O mecanismo de Anticitera

Fragmentos do mecanismo de AnticiteraFragmentos do mecanismo de Anticitera

Antigo dispositivo mecânico de bronze, utilizado pelos antigos gregos para calcular e mostrar dados astronômicos.

Em 1900, perto da ilha grega de Anticitera (Cíclades), um mergulhador à procura de esponjas, Elias Stadiatos, descobriu um navio naufragado entre -80 e -60 a cerca de 60 metros de profundidade. Nos anos seguintes, diversos objetos foram recuperados por arqueólogos e mergulhadores, e.g. a cabeça de um filósofo desconhecido (Fig. 0024, outras iluminuras), um efebo de bronze (Fig. 0985, idem) e 82 fragmentos de um objeto que ficou conhecido como “mecanismo de Anticitera” (Ilum. 0843).

O mecanismo parece ter sido concebido na área de influência cultural de Corinto (noroeste do Peloponeso e Siracusa) e talvez tenha sido baseado nos estudos do matemático, astrônomo e inventor Arquimedes de Siracusa (-287/-212). Em -54/-51 (Da República 1.21), Cícero relata que Marcelo trouxe do cerco de Siracusa, em -212, duas máquinas capazes de prever os movimentos do sol, da lua e dos cinco planetas conhecidos[1].

A despeito da fragmentação do aparelho, diversas reconstruções conjeturais foram efetuadas nas últimas décadas (Ilum. 0986) e temos já uma noção razoável de seu funcionamento.

Reconstrução e funções

Nesta sinopse, apresento resumidamente as informações mais recentes sobre a reconstrução do mecanismo e sua função, publicadas por Michael Wright e colaboradores desde 1997, e pelos cientistas do Antikythera Mechanism Research Project em 2006 e em 2008. Veja, nos links externos, um video no qual o próprio Michael Wright explica a reconstituição mais recente.

links externos

Trata-se de um complexo sistema de 37 rodas denteadas, ajustadas como rodas diferenciais, e três discos com inscrições em grego, 2.160 caracteres no total. O disco frontal tem duas escalas concêntricas; a externa marcava os dias do ano de 365 dias do calendário egípcio; um disco menor, interno, está dividido em graus e marca os signos do zodíaco. O primeiro disco tinha, possivelmente, três ponteiros que indicavam a data, a posição do Sol e a posição da Lua. Havia, ainda, um segundo mecanismo que mostrava, através de uma bolinha prateada, as fases da Lua. Supõe-se que havia um terceiro mecanismo, similar, para o Sol. Foram encontradas inscrições com o nome dos planetas Marte e Vênus (dois dos cinco planetas que os gregos e romanos conheciam) e outras que podem corresponder a certas estrelas; havia também, provavelmente, um mostrador para indicar a posição dos planetas e das estrelas.

Os dois discos posteriores, um superior e outro inferior, são constituídos por dois semi-círculos com dois centros, em forma de espiral. O de cima marca 235 meses do ciclo metônico de 19 anos, o que possibilita a construção de calendários. O disco de baixo mostra quatro ciclos de 19 anos, o que constitui o ciclo calípico de 76 anos, e registros da órbita da lua que podem ter sido usados, de acordo com o ciclo de Saros desenvolvido pelos caldeus[2], para a previsão de eclipses. A palavra “Olímpia” e o nome de outros festivais onde jogos atléticos eram disputados foram encontrados no disco do ciclo calípico.

O mecanismo parece ter sido planejado e construído para determinar posições astronômicas dos corpos celestes conhecidos pelos gregos — ele seria, portanto, uma espécie de planetário portátil. Quando uma data era introduzida por uma manivela, o mecanismo calculava a posição do Sol, da Lua e de alguns planetas e apresentava-as nos três mostradores. Aparentemente, era também possível prever eclipses.

Desde a época dos estudos pioneiros de Solla Prince (1959), iniciados em 1951, o mecanismo de Anticitera é considerado o mais antigo computador mecânico (ou analógico) do mundo.