [ ζ θ ξ φ χ ψ ] têm som duplo (ψ = πσ, por exemplo). Algumas letras, como o sigma, têm variantes: σ é o sigma inicial ou medial, ς é o sigma terminal e ϲ é o sigma lunado, que pode aparecer em qualquer posição.

Alguns textos gregos atuais, notadamente os editados na Inglaterra, usam o iota adscrito (αι) ao invés do iota subscrito () utilizado pelos editores franceses e alemães logo após as vogais longas. No Portal, utilizo as duas formas, conforme a edição do texto grego consultado.

Algumas das letras utilizadas para a representação dos sons eram também empregadas para a notação alfabética dos numerais.

Os alfabetos arcaicos

Os sinais alfabéticos apresentados acima são suficientes para o estudo de manuscritos e inscrições tardias. Ao lidarmos, porém, com textos e inscrições mais antigas, sobretudo papiros, blocos de pedra, túmulos e vasos de cerâmica, nos deparamos frequentemente com os diversos alfabetos locais usados pelas póleis gregas antes do fim do século -V.

A Fig. 0020 mostra alguns exemplos, comparados aos sinais do alfabeto grego “unificado” de -403:

0020
Fig. 0020. Alfabetos arcaicos, utilizados em inscrições.

Os eruditos costumam dividir esses alfabetos antigos em três grupos, chamados de “alfabetos verdes”, “alfabetos vermelhos” e “alfabetos azuis”, de acordo com a representação gráfica de determinados sons. Os mais antigos são os alfabetos verdes (Creta, Melos, Tera); depois, os azuis (dialetos orientais, v.g. Jônia, Corinto, Argos, Atenas) e, por último, os vermelhos (dialetos ocidentais, v.g. Eubeia, Esparta, Olímpia, Delos).

Os Sons

A pronúncia do grego antigo não é a mesma do grego moderno e sua reconstituição atualmente tem interesse somente para os especialistas. As informações seguintes são, não obstante, úteis para compreender melhor da poesia grega.

0021
acento agudo

A língua grega tinha acento de natureza musical e na sílaba acentuada o som se elevava um pouco (Fig. 0021, ao lado). Era diferente do acento das línguas modernas, de natureza tônica, em que a sílaba acentuada é pronunciada com mais força.

As vogais tinham quantidade, i.e., o tempo que se leva para pronunciá-las é diferente: as breves demoram uma unidade de tempo e longas, duas unidades de tempo. -η- e -ω- eram sempre longas, -ε- e -ο- sempre breves; as demais podiam ser longas ou breves. O α, por exemplo, podia ser longo ou breve:

  •   alfa longo = 2 tempos, e.g. amava (amaava);
  •   alfa breve = 1 tempo, e.g. lata (lata).

As sílabas com vogal longa eram consideradas longas e as outras, breves.

Os sinais diacríticos

acento agudo
acento grave
acento circunflexo
espírito doce
espírito rude
; sinal de interrogação
· sinal de pausa
¨ trema

Quando o idioma grego se difundiu para o Oriente logo depois das conquistas de Alexandre III, tornou-se necessária a adição de outros sinais para indicar aos não gregos a pronúncia das palavras, a divisão do texto em parágrafos e o ritmo da leitura. Esses sinais, ditos diacríticos, compreendem basicamente os acentos, os espíritos e os sinais de pontuação.

Os mais importantes estão no quadro à direita.

ἄ  ἣ  ῖ
vogais com
diacríticos

O espírito rude empresta às vogais e ao -ρ- um som rascante denominado aspiração; o espírito doce indica ausência de aspiração.

Os acentos marcavam as variações de tonalidade, como descrito há pouco.

Os sinais de pontuação tinham aproximadamente o mesmo valor que têm os sinais de pontuação utilizados nas línguas modernas e alguns, como o ponto final e a vírgula, tinham formato idêntico. O sinal de interrogação (;), porém, se parecia com o nosso ponto e vírgula e o sinal de pausa (·), ao nosso ponto e vírgula (;) ou ao dois-pontos.